Em 1993 estreava Jurassic Park, uma superprodução dirigida por Steven Spielberg que se tornou um dos maiores sucessos dos anos 90, mostrando dinossauros de uma forma jamais vista no cinema. Vencedor de 03 Oscar, o filme inovou os efeitos especiais, e é aclamada por todo mundo até hoje, rendendo uma trilogia original, e uma outra trilogia mais recente, intitulada de Jurassic World. Paralelo a toda essa tecnologia, existe um subgênero que foi muito famoso nos anos 90, e que também fazia sucesso, mas de outra forma: os filmes B, ou filmes trash, de baixo orçamento e efeitos bastante duvidosos.
Enquanto Jurassic Park fazia sucesso nos cinemas, uma outra produção fazia sucesso nas extintas vídeo locadoras: Carnossauro. O filme tinha o renomado produtor/diretor de filmes trash, Roger Corman, no comando, com centenas de filmes nesse estilo no seu currículo. Carnossauro tem uma história absurda, mas bem interessante, enquanto um dinossauro matava as pessoas de uma região deserta de um jeito bem violento, com muito sangue e cenas gore. Por incrível que pareça, Carnossauro rendeu uma trilogia e acabou se tornando um clássico cult do cinema trash, onde os filmes fizeram bastante sucesso na Band e no SBT. Provavelmente muita gente não sabe da existência dessa raridade, e as suas continuações, e então, decidi fazer esse especial com os três filmes dessa franquia que marcou o cinema trash, e que fez sucesso de uma forma bem diferente. Os três filmes estão completos no Youtube, e eu coloquei no final de cada texto. Pegue a pipoca, reúna os amigos, e venha se divertir.
ATENÇÃO: ESSE TEXTO PODE CONTER IMAGENS FORTES.
CARNOSSAURO (1993)
Na trama, muito doida por sinal, uma cientista bem fora da casinha, a Dra. Jane Tiptree (Diane Ladd), trabalha para uma instituição de pesquisa cientifica Eunice, que lida com manipulação genética, onde ela cria um vírus e infecta as galinhas. O problema é que, dessas galinhas, saem ovos de dinossauros que acabam se espalhando pela região. E se não bastasse, o tal vírus acaba infectando somente as mulheres, causando uma febre e fazendo com que elas “deem a luz a ovos de dinossauros” (???).
Primeiramente, é importante deixar bem claro, e reforçar, que Carnossauro é um filme trash, com efeitos precários e muito ruins, mas que vale a diversão em reunir seus amigos e rir dessa produção. Carnossauro é baseado (muito por cima) em um livro de Josh Brosnan, lançado nos anos 80, adaptado para um homônimo longa-metragem dirigido por Adam Simon, e produzido por Roger Corman, o mestre dos filmes trash (“terror B”). O roteiro é bem exagerado, mas bastante criativo, envolvendo manipulação genética, ovos de galinha e uma infecção por vírus, criada pela cientista louca dra. Tiptree (obcecada por dinossauros), que tem um sonho (??) de eliminar as mulheres da face da Terra, e como consequência a eliminação da raça humana para que esses animais pré-históricos dominassem o nosso planeta novamente. Não se deve levar esse filme á sério, por que ele não é, e nem faz questão de ser, até porque, é um filme trash, beirando ao ridículo, e é isso que mais diverte o espectador.
Carnossauro é uma produção de baixo orçamento, e muitas limitações. Sabendo disso, não espere efeitos especiais de primeira linha como os de Jurassic Park, mas pelo menos não tem aqueles efeitos ruins em CGI típicos dos anos 90. E lembrando, se na época esses efeitos práticos de Carnossauro já eram ruins, assistindo hoje, fica pior ainda, então, releve isso. Só existem dois tipos de dinossauros no filme, e foram as escolhas mais certas para integrarem o elenco: o Deinonico, um parente próximo do Velociraptor (eles são sempre confundidos), e o famoso Tiranossauro Rex. As criaturas foram feitas por bonecos de borracha em miniatura (o Deinonico), que ficavam maiores por causa do ângulo em que a câmera filmava os bichos e que se moviam através de um controle remoto; já o T-Rex foi feito um dinossauro de uns cinco metros, bem tosco por sinal, e que também teve o efeito prático da câmera pegando um ângulo que o deixava maior.
Diferente de Jurassic Park, Carnossauro é um filme de terror, um filme de monstros, e com isso, espere um monte de mortes grotescas e fortes, com muito sangue, carnificina, braços e pernas destroçados, sangue jorrando, e muita violência, elementos típicos do cinema trash; não é à toa que recebeu a classificação etária máxima. Um ponto positivo (claro que tem), é o clima de suspense e terror, tanto pelo cenário deserto da região, incluindo uma pequena cidade que mal aparece direito, quanto o laboratório de pesquisa EUNICE, comandando pela cientista doida, onde ela guarda um segredo muito bem escondido.
As atuações são exageradas, muito dramáticas, e clichês, piores do que os indicados ao Framboesa de Ouro, mas são típicas do gênero, e é isso que deixa o filme ainda mais divertido. O elenco é bastante desconhecido, e tinha como protagonistas Raphael Sbarge, que interpretava o guarda noturno Doc, e a “protetora ambiental” Ann Trush (Jennifer Runyon). Porém, um nome no elenco chamava a atenção, Diane Ladd, a cientista louca dra. Jane Tiptree. O nome dela não remete a ninguém conhecido, mas acontece que ela é mãe de Laura Dern, a dra. Ellie Sattler, de Jurassic Park. Claramente, a filha conseguiu estrelar uma produção com muito mais recursos, e muito melhor. A dra. Tiptree é responsável por homenagear (recriar) uma clássica cena do filme de Ridley Scott, Alien – O Oitavo Passageiro.
Carnossauro é uma produção que sabe muito bem as suas limitações, e não tem vergonha de mostrar isso. Os dinossauros até que são bem feitos - mas andando parecem bem toscos -, os efeitos são ruins, a trama é ruim, uma viagem total, mas o contexto é interessante, tem mortes violentas e com muito sangue, típicas dos filmes trash; um grande clássico do gênero. O roteiro também não faz muito sentido – mulheres “dão luz” a ovos de dinossauros, e logo morrem -, mas é um filme bem divertido de assistir, e mesmo com cenas fortes, muito suspense, e uma atmosfera assustadora, você vai dar um monte de risadas, e isso tudo é o maior charme da produção. Carnossauro é um filme muito ruim, mas que merece ser visto, ainda mais por ser uma produção do icônico Roger Corman.
CARNOSSAURO (CARNOSAUR)
Ano: 1993
Direção: Adam Simon
Distribuidora: New Horizon
Duração: 89 min
Elenco: Diane Ladd, Raphael Sbarge, Jennifer Runyon.
NOTA: 5,0
Não está disponível em nenhum serviço de streaming, mas está completo no YouTube.
TRAILER
FILME COMPLETO - DUBLADO (YOUTUBE)
CARNOSSAURO 2
O primeiro Carnossauro fez um certo sucesso, e apesar da precariedade da produção, acabou se tornando um clássico do horror trash, ganhando muitos fãs que curtem filmes nesse estilo. Eis então que temos o fatídico Carnossauro 2, com uma trama mais centrada, sem o apelo cientifico do anterior, e uns dinossauros pouco melhores, mas ainda bizarros. O longa acompanha uma equipe de resgate que é enviada para uma base nuclear no meio do deserto, para investigar o motivo dos seus donos terem perdido contato com a instalação. Ao chegarem lá, a equipe se depara com dinossauros que mataram todo mundo, e agora, eles precisam escapar da base antes de uma explosão nuclear destruir tudo.
Se você assistiu Aliens: O Resgate, filme de James Cameron lançado em 1986, você vai encontrar muitas semelhanças com a trama de Carnossauro 2. Mas vamos ser mais diretos: Carnossauro 2 é uma cópia descarada de Aliens. Dirigido por Louis Morneau, a produção é mais “pé no chão” do que o primeiro, com uma trama que foca mais na missão da equipe de resgate do que em toda a explicação cientifica de antes. Simplesmente os dinossauros estão nessa tal base nuclear (o filme explica o motivo), e os personagens precisam fugir de lá. Um dos pontos positivos é a ambientação do lugar, com corredores escuros e vazios, e uma sensação claustrofóbica de não conseguir sair dali, além do fato de ter dinossauros a espreita em qualquer canto, se tornando uma situação bem assustadora. A trilha sonora também ajuda a criar essa sensação, mais especificamente a dos créditos iniciais (que praticamente é a única), uma trilha melancólica e bem marcante. E ainda tem a clássica "Ride Of The Valkyries", de Richard Wagner, que foi tema de uma icônica cena de Apocalypse Now, do diretor Francis Ford Coppola: em Carnossauro 2, quando a equipe está chegando na base de helicóptero, o personagem de Rick Dean coloca essa música no toca fitas, uma referência (lê-se cópia) de uma cena do filme de Coppola.
Os dinossauros estão um pouco melhores do que o primeiro Carnossauro, mais feios (e assustadores), mas continuam com o mesmo efeito prático de antes. Os produtores reaproveitaram alguns animatrônicos do filme anterior e criaram outros também, além de ter um numero maior de dinossauros. E por ser um filme trash, misteriosamente os animais vão aparecer em tudo que é lugar, seja dentro de um helicóptero com a porta fechada, ou dentro da sala de controle, do nada, sem ninguém perceber. Não faz sentido nenhum, mas é isso que torna o filme ainda mais divertido. Já as mortes são pouco mais violentas do que o original – braços e cabeças arrancados, barrigas dilaceradas -, com muito sangue e cenas gore, bem trash e nojentas, onde destaco a forte sequencia do elevador, no final do filme.
E as cópias (digo, referências) de Carnossauro 2 com Aliens, de James Cameron? Temos sim, e muitas. Primeiro, o roteiro - uma equipe de resgate é enviada para descobrir o que aconteceu no local -, e ao invés dos xenomorfos (no filme de Cameron), aqui temos dinossauros. Depois, em Aliens, tem a garotinha que é a única sobrevivente do lugar, Newt (Carrie Henn), já em Carnossauro é o adolescente metido a esperto Jesse (Ryan Thomas Johnson). Em ambos os filmes, quando os personagens vão fugir, o helicóptero deles cai (por causa das criaturas). Há também uma explosão nuclear que destrói todo o local, a morte de dois personagens que remete a morte de Vasquez (Jenette Goldstein) e Gorman (William Hope), e a mais memorável, e descarada: o embate final entre um dos personagens, e o Tiranossauro Rex; que no caso de Aliens, é Ellen Ripley (Sigourney Weaver) com a rainha Alien. Mas toda a equipe de Carnossauro 2 sabia o que estava fazendo, tanto é que a maioria das críticas mencionavam isso, e a equipe de marketing botou até na capa do VHS: “Coloque Aliens e Jurassic Park em um liquidificador, e você terá Carnossauro 2”.
No fim, Carnossauro 2 acaba sendo bem melhor do que o primeiro, com uma trama mais coerente e menos fantasiosa, dinossauros melhores e mortes mais violentas no melhor estilo trash, além do fato de o filme todo se passar em apenas um local, não ficando aquela bagunça medonha que foi o primeiro. Pontos para a ambientação da base nuclear, claustrofóbica e assustadora, que provavelmente seria o último lugar que você queria estar. Carnossauro 2 também é divertido de assistir com seus dinossauros toscos e desengonçados, mas acaba se tornando mais assustador, e marcante. E um detalhe: para quem conhece o jogo de videogame "Dino Crisis", que é um "Resident Evil" com dinossauros, poderá pegar algumas referências: além da trama ser parecida e ter dinossauros, o personagem de Miguel A. Núñez Jr., que cuida da sala de controle (que tem uma morte bem inusitada), é uma referência a um personagem do jogo que tem a mesma função. Mas dessa vez a culpa não é de Louis Morneau, e sim da própria Capcom, já que o jogo foi lançado em 1999, e Carnossauro 2, quatro anos antes. Esse filme marcou muito a minha infância/ adolescência.
CARNOSSAURO 2 (CARNOSAUR 2)
Ano: 1995
Direção: Louis Morneau
Distribuidora: New Horizon
Duração: 82 min
Elenco: John Savage, Ryan Thomas Johnson, Cliff DeYoung, Rick Dean, Don Stroud, Arabella Holzbog, Miguel A. Nunez Jr.
NOTA: 7,0
Não está disponível em nenhum serviço de streaming, mas está completo no YouTube.
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CARNOSSAURO 3 | CRIATURAS DO TERROR | O MONSTRO DESTRUIDOR
Chegamos ao fim da franquia Carnossauro com esse horrendo terceiro filme, que no Brasil foi chamado de Criaturas do Terror, mas quando o passou na TV Record, há duas décadas, teve seu nome alterado para Carnossauro: O Monstro Destruidor; e só para constar, o título original é Carnosaur 3: Primal Species. A trama é bem genérica, e nada de tão diferente do que já vimos, apenas mudando o lugar da ação. Um grupo de terroristas sequestra um comboio do exército que está carregando o que eles acham ser urânio, mas na verdade são os temidos dinossauros sendo transportados. Esse grupo acaba sendo morto, e uma outra equipe de militares, mais treinados (que mentira!), são enviados para descobrir o que aconteceu, se deparando com os tais carnossauros. Junto deles, está uma cientista do governo que ordena que os soldados capturem alguns deles com vida.
Carnossauro 3, ou sei lá como você queira chamar, é o patinho feio da franquia, o mais chato e sem noção de todos. A trama se passa em dois locais distintos: o primeiro, um galpão onde a equipe de terroristas leva os dois caminhões sequestrados. Em um dos caminhões, estão os velociraptors, e no outro (de alguma forma bem espremida) está o Tiranossauro Rex, que acabam sendo “descongelados” e fogem para dentro do lugar. A segunda parte da ação se passa dentro de um navio (??), dando a entender que os dinossauros se esconderam lá. Mas sério, um T-Rex de 9 metros de altura saindo de dentro de um caminhão, sem derrubá-lo, e tão rápido assim, nem o filme mais trash seria tão cara de pau de fazer. Seguem-se as clássicas cenas de mortes dos soldados, com muito mais ação do que os dois Carnossauro anteriores (um ponto positivo), além dos dinossauros se moverem de uma forma diferente, mais ágil (outro ponto positivo), porém, continua daquele jeito clássico da franquia, precário e desengonçado. Um dos vários pontos negativos - talvez o pior - é a falta das mortes violentas, características das outras produções: tudo é sem graça, com muito pouco sangue, e cenas gore. Ainda na trama, vemos mais da atuação do governo americano em relação aos dinossauros e o que eles pretendem fazer com eles, além de mostrar que os repteis estão mais inteligentes, algo que Carnossauro 2 já havia mostrado um pouco.
Os personagens de Carnossauro 3, provavelmente, são os mais chatos de toda a franquia, sem carisma nenhum, parecendo um monte de crianças chatas e que fazem gracinhas; os dos outros filmes, eram mais sérios. Não tem ninguém que vale mencionar, nem mesmo o elenco feminino (pelo menos elas conseguem ser melhores do que os homens), mas vale destacar, mais por curiosidade, o ator Rick Dean: ele interpretou Monk, o personagem que colocou a música “Ride of the Valkyries” no toca fitas em Carossauro 2, mas nesse terceiro filme ele é outro personagem. Talvez seja o que mais se destaca, fazendo um monte de piadinhas. E um detalhe: o esquadrão militar de Carnossauro 3 é um dos mais incompetentes que o cinema já viu.
A batalha final contra o T-Rex? Temos. Mas dessa vez, acontece de uma forma bem diferente do que os dois filmes anteriores, que eram praticamente os mesmos. A luta dos personagens humanos com o temido T-Rex dentro do navio é bem interessante, mais dinâmica e ágil, e é um dos outros pontos fortes do filme. Não tem muito o que falar desse Carnossauro 3, só que ele é o pior da franquia, o mais sem graça, sem as mortes violentas e sanguinárias de antes, sem os elementos gore, e sem suspense e tensão que estavam presentes a toda hora, principalmente no segundo. Os personagens são chatos e ruins, e os dinossauros continuam toscos, e é tão sem graça que nem se torna divertido. Se você viu os outros dois, e não curtiu, nem tente assistir a esse terceiro. O auge da breguice é a explosão final do navio, e ainda bem que é no finalzinho. E sim, Carnossauro 3: O Monstro Destruidor, Criaturas do Terror, ou sei lá o que, deixa o final em aberto para uma continuação, que nunca teve. Porém, há mais um filme que faz parte desse "universo", Raptores, lançado em 2001.
CARNOSSAURO 3 (CARNOSAUR 3: PRIMAL SPECIES)
Ano: 1996
Direção: Jonathan Winfrey
Distribuidora: New Horizon
Duração: 81 min
Elenco: Scott Valentine, Rick Dean, Janett Gunn, Morgan Englund, Justina Vail.
NOTA: 4,0
Não está disponível em nenhum serviço de streaming, mas está completo no YouTube.