“É Assim Que Acaba” é a nova adaptação literária para os cinemas que promete fazer os fãs de romance/drama lotarem as salas de projeção do mundo inteiro. Baseado no “best-seller” de Colleen Hoover, lançado em 2016, “It Ends With Us”, no original, já nasceu em volta de várias polêmicas, a começar pelo assunto que a história aborda: a violência doméstica. Desde a escalação do elenco – os protagonistas interpretados Blake Lively e Justin Baldoni são mais velhos que os seus personagens -, passando pela divulgação do filme, como se a abordagem principal fosse o romance entre o casal, até a romantização da trama, e por fim, as diversas polêmicas nos bastidores das filmagens.
Polêmicas a parte, “É Assim Que Acaba” consegue ser fiel a obra de Colleen Hoover, mesmo que tenha cortados alguns momentos também importantes para a história, mas conseguiu captar toda a essência do livro em uma trama que envolve o espectador com o romance do casal Lilly Bloom (Blake Lively) e Ryle Kincaid (Justin Baldoni), além da sensibilidade de como o filme abordou temas bastante complexos. Na trama, Lilly decide recomeçar sua vida em Boston abrindo uma floricultura, que era o seu sonho desde pequena, quando acaba conhecendo Ryle, um neurocirurgião por quem acaba se apaixonando. Ambos acabam nutrindo um forte sentimento entre si, mas aos poucos, ela vai descobrindo o lado agressivo de seu novo amor, despertando alguns gatilhos da sua infância. E a situação complica ainda mais quando ela reencontra o primeiro amor da sua adolescência, Atlas Corrigan (Brandon Sklenar).
“É Assim Que Acaba” é muito mais do que uma história de romance, é um filme que nos ensina a ter coragem em fechar ciclos, a forma como os traumas da infância afetam a nossa vida adulta e como encaramos todos esses problemas – aqui, no caso, a violência doméstica contra a mulher -. A trama se passa no presente, mas mistura flashbacks de Lily quando era mais nova (interpretada por Isabela Ferrer), mostrando o relacionamento abusivo dos seus pais, e como ela conheceu o seu primeiro amor, Atlas (Alex Neustaedter na versão jovem). Ao escrever o roteiro, Christy Hall tentou ser o mais fiel possível a obra literária, mantendo os momentos mais importantes da história, assim como algumas falas e frases de impacto mais importantes, o que deixará os fãs bem animados. Uma diferença do livro é que o filme da mais ênfase no romance entre Lily e Ryle do que na questão da violência física e psicológica que a personagem sofre, mas toda essa parte é bem desenvolvida – mesmo não se aprofundando muito nisso -, onde Baldoni consegue retratar com bastante sensibilidade a questão da violência, sempre tentando não romantizar o personagem, ainda que consiga arrancar suspiros do espectador. O diretor, que também interpreta Ryle, não foca muito na violência, talvez para o filme não pegar uma classificação etária alta, mas acaba acertando nessa escolha, já que as cenas conseguem passar perfeitamente a complexidade do que está acontecendo para o espectador.
A escalação de Blake Lively para interpretar a protagonista Lily Bloom foi o maior acerto de “É Assim Que Acaba”, e é incrível como a atriz se destaca em filmes desse gênero. Blake dá brilho e vida para a personagem de um jeito contagiante, e se destaca, principalmente, quando ela passa pelo relacionamento abusivo, mostrando perfeitamente a complexidade da situação, e é através dos flashbacks que entendemos os gatilhos que a personagem acaba criando. Além de dirigir, Justin Baldoni também dá vida ao abusivo Ryle, criando um personagem complexo e muito charmoso, e desde o início já se percebe que ele tem problemas, além de ter uma química incrível com Blake Lively. Já Brandon Sklenar, que interpreta Atlas, a primeira paixão de Lily, aparece pouco, mas marca presença nos momentos mais importantes, principalmente os de apoio à personagem, e vale destacar o ator que o interpreta na adolescência, Alex Neustaedter, que consegue passar mais veracidade nas suas atitudes no presente.
“É Assim Que Acaba” não tem a intenção de se aprofundar na violência doméstica e nos relacionamentos abusivos, existem vários filmes que exploram exatamente esse tema, mas a forma como a produção aborda tudo isso já é o suficiente para causar um impacto, ainda mais por se tratar de uma obra literária que vendeu mais de 1 milhão de cópias somente no Brasil. É impossível adaptar toda uma obra em apenas um filme, mas a roteirista Christy Hall e o diretor/ator Justin Baldoni, conseguem manter toda a essência e os momentos mais importantes do livro, intercalando as cenas de romance – e os clichês típicos do gênero - com muita leveza e paixão, e os momentos mais tensos sem exagerar na violência, embalados com uma trilha sonora maravilhosa que vai de Taylor Swift, Lana Del Rey e até as canções melancólicas de Cigarrets After Sex. “É Assim Que Acaba” é emocionante e aborda a violência doméstica com uma sensibilidade incrível, envolvendo o espectador em uma narrativa sobre amor e violência, com um desfecho forte e inspirador mostrando que é possível romper ciclos abusivos e recomeçar uma vida nova, deixando o final em aberto para uma possível continuação. O livro pelo menos já temos, resta saber se a produção terá um bom resultado nas bilheterias, garantindo assim a adaptação do segundo livro, "É Assim Que Começa".
É ASSIM QUE ACABA (IT ENDS WITH US)
Ano: 2024
Direção: Justin Baldoni
Distribuidora: Sony Pictures
Duração: 130 min
Elenco: Blake Lively, Justin Baldoni, Brandon Sklenar, Jenny Slate
NOTA: 9,0