O primeiro Pânico foi lançado nos últimos dias do ano de 1996, chegando no Brasil um mês depois; a sequência, Pânico 2, estreou nos cinemas exatamente um ano depois, em dezembro de 1997, mas levou mais de um ano, chegando no finalzinho de 1998. Ambos foram sucessos de público e crítica, e estava muito claro que viria um terceiro filme aí, porém, sua estreia foi mais demorada ainda, chegando apenas em fevereiro de 2000, fato que prejudicou Pânico 3. Essa demora acabou dando uma esfriada no hype que a franquia estava conseguindo, resultando em uma bilheteria menor, e acabou sendo “a fruta estragada” da franquia, fato que eu discordo completamente.
Esse atraso teve alguns motivos. Entre eles, culminou com a saída do roteirista Kevin Williamson, que tinha uma ideia diferente da que o estúdio queria, rolando um conflito de ideias; no seu lugar, ficou Ehren Kruger, que na época estava em alta pelo filme O Suspeito da Rua Arlington. Roteiros atrasados, e que mudavam toda hora, problemas nos bastidores, e durante as filmagens; conflitos na agenda de Neve Campbell, resultando em menos cenas com a sua personagem, mas no fim, tudo deu certo, e Pânico 3 encerrava a trilogia criada por Wes Craven de uma forma que dividiu a opinião de muita gente.
Pânico 3 deixou um pouco de lado o suspense e o terror, dando mais ênfase na comédia e no humor, mas sempre mantendo os elementos dos filmes de slashers e a metalinguagem clássica da franquia. Vamos conhecer mais sobre o último capítulo da trilogia original da franquia de terror mais amada pelos fãs, e mais adiante, o retorno de Ghostface, onze anos depois, com Pânico 4.
PÂNICO 3 (SCREAM 3)
Ano: 2000
Direção: Wes Craven
Distribuidora: Dimension Films
Duração: 116 min
Elenco: Neve Campbell, David Arquette e Courtney Cox-Arquette, Parker Posey, Emily Mortmer, Jenny McKarty, Scott Foley, Patrick Dempsey e Lance Henrikssen
NOTA: 9,0
Disponível na
A trama de Pânico 3 troca o campus universitário do filme anterior para Los Angeles, na maravilhosa Hollywood. Em Pânico 2, vimos que os crimes em Woodsbooro ganharam uma adaptação nos cinemas, onde aqui, já está no terceiro filme, Stab 3 (A Punhalada 3), que está em pós-produção. Ghostface faz uma nova vítima, Cotton Weary (Liev Scheiber), que ficou famoso com o seu talkshow “100% Cotton”, e a produção do filme acaba prejudicada quando os atores começam a serem perseguidos e mortos. O mistério é que, a cada morte, o assassino deixa uma foto de Maureen Prescott, mãe de Sidney quando era mais nova.
Wes Craven e Ehren Kruger acertam em mostrar os bastidores de uma produção de um filme em Hollywood, e incluir parte da perseguição do ghostface nesses ambientes. A metalinguagem ainda continua presente, mas agora, fica mais amplo, com novos rumos, além de serem mais divertidos e interessantes. Novamente, temos um filme dentro do filme, que agora está no terceiro capítulo, formando uma trilogia (não é coincidência que estamos no terceiro capítulo), elemento que é muito mais explorado aqui. Tanto é que conhecemos os atores e produtores de Stab 3, e eles interagem durante o filme todo com o elenco de Pânico 3: Angelina Tyler (Emily Mortmer) interpreta Sidney, Jennifer Jolie (Parker Posey) é Gale Weathers, e Tom Prinze (Matt Keeslar) é o detetive Dewey. Ainda tem Sarah Darling (Jenny McKarty) uma atriz revoltada, e o diretor/roteirista Roman (Scott Foley). É interessante a interação dos atores do filme com os “personagens reais” de Pânico, gerando muitos alívios cômicos, e por isso, o tom mais de comédia do filme.
Pânico 3 tem bastante suspense, e todos os elementos dos filmes de slashers, estão ali: as mortes, o sangue, as perseguições - algumas muito boas, como a cena que Sidney encontra o set de filmagem que lembra a sua casa, e a de Billy, no primeiro Pânico, recriando momentos marcantes -. Mas a produção acabou se afastando um pouco do “terror adolescente”, marca constante nos filmes anteriores, trocando pelo cenário em Hollywood, mas que também ficou interessante, nos dando uma noção de como são os bastidores de um filme. Wes Craven faz uma brincadeira com o fato de o filme ser o capitulo final de uma trilogia, criando novas regras para sobreviver, além de ter três roteiros (pois são três filmes), mas ninguém sabe qual o assassino escolheu. Isso remete aos vazamentos dos filmes anteriores, onde nesse terceiro filme da franquia foram escritas três versões também.
Neve Campbell, David Arquette e Courtney Cox-Arquette, retornam para o capítulo final da franquia, além de uma participação especial de Jamie Kenedy, como Randy. Sidney se mostra mais preparada para enfrentar o assassino, ainda que passa metade da trama isolada, e ela ainda carrega aquele olhar alguém que passou por vários problemas, mas sem se apoiar no papel de vítima. A atriz está ainda mais conectada com a sua personagem. Dewey deixou de ser policial em Woodsbooro para virar consultor do filme Stab 3, que também é guarda costa de Jennifer (Parker Posey), e sua relação com Gale (Courtney Cox) acabou afundando. Agora, ela participa de um programa de TV, mas é chamada pelo detetive Mark Kincaid (Patrick Dempsey) para ajudá-lo na investigação dos assassinatos. Courtney e David, que haviam se conhecido no primeiro Pânico, e engatado um romance, se casaram durante as filmagens da franquia, onde ela usou o sobrenome Arquette, como aparece nos créditos. Na cena final, há uma singela homenagem a eles, quando Dewey pede para Gale autografar o seu famoso livro, “Os Crimes de Woodsbooro”, e ela encontra uma aliança. Infelizmente, o casal se separou em 2013, mas continuaram amigos.
Do elenco coadjuvante, a que mais se destaca é Parker Posey, que interpreta Jennifer Jolie, que por sua vez, é Gale Weathers nos filmes Stab, carismática, histérica, e muito engraçada, entregando cenas divertidas, principalmente quando atua ao lado de Courtney Cox. Emily Mortmer consegue captar toda a essência de Sidney, e em uma versão do roteiro, ela seria a segunda assassina. Já Matt Keeslar, que é Dewey no filme Stab 3, é o mais sem graça, desnecessário, e sem nenhum carisma, sendo só chato e arrogante. Outro destaque é Jenny McKarty, que interpreta Sarah Harding, a segunda vítima do ghostface, em uma das melhores cenas do filme. Ela critica o fato de fazer uma cena nua no chuveiro, e por aparecer somente duas vezes em cena, e a sua segunda aparição, é justamente para morrer, exatamente como acontece em Pânico 3. Fechando os destaques, tem ainda Scott Foley, que interpreta Roman, o diretor e roteirista dos filmes Stab, John Milton (Lance Henrikssen), o produtor de filmes de terror, com um passado duvidoso, e o detetive Kincaid, que acaba descobrindo ter uma queda por Sidney. Aliás, muitas vezes, ele é considerado suspeito de ser o assassino.
E tem também três participações especiais, não tão conhecidas pelo grande público, com exceção de Carrie Fisher, que cuida dos arquivos pessoais dos famosos, no estúdio. Na cena, Gale e Jennifer acham que ela é a princesa Lea, da franquia Star Wars (realmente ela é), mas o roteiro faz uma piadinha com essa relação, dizendo que ela não é a atriz. Os outros menos conhecidos são Roger Corman, produtor e diretor de filmes de terror de baixo orçamento, os chamados “Filmes B”, e Jay e Silent Bob, personagens fictícios interpretados por Jason Mewes e Kevin Smith, respectivamente, que interagem com Gale. A dupla ficou famosa no filme Dogma, de 1999, e mais tarde, estrelando vários filmes, como O Império do Besteirol Contra-Ataca, e as suas continuações.
Não consigo achar problemas consideráveis em Pânico 3, além de alguns erros de sequências, e o fato de o assassino usar um replicador de voz. Talvez, por ter mais humor, e ser mais engraçado, deixou os fãs receosos, já que afastou todo o suspense e a nostalgia dos dois primeiros filmes. Mas o capítulo final da trilogia conseguiu dosar o humor com o terror muito bem, divertindo o espectador, trazendo personagens carismáticos e bem desenvolvidos, e uma abordagem diferente. O ato final revelador é interessante e imprevisível, não pela revelação do assassino, e sim pelos seus motivos, mas não tem aquele impacto do primeiro, e é exatamente uma das regras que Randy diz: o passado virá para te assombrar. Na cena final, a porta da casa de Sidney abre sozinha, e ela decide não fechar. Ela está finalmente se sentindo livre, ou é um final em aberto que o ghostface irá retornar? Pode ser as duas coisas também.
CURIOSIDADE:
- O roteiro original, escrito por Kevin Williamson, tinha uma história completamente diferente. A trama voltaria a se passar em Woodsboro, e os assassinos seriam um fã clube de adolescentes, criado por causa dos filmes Stab.
_______________________________________________________________
PÂNICO 4 (SCREAM 4)
Ano: 2011
Direção: Wes Craven
Distribuidora: Dimension Films
Duração: 111 min
Elenco: Neve Campbell, David Arquette, e Courtney Cox, Emma Roberts, Rory Culckin, Hayden Pannetiere, e Adam Brody.
NOTA: 9,5
Disponível na
O ano era 2011, e se passavam quinze anos desde o primeiro capítulo da trilogia Pânico, um filme que inovou o gênero do terror e se tornou uma referência, e onze anos após a conclusão da saga de Sidney Prescott contra o ghostface. Os anos 90 eram bem diferentes, os jovens eram diferentes e não tinha toda a tecnologia atual, celulares e computadores de última geração, e revendo os filmes, imaginávamos como o assassino iria ‘ceifar” suas vítimas nos dias de hoje. Pois Wes Craven e Kevin Williamson decidiram que também gostariam de saber, e resolveram fazer Pânico 4, trazendo Neve Campbell, David Arquette, e Courtney Cox de volta à franquia, além de novos personagens e trazer a trama de volta para a tão conhecida cidade de Woodsboro.
Como de praxe, a produção de Pânico 4 já começou com problemas, onde, novamente, foi por conflitos com os produtores sobre os rumos do roteiro de Kevin Williamson. Para a nossa sorte, chegaram a um acordo dessa vez, e o roteirista teve mais liberdade criativa, fazendo um divertido, inovador e original capitulo de uma das franquias mais famosas da atualidade. Vamos dissecar o quarto capítulo da franquia?
Onze nos se passaram desde que Sidney Prescott deu um fim aos assassinatos do ghostface, em Pânico 3. Agora, ela escreveu um livro, “Saindo da Escuridão”, fazendo uma turnê onde a última parada é a sua cidade natal, Woodsboro. Para o azar dela, uma nova matança da início, sendo que agora, o alvo principal é a sua prima, Jill (Emma Roberts) e seu grupo de amigos, que realizam um evento anual onde fazem uma maratona com todos os sete filmes da franquia Stab (A Punhalada); sim, já está no sétimo filme.
Pânico 4 mostra que a franquia ainda tem muito folego para continuar inovando na sua abordagem, e se adaptando aos dias atuais. A produção continua usando a metalinguagem, agora, falando sobre continuações e refilmagens, já que a franquia Stab está no seu sétimo filme. As mortes são mais brutais, mais gráficas, e em um número maior de vítimas, tem mais sangue e mais perseguição, onde Craven e Williamson conseguiram dosar perfeitamente o suspense e o humor. Não tem aquele humor pastelão de Pânico 3, e o novo capítulo volta a usar ironias e respostas ácidas na sua linguagem.
Os tempos são outros, temos novas tecnologias, e os aplicativos estão em alta. A cabeça dos jovens mudou, estão mais abertos e criativos, usufruindo de tudo mais atual que existe. E Pânico 4 precisava se atualizar. As ligações do ghostface não são mais somente em telefones fixos, ainda que já utilizavam celulares na trilogia original, mas agora, temos mensagens de texto, gravações ao vivo, filmagens (é preciso filmar os assassinatos), chamadas de vídeo, e um aplicativo de celular que imita a voz do ghostface, não precisando mais usar o famoso aparelho. A mídia também mudou, a informação é compartilhada mais rápido, e as notícias fazem piadas com os assassinatos, o circo midiático foi levado ao pé da letra; “a tragedia de uma geração, é a piada da próxima”. O roteiro de Kevin Williamson pega tudo isso e cria situações inovadoras que jamais poderiam ser possíveis nos três primeiros filmes, dando um novo vigor na franquia, que já estava dando sinais de cansaço em Pânico 3.
Neve Campbell, David Arquette, e Courtney Cox, mais uma vez retornam aos seus papeis que marcaram sua carreira, e estão melhores do que nunca. Depois de três filmes, Sidney está mais forte, aceitando o seu destino de ser uma sobrevivente, uma “ceifadora”, já que todos ao seu redor acabam morrendo, menos ela. Sidney venceu seus medos, “saiu da escuridão”, e escreveu um livro, mas agora precisa revisitar o passado e enfrentar o ghostface. Dewey e Gale continuam juntos, mas morando em Woodsboro, onde ele se tornou o xerife da cidade, e Gale, a “primeira dama”, que se sente apagada querendo voltar para os dias de glória, e tentando escrever um outro livro.
Nova década, novas regras, e novos personagens. Woodsboro está maior, se tornou mais popular do que antes, e uma nova geração se criou com os crimes dos anos 90. Remetendo ao primeiro Pânico, os personagens acabam se repetindo: Jill (Emma Roberts) é a nova Sidney, Trevor (Nico Tortorella) é o atual/ex-namorado de Jill, o novo Billy Loomis; Robbie (Erik Knudsen) é o cinéfilo da vez, o novo Randy, junto com seu amigo, Charlie (Rory Culckin), um novo Stu (quem sabe?), e Kirby (Hayden Pannetiere) é a melhor amiga de Jill, igual a Tatum. Mas será que a história se repete? Robbie e Charlie criaram um grupo underground de filmes, um clube de cinema, onde fazem, anualmente, uma maratona com todos os sete filmes da franquia Stab. Isso lembrou alguma coisa? Não era o roteiro que Kevin Williamson tinha pensado para Pânico 3? Tem ainda no elenco, Mary Shelton, que interpreta a colega de Dewey, Judy, que parece ser apaixonada por ele, e os policiais Perkins (Anthony Anderson) e Hoss (Adam Brody), que protagonizam diálogos divertidos.
Dessa vez Sidney é a coadjuvante, ficando de lado nos assassinatos, até um certo momento. A metalinguagem é sobre continuações e refilmagens, como as cenas de abertura do filme, e o novo clichê é o inesperado. A famosa revelação dos assassinos, e seus motivos, são uma crítica sobre como pensam os jovens hoje em dia, e que tudo fica envolta das redes sociais. “Não quero ter amigos, quero ter fãs”. Pânico 4 consegue se reinventar, assim como o primeiro Pânico fez com os filmes de terror nos anos 90, ainda que tenha muitos exageros, e o humor ainda seja demais, mas diverte, assusta, é sanguinário, o assassino está mais violento e eficiente, tem suspense e as clássicas cenas de perseguição, tudo com o mais atual em tecnologia possível. Apesar do sucesso de crítica, e da aprovação dos fãs, Pânico 4 não vingou nas bilheterias, e o que seria um reinicio para a franquia, acabou sendo "ceifado", até agora.
Kommentare