CRÍTICA | UMA LINDA MULHER

Uma Linda Mulher é um clássico indiscutível, e pronto. A história da jovem Vivian, interpretada por Julia Roberts, uma garota de programa que conhece o empresário Edward Lewis (Richard Gere), encantou o mundo inteiro com a sua simplicidade, além de ter sido indicado ao Oscar e ao Globo de Ouro; é um verdadeiro conto de fadas contemporâneo – e ainda consegue ser -. No início dos anos 60, Audrey Hepburn viveu esse sonho em outro clássico daquela época, Bonequinha de Luxo, que tinha uma trama parecida. Dirigido por Garry Marshall, especialista em comédias românticas, Uma Linda Mulher trouxe de volta o gênero que já estava esquecido, embalado com uma trilha sonora marcante – “Oh Pretty Woman – Roy Orbinson” e “It Must Have Been Love – Roxette” -, personagens incríveis e cenas marcantes que seriam repetidas em filmes e até novelas. Na trama, a prostituta Vivian (Julia Roberts) conhece o empresário multibilionário Edward (Richard Gere), que acaba ficando encantando o jeito da jovem, e a convida para ser sua acompanhante em eventos sociais durante a sua estadia em Los Angeles. Laura San Giacomo, Héctor Elizondo e Jason Alexander também estão no elenco.

Uma Linda Mulher é um filme leve e divertido, um romance tipicamente de “Cinderela”, onde tudo acontece com a maior naturalidade graças ao incrível elenco e o roteiro com seus diálogos inesquecíveis, criando situações icônicas. Quem não lembra da clássica sequência em que Vivian está andando pelas ruas de Los Angeles com várias sacolas ao som de “Pretty Woman”, ou quando a personagem volta na loja onde foi humilhada por “não pertencer àquele lugar”, e mostra para as atendentes as suas compras, situação recriada em inúmeros filmes e até em novelas. Garry Marshall faz um filme com muitas camadas. O roteiro trouxe um tema que ainda era um tabu na época, a prostituição, principalmente para um gênero onde tudo precisava ser “muito bonitinho”, além do preconceito da sociedade, retratados pelos olhares das pessoas ao verem uma figura exuberante como Vivian andando em lugares mais recatados. Outro ponto é aquele velho ditado, e que cai muito bem aqui: os opostos se atraem. Vivian e Edward são completamente diferentes, mas ambos buscam um rumo novo para suas vidas, e acabam se completando, e isso é a magia do filme. É clichê? Sim, e pasmem: existem muitos outros clichês típicos de comédias românticas. Mas e daí? Estamos falando de um dos filmes mais marcantes dos anos 90.

Antes de Uma Linda Mulher se tornar um dos maiores clássicos do cinema, a produção passou por significativas mudanças, desde a escalação do elenco, até mudanças no roteiro – inicialmente, “Pretty Woman” não seria uma comédia romântica, e o título original deveria ser “3 Mil Dólares”, se referindo a quantia que Vivian receberia para passar uma semana com Edward -. Karen Allen, Meg Ryan, e Michelle Pfeiffer foram os primeiros nomes para interpretar a garota de programa Vivian, e ninguém menos que Al Pacino e Christopher Reeve fizeram os testes para viver o empresário Edward. E acredita que por muito pouco que o filme não teria Richard Gere no elenco? Acontece que o ator não havia gostado muito do roteiro, e os produtores ficaram impressionados com a química entre o ator e Julia Roberts. E quem salvou a produção foi a própria atriz, mandando um bilhete para ele aceitar o papel.

O fato é que Uma Linda Mulher não seria a mesma coisa se não tivesse Richard Gere e Julia Roberts no elenco. A sintonia entre os dois astros é envolvente a ponto de combinarem perfeitamente, mesmo sendo totalmente diferentes um do outro – com exceção de um detalhe -. A naturalidade quando Vivian precisa aprender a se comportar como uma “dama” é incrível, rendendo situações hilárias (a do jantar de ostras), além de torná-la uma personagem sensível e que sonha em ter uma vida melhor. Julia Roberts dá brilho e essência para a personagem, cativando o público com a sua simplicidade e carisma em continuar sendo a mesma mulher que sempre foi. Richard Gere faz um Edward mais contido, focado muito no seu trabalho, mas que acaba se soltando aos poucos com a ajuda de Vivian, se desconstruindo daquele personagem que só pensa em trabalho. E à medida que o roteiro avança, o amor e carinho que um sente pelo outro vai aumentando (muito clichê), surgindo um relacionamento de "contrato" inusitado entre uma garota de programa e um empresário bilionário. Entre os coadjuvantes, vale destacar o personagem de Hector Elizondo, que interpreta o gerente do hotel onde Edward está hospedado, criando um personagem maravilhoso que acaba se tornando um tipo de “fada madrinha” para a personagem de Julia Roberts, sendo cordial e prestativo com ela. Um amor de pessoa.

O desfecho de Uma Linda Mulher mostra que os contos de fadas realmente podem dar certo, além de ser totalmente previsível, mas provavelmente ninguém queria que o final fosse diferente. Anos se passam, e o filme de Garry Marshall – que faleceu em 2016 -, continua sendo um clássico imbatível e referência no gênero, tanto quanto Bonequinha de Luxo foi lá nos anos 60. É uma produção simples, divertida, com personagens marcantes, uma química palpável entre Julia Roberts e Richard Gere, e que faz o espectador entrar de corpo e alma na trama e se envolver com essa magica história de amor. Embalado com uma trilha sonora maravilhosa, cenários incríveis da cidade de Los Angeles dos anos 90, e criando cenas que entraram para a história do cinema, Uma Linda Mulher é um clássico indiscutível que merece ser revisitado de tempos em tempos. A produção foi responsável por lançar Julia Roberts ao estrelato (até indicada ao Oscar ela foi, e acabou ganhando o Globo de Ouro de melhor Atriz), e por reerguer a carreira de Richard Gere em Hollywood, além de ter faturado mais de U$ 463 milhões nas bilheterias, a terceira maior de 1990.