O primeiro filme solo do herói da DC, Flash, passou por vários problemas durante a sua produção. Houve uma constante troca de diretores, roteiristas, e enfrentou a pandemia na pré-produção (apesar de as filmagens terem começado em 2021). Na edição, sofreu várias alterações que é possível perceber durante a trama, além das polêmicas que Erza Miller, o ator que interpreta o herói, se meteu – até preso algumas vezes ele foi -. As expectativas para o lançamento ficaram altíssimas, o medo do filme fracassar era real, ainda mais pelos problemas causados por Miller, e se não bastasse, The Flash faz sua estreia solo nos cinemas no meio das mudanças da DC, - a entrada de James Gunn no estúdio, e o fim da "era Snyder", iniciada em 2013 com O Homem de Aço -.
O terreno principal da produção é o multiverso, a primeira tentativa da DC em explorar os milhares de universos alternativos, algo que a sua concorrente, Marvel, já fez algumas vezes – “Homem Aranha: Sem Volta Para Casa”, a animação Homem Aranha no Aranhaverso", e Doutor Estranho No Multiverso da Loucura -. Com várias participações especiais, muito “fanservice”, e referências a cultura pop, a trama de The Flash aposta no drama familiar do herói, mostrando Barry (Erza Miller) voltando ao passado para evitar o assassinato de sua mãe. Porém, ele acaba alterando toda a linha do tempo, e vai parar em uma outra realidade. Junto com sua versão alternativa, e a de um outro Batman (Michael Keaton), ele precisa encontrar uma maneira de consertar o seu erro. Ben Affleck, Sasha Calle, Ron Livingston, Michael Shannon, Maribel Verdú, e Gal Gadot completam o elenco.
A DC finalmente entendeu que precisava expandir o seu universo compartilhado, e The Flash é o “Homem Aranha – Sem Volta para Casa” do estúdio, explorando versões alternativas de personagens, muita confusão, e apesar da proposta ser grandiosa – o fato de explorar o multiverso -, tudo é bem simples e Andy Muschietti consegue desenvolver a história e o personagem muito bem. Para introduzir esse novo multiverso, a trama decide voltar ao passado de Barry Allen, e a irresponsabilidade do jovem herói bagunça todos os universos que existem. Com isso, temos várias versões do Batman, Superman, dos outros integrantes da Liga da Justiça, e dele mesmo. The Flash diverte, tem piadas e humor na medida certa, principalmente na interação entre as duas versões de Barry, e é onde o filme todo se sustenta. Há também muito “fanservice”, referências a outros filmes, como De Volta Para o Futuro – no universo alternativo não é Michael J. Fox que interpreta Marty McFly -, e participações especiais incríveis em ambos os universos em que a trama se passa. A DC conseguiu fazer o seu maior filme.
The Flash talvez peque nos efeitos especiais, como a inusitada sequência inicial dos bebês, com alguns efeitos em CGI bem ruizinhos, e o ato final no deserto, que achei que seria mais grandioso – mas a parte do final que se passa na cronosfera é incrível e cheio de referências nostálgicas ao universo da DC Comics -. Há também alguns problemas menores na edição, graças as intensas alterações que o filme passou, além de que alguns conflitos são resolvidos facilmente, mas nada o suficiente para estragar o resultado final. O filme do velocista da DC é levemente inspirado na HQ Ponto de Ignição (Flashpoint), mas os roteiristas decidiram seguir por um outro caminho: focar mais no drama de Barry Allen do que na realidade alternativa que ele criou.
Barry Allen/ Flash descobre que consegue acessar a “cronosfera” e alterar a linha do tempo, mas parece que ele não assistiu a trilogia De Volta Para o Futuro, ou que deu ouvidos ao Bruce Wayne de Ben Affleck. Ao fazer isso, muitos eventos são alterados e versões alternativas dos heróis surgem: tem um novo Batman (Michael Keaton), uma Supergirl (Sasha Calle), os dois Barry Allen, e a trama se desenrola nessa confusão toda. O problema aqui é que, quando algo de ruim acontece com alguns personagens – salvo os dois Barry Allen -, não sentimos tanto o quanto era para ser. Nos filmes da Marvel, quando algo assim acontecia com algum personagem, o impacto era maior porque eles já vinham sido desenvolvidos em outros filmes. Não que em The Flash eles não tenham um bom desenvolvimento, pelo contrário, mas acontece que muitos foram recém apresentados para o grande público.
Mesmo com as polêmicas que se envolveu, Erza Miller é um ótimo ator e ele brilha ao interpretar Barry/ Flash nas duas versões, e ainda tem a seu favor o fato de o roteiro dar mais ênfase na sua história. Miller da um carisma incrível ao herói com o seu jeito todo tímido e desengonçado, além do peso que carrega por causa da morte de sua mãe, ganhando o público fácil. A interação com o seu Barry alternativo é o ponto alto de The Flash, rendendo cenas divertidas com muito humor, implicâncias – como se fossem irmãos -, além de que eles são bem diferentes um do outro: enquanto o “Barry normal” é mais maduro e teve um passado trágico, e isso moldou a sua personalidade, o “Barry alternativo” é mais irritante, fica empolgado com tudo o que está acontecendo, e ainda teve a sorte de crescer com seus pais. E ambos têm um grande amadurecimento graças ao foco que os roteiristas dão ao enredo dos dois heróis.
Michael Keaton é o Batman no universo alternativo e é a grande surpresa de The Flash, retornando ao seu icônico papel do herói das duas primeiras produções dirigidas por Tim Burton, de 1989 e 1992. Para quem assistiu esses dois filmes a nostalgia é grande, tem várias referências aos seus filmes, sua participação é importante para a trama, e o ator continua tão bom quanto antes. A sua explicação sobre o multiverso com massa e molho é sensacional. A mesma coisa não pode ser dita em relação a Supergirl, interpretada por Sasha Calle. Ao invés do Superman, nesse universo alternativo é a prima de Kal-El que defende a Terra. A atriz se sai bem na estreia da personagem, faz uma kriptoniana mais séria, forte, desconfiada com todo mundo pelos traumas que passou, e é bem diferente de seu primo, mas o roteiro desenvolve muito pouco ela. Um a pena, porque Sasha, e sua personagem, tinham um grande potencial para ir longe. E ainda tem o retorno de Zord (que havia aparecido em O Homem de Aço), e como o próprio ator que interpreta o vilão, Michael Shannon, disse, qualquer outro vilão poderia estar no seu lugar que não faria muita diferença nenhuma.
The Flash está muito longe de ser ruim. Tem sim os seus problemas – assim como a maioria dos filmes da DC -, e a maioria passam despercebidos, mas é divertido, principalmente na interação entre os dois Barry, tem várias referências à cultura pop e os famosos “eastereggs”. Também tem intensas sequências de ação, o desfecho na “cronosfera” é ótimo e cheio de fanservice, tem a aparição do Batman de Michael Keaton, e uma cena bem emocionante no finalzinho capaz de tirar lágrimas do espectador mais sensível. E realmente, é uma bela cena. The Flash é um dos maiores filmes do universo da DC. Fique atento para a revelação surpresa bem na hora que o filme acaba, e sim, tem uma cena pós-crédito bem no final, nada de tão relevante para o futuro da DC.
THE FLASH
Ano: 2023
Direção: Andy Muschietti
Distribuidora: Warner Bros./ DC
Duração: 144 min
Elenco: Ezra Miller, Michael Keaton, Ben Affleck, Sasha Calle, Ron Livingston, Michael Shannon, Maribel Verdú, e Gal Gadot
NOTA: 9,0
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