Alfred Hitchcock é considerado um dos maiores diretores da história do cinema, mesmo após mais de quarenta anos do seu falecimento, em 1980, sendo responsável por grandes clássicos, como Festim Diabólico, Disque M Para Matar, Janela Indiscreta, Um Corpo Que Cai, e o instantâneo clássico Psicose. Esse último, lançado em 1960, é considerado o seu maior filme – aquele do Norman Bates, e da famosa cena do assassinato no chuveiro -, e com isso, o seu próximo filme seria o maior desafio: será que o mestre do suspense faria algo tão bom quanto Psicose? Ou seria esse o seu último grande filme? Temos então Os Pássaros, lançado em 1963, que conta a história de um inexplicável ataque de pássaros em Bodega Bay, no litoral da Califórnia. Um dos filmes mais diferentes da carreira de Hitchcock, The Birds, no original, não é somente um filme sobre um ataque de pássaros, e sim, quase que um estudo sobre os seres humanos em uma situação de perigo. A produção conta com um grande elenco, a maioria já falecido: Tippi Hedren, Rod Taylor, Jessica Tandy, Susanne Pleshette, e Veronica Cartwright.
Um dos pontos fortes da maioria dos filmes de Alfred Hitchcock está na leveza do seu roteiro antes dos acontecimentos fatais. E em The Birds, isso é bem explicito. Sem pressa alguma, o diretor apresenta os seus personagens, suas paixões, medos, e sentimentos, enquanto aos poucos vai introduzindo o grande vilão da trama: os pássaros. Conhecemos Melanie (Tippi Hedren), uma socialite de São Francisco que se apaixona pelo advogado Mitch Brenner (Rod Taylor), onde, ironicamente, se conheceram em uma loja de pássaros. Mitch mora em São Francisco, mas passa os fins de semana em Bodega Bay, no litoral, junto com sua irmã, Cathy (Veronica Cartwright), e sua mãe, Lydia (Jessica Tandy). Conhecemos também o antigo amor de Mitch, a professora Annie (Susanne Pleshette), que acaba se tornando amiga de Melanie, mas com um certo clima de rivalidade. Hitchcock trabalha muito bem nos diálogos, onde cada conversa, cada detalhe, e cada reação dos atores, tem alguma importância. E essa apresentação dos personagens serve como base para construir uma trama engenhosa e cheia de acontecimentos e mistérios.
Enquanto Hitchcock introduz os personagens, ele vai situando o espectador do perigo, com alguns ataques dos pássaros, e aparições estranhas. Com isso, a tensão vai crescendo, e o diretor vai preparando o público para o que estar por vir. Demora um pouco para o caos tomar conta de Bodega Bay – pouco mais de quarenta minutos -, mas quando acontece, o perigo é geral, e todo mundo está à mercê desses pássaros descontrolados. O diretor cria cenas icônicas, como o clássico ataque na única escola da pacata cidade, e a longa conversa, em um restaurante da cidade, sobre os motivos do misterioso ataque. Motivos, aliás, que até hoje continuam um mistério. E uma curiosidade: não há uma trilha sonora durante o filme todo. O diretor preferiu manter só os sons atordoantes dos pássaros quando atacavam, deixando tudo mais tenso, já que o barulho incomodava grande parte do público. Ainda, os cenários ao ar livre de Bodega Bay tornavam tudo ainda mais misterioso, principalmente por causa do tempo mais nublado, deixando a bela cidade mais assustadora.
O elenco é outro destaque à parte, talvez não tanto na época, mas agora bem mais, já que vários atores e atrizes acabaram se destacando mais após o filme. A maioria já faleceu, como Jessica Tandy, Susanne Pleshette, e Rod Taylor, entre outros coadjuvantes que marcaram a produção, mas duas atrizes do elenco principal estão vivas até hoje. A garotinha Cathy foi interpretada pela atriz Veronica Cartwright, que 16 anos depois, estrelaria ao lado de Sigourney Weaver outro grande clássico do cinema: Alien – O Oitavo Passageiro. Mas destaco aqui Tippi Hedren, a protagonista de Os Pássaros. A atriz, que na época tinha 33 anos, ainda era um pouco desconhecida, e tinha a difícil missão de ser uma nova Janeth Leigh, a Marion Crane de Psicose, filme anterior de Alfred Hitchcock. E ela se saiu muito bem. Assim como a maioria das personagens femininas do diretor, Melanie é independente e sempre à frente do seu tempo, ainda mais em uma época bastante conservadora, fazendo também relação com a pacata Bodega Bay, onde todos olham com estranheza a mulher com opinião própria e que sabe se cuidar sozinha, inclusive pilotar um barco. Jessica Tandy também está ótima como uma mãe viúva e controladora quando se trata dos relacionamentos do seu filho.
Mesmo sem os ataques dos pássaros nos primeiros quarenta minutos, a produção consegue prender a atenção do público com a história que vai se formando, antecedendo o caos que iria acontecer em Bodega Bay. Alfred Hitchcock conseguiu criar um suspense incrível ao mostrar, aos poucos, o grande vilão da trama – os pássaros -, indicando que algo misterioso está acontecendo. É aquela sensação assustadora que algo está errado e você não sabe o que é. Assistindo agora, os efeitos práticos dos pássaros atacando as pessoas parecem bem ultrapassados, se tornando até engraçadas, mas isso acaba sendo um charme da produção. No mais, Os Pássaros é um dos grandes clássicos do mestre do suspense Alfred Hitchcock, contando com uma trama envolvente, muito suspense, ótimo desenvolvimento dos personagens, e muitos ataques dos mais variados pássaros. O diretor conseguiu assustar o seu público mais uma vez.
OS PÁSSAROS (THE BIRDS)
Ano: 1963
Direção: Alfred Hitchcock
Elenco: Tippi Hedren, Rod Taylor, Jessica Tandy, Susanne Pleshette, e Veronica Cartwright
NOTA: 8,0
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