O gênero catástrofe é um dos mais populares e que mais arrastam multidões no cinema – pelo menos era assim até a era da Marvel -, teve início lá nos anos 70, e ao longo do tempo surgiram os mais variados tipos de filmes: forças da natureza, mudanças climáticas, asteroides/cometas, além de desastres em navios, prédios e aviões (esses três últimos foram as primeiras produções do gênero – Aeroporto, Poseidon, Inferno na Torre). Os filmes catástrofes ficaram bem populares nos anos 90 (Armageddon, Impacto Profundo, Inferno de Dante, Volcano A Fúria, Titanic, Independence Day, entre outros), e no meio disso tudo, um filme sobre tornados se destacou: Twister, lançado em 1996, época em que a região de Oklahoma, nos EUA, estava cada vez mais sendo atingida por esses fenômenos assustadores.
Na direção estava nada menos que Jan De Bont em seu segundo filme – o primeiro foi Velocidade Máxima, de 1994 -, e tinha ainda Steven Spielberg na produção, e Michael Crichton no roteiro, e o resultado: foram U$495 milhões arrecadados, a segunda maior bilheteria de 1996, e duas indicações ao Oscar (melhor Efeitos Visuais e Som). Twister é um ótimo filme de ação, com muita tensão e situações impressionantes, mas tem um mal desenvolvimento dramático dos personagens. O elenco é de peso: Bill Paxton Helen Hunt, Philip Seymour Hoffman, Jami Gertz, Cary Elwes, Todd Field, Alan Ruck e Lois Smith.
Geralmente, os filmes catástrofes não tem um roteiro bem desenvolvido (olá, Roland Emmerich), é repleto de clichês dramáticos e situações previsíveis, porque o que interessa são as cenas de ação e os efeitos especiais. Em Twister, acontece parecido. Na trama, uma equipe de caçadores de tornados está pronta para testar o seu novo experimento: pequenos sensores que devem ser lançados no tornado para conseguirem dados suficientes e melhorarem o alerta de tempestades dos EUA. A meteorologia local avisa que uma rara formação de tempestades irá assolar a região, gerando vários tornados, iniciando uma jornada de 24h atrás desses fenômenos da natureza.
O roteiro foi escrito por Michael Crichton e Anne-Marie Martin, e além de explicações científicas, tem um “triangulo amoroso” que era para ser engraçado, mas acaba ficando “dramaticamente chato”. No meio dessa trama de caça aos tornados, Bill (Paxton) está indo buscar os papeis do divórcio com sua ex-esposa, Jo (Helen Hunt), e se não bastasse, está levando junto sua atual noiva, Melissa (Jami Gertz). Não é uma catástrofe total, e gera momentos divertidos – principalmente quando envolve Melissa -, mas fica bizarro Bill e Jo discutindo relação no meio de uma perseguição do tornado. Mas como disse, pouco importa isso tudo e é possível relevar e dar risadas, pelo menos. Para compensar um pouco esse dramalhão, o roteiro tem uma parte cientifica bem interessante e que dá uma explicação de tudo o que está acontecendo, fazendo com que o espectador entre na proposta do filme e não fique perdido no meio da tempestade.
Em Velocidade Máxima, Jan De Bont mostrou que domina bem as cenas de ação, e sabe criar momentos angustiantes com maestria. E em Twister, ele consegue de novo. Os momentos de tensão e suspense, que são vários, vão sendo cuidadosamente construídos para que tudo se exploda, assim como os tornados, que surgem do nada. O diretor não dá muita trégua para o público, e nem para os caçadores de tornados: com exceção da sequência de abertura, Twister começa na calmaria, apresentando a trama e explicando o que está por vir. Logo depois, os tornados aparecem um atrás do outro quase que interruptamente, e segue assim até o último tornado; e são quase 2h de duração.
Os efeitos especiais também estão incríveis e não fazem feio se comparados com os de hoje, criando eletrizantes sequências de ação e deixando o melhor para o final, quando um F5, o tornado mais forte na escala, toca o chão – toda essa sequência final é estrondosa -. Tem momentos absurdos, como uma vaca voando de um lado para o outro (um clássico do cinema), e duas proezas incríveis: em uma cena que um F4 chega de surpresa os carros ainda continuaram intactos, e em vários outros momentos, Jo e Bill conseguem não serem arrastados pelo tornado, mesmo estando a poucos metros de um. Mas são situações que relevamos, e acabam se tornando um charme até.
Bill Paxton e Helen Hunt funcionam juntos, e fica obvio que seus personagens formam um casal melhor do que Bill e Melissa (Jami Gertz). Além de discutirem relação no meio dos tornados, Jo passou por um trauma na infância, motivo esse que a levou a se tornar uma caçadora de tornados. Gertz é a histérica terapeuta sexual Melissa, e não precisa nem mais de cinco minutos em cena para provar que sua personagem não serve para essa situação, e ela é tão irritante e chata que até diverte o público, um alívio cômico. Depois de todo esse sufoco no meio dos tornados, acho que é ela que vai precisar de terapia.
A equipe de Jo é um dos acertos de Twister, a sintonia divertida entre eles é incrível, o carinho que eles têm uns pelos outros, e a amizade de longo tempo é muito legal de se assistir. Os destaques aqui são o enérgico Dusty, (Philip Seymour Hoffman), que faleceu em 2014, e Rabitt (Alan Ruck), o amigo de Ferris Bueller em Curtindo a Vida Adoidado, e que também esteve em Velocidade Máxima como o passageiro turista. O antagonista fica por conta de Cary Elwes e seu Jonas Miller, antigo colega de Bill, agora rival, e é eficiente em criar uma antipatia com o público. E por fim, ainda tem a carismática tia Meg, interpretada pela quase centenária Lois Smith, que participa de uma cena importante e marcante.
A produção de Twister passou por vários problemas e momentos tensos. O diretor Jan De Bont era bem explosivo, dava patadas em várias pessoas, rendendo até brigas. Além disso, o roteiro foi reescrito durante as filmagens, e vários membros da produção acabaram saindo da equipe no meio das filmagens. E por fim, Helen Hunt e Bill Paxton se machucaram diversas vezes durante as filmagens. Mas no fim, tudo deu certo, e Twister se tornou um sucesso de bilheteria, teve críticas mistas, e é lembrado até hoje como um dos melhores filmes catástrofes dos anos 90.
Divertido e repleto de ação, Twister tem seus problemas no roteiro – principalmente em relação ao triangulo amoroso -, e apesar das cenas absurdas que é possível relevar, é um eficiente filme de ação mostrando um lado da natureza que só os americanos conhecem, e passam por esses problemas a cada ano. Os melhores momentos são as sequencias dos tornados F4 e F5, que mostram o real motivo para terem produzido esse filme. Um clássico da sessão da tarde que não envelhece nunca, e que terá um novo filme. Sim, já foi confirmado outro filme, chamado temporariamente de “Twisters”, com previsão de estreia para 2024, e terá como protagonista a atriz Daisy Edgar-Jones, que em 2023 estrelou o romance Um Lugar Bem Longe Daqui, e o terror “Fresh”, sobre canibalismo. Será que o novo filme terá ligações com o original?
TWISTER
Ano: 1996
Direção: Jan De Bont
Distribuidora: Universal Pictures
Duração: 113 minutos
Elenco: Bill Paxton Helen Hunt, Philip Seymour Hoffman, Jami Gertz, Cary Elwes, Todd Field, Alan Ruck e Lois Smith
NOTA: 9,5
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