Nos anos 80 e 90 um subgênero estava em alta, o suspense erótico. Produções como Instinto Selvagem (1992), Atração Fatal (1987), De Olhos Bem Fechados (1999), entre outros, se tornaram cults, e faziam o maior sucesso, além de serem os preferidos para assistir em um encontro; sim, era muito comum. Dessa safra, um diretor ganhou destaque, Adrian Lyne, atualmente com 81 anos, que dirigiu Atração Fatal, e lhe rendeu uma indicação ao Oscar, 9 ½ Semanas de Amor (1986), Proposta Indecente (1993), Lolita (1997) e Infidelidade (2002). Exatos vinte anos depois de seu ultimo filme, o diretor retorna ao gênero com Águas Profundas, thriller que era para ser um suspense erótico, estrelado por Ben Affleck e Anna De Armas, baseado em um romance de 1957, escrito por Patricia Highsmith.
Sem muitos spoilers, a trama mostra o casal Victor (Ben Affleck) e Melinda (Anna de Armas), que tem uma relação inusitada, onde ela trai o marido, mesmo ele sabendo. A situação começa se complicar quando alguns dos amantes de Melinda são assassinados.
Águas Profundas tem uma premissa muito interessante, e a ideia de trazer de volta os suspenses eróticos é válida, já que esse subgênero praticamente sumiu. O problema é que o filme fica estagnado nas mesmas situações grande parte do filme, não se desenvolve bem, além de ser um pouco parado, mas não menos interessante. Adrian Lyne consegue chamar a atenção do público com sua trama bastante singular, e nos instiga a desvendar os mistérios que envolvem a relação do casal, e os acontecimentos: será que Victor realmente é o assassino dos amantes de sua esposa? Outro fato é que o roteiro não dá muita explicação do porquê a relação deles é assim, e por que Melinda se exibe com seus amantes na frente de todo mundo; aparentemente, eles são amigos. Lyne ainda meio que critica a vida das famílias de classe alta, que tem tudo, em relação aos bens materiais, mas tem uma vida pessoal rasa, além de abordar o machismo na relação, ainda que algumas vezes pareça ser um fetiche (bem estranho), já que eles ficam se provocando um ao outro, como se fosse um jogo sensual.
A relação dos personagens de Ben Affleck e Anna de Armas é bastante superficial, e vazia, e isso acaba transparecendo em suas atuações. A química entre eles é quase que nula, mas essa é a relação deles, em vários momentos, e conseguem convencer a gente. A atriz entrega uma personagem bastante sensual, de personalidade forte, extrovertida, sabendo o que quer, e se impondo ao que seu marido diz, e faz. É curioso do porquê a ânsia de Melinda em encontrar “amigos sexuais”, e ficar expondo para Victor e seus amigos - o roteiro não dá muitos motivos para isso, mas deixa subintendido. Já Vic, interpretado por Ben Affleck, está totalmente apático o filme todo, com um jeito de psicopata, e ambíguo, com decisões duvidosas que o deixa mais suspeito ainda, e não entendemos seus motivos em aceitar ser “traído” pela sua esposa. A explicação é o amor, mas até que ponto isso se torna saudável?
Águas Profundas tem uma trama bem intrigante, e o retorno de Adrian Lyne ao subgênero parecia ser promissor, mas o diretor acaba trazendo uma história que não soube ousar, onde tudo parece estar sempre na mesma situação; e de erótico, não tem quase nada. Há momentos bons e inusitados, e a relação apática, e curiosa, do casal, nos deixa instigados em saber até que ponto pode chegar, mas sem muita explicação. O desfecho deixa tudo ainda mais em aberto e tem decisões questionáveis, algo como Garota Exemplar, mas funciona como um bom filme de mistério e, apesar das pouquíssimas cenas de sexo, há bastante sensualidade, exatamente a proposta de um suspense erótico. Poderia ter sido melhor, mas já está valendo.
ÁGUAS PROFUNDAS (DEEP WATER)
Ano: 2022
Direção: Adrian Lyne
Elenco: Ben Affleck, Anna De Armas, Jacob Elordi, Finn Wittrock e Tracy Letts.
NOTA: 7,5
Disponível na AMAZON PRIME VIDEO.
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