O diretor M. Night Shyamalan fez sua estreia nos cinemas de uma forma memorável, lá no final dos anos 90, com o surpreendente O Sexto Sentido. Com uma reviravolta surpreendente no final, marca recorrente em seus filmes, a produção se tornou um grande sucesso de público e crítica, sendo até indicado ao Oscar. Após esse fenômeno, a carreira do diretor teve seus altos (Corpo Fechado, Sinais e A Vila) e baixos (A Dama na Água, Fim dos Tempos e O Último Mestre do Ar), onde o diretor meio que se afastou do gênero que o fez emergir em Hollywood. Nos últimos anos, o diretor teve seu retorno triunfal com A Visita e Fragmentado, onde esse último, fez ligação com um de seus mais memoráveis filmes, Corpo Fechado, de 2000. Em 2019, fechando com chave de ouro, veio Vidro, trazendo Bruce Willis e Samuel L. Jackson de volta aos seus personagens do filme de 2000.
Dois anos depois, M. Night Shyamalan lança Tempo, suspense estrelado por Gael Garcia Bernal, Vicky Krieps, Rufus Sewell, Alex Wolff e Abbey Lee, adaptação de uma “graphic novel” de Pierre-Oscar Lévy e Frederick Peeters, sobre um grupo de pessoas que vão até uma “praia secreta”, mas acabam descobrindo que o tempo passa rápido demais, e eles envelhecem em questão de horas. Será que a nova produção do diretor faz jus aos filmes de sua carreira?
Tempo é um daqueles filmes onde, grande parte da história, se passa em apenas um lugar, no caso, a tal praia misteriosa. Não demora muito para o grande mistério começar, e os personagens vão envelhecendo aos poucos à medida que a trama se desenvolve. A tensão é constante, o desespero toma conta dos personagens, e o mistério está presente durante o filme todo, tudo é inexplicável e não tem muita lógica. Shyamalan faz um filme criativo e interessante, que prende a nossa atenção, e nos faz criar teorias para esse mistério. Quem conhece os filmes do diretor, sabe que o segredo está bem em frente aos nossos olhos, e ele dá dicas sobre o que está acontecendo em vários momentos. Mas claro, a “cartada de mestre” só é revelada no final, mas se você prestar atenção, descobrirá essa “dica” rapidamente.
Como de costume em seus filmes, Shyamalan aborda o drama familiar, que geralmente é usado como a “jogada triunfal” para o seu final revelador. Mas em Tempo, o diretor antecede isso, já que muitos problemas dos personagens têm ligação com o mistério do filme. E pelo fato de o tempo ser o elemento principal da trama, o tema é abordado com muita sensibilidade, afinal, os personagens estão envelhecendo rápido demais, e muitos vão morrer ali na praia mesmo. Esses momentos bonitos servem como um alívio para os momentos de tensão e horror.
Tempo tem um monte de personagens, alguns são poucos explorados, onde são mostrados apenas o básico dos seus dramas. A família principal é composta por Guy (Bernal), Prisca (Krieps), e os seus dois filhos pequenos Maddox, (Alexa Swinton) e Trend (Nolan River), os que mais tem um bom desenvolvimento na trama; são deles os momentos mais bonitos e tristes. Também estão trancados na praia, o médico Charles (Rufus Sewell), a esposa, Chrystal (Abbey Lee), a filha pequena, Kara (Mikaya Fisher), e sua mãe já idosa, Agnes (Kathleen Chalfant), um outro casal, a psicóloga Patrícia (Nikki Amuka-Bird), e o seu esposo, o enfermeiro Jarin (Ken Leung), e por fim, o rapper Mid-Sized Sedan (Aaron Pierre). Como os personagens estão envelhecendo a cada hora, os efeitos especiais e a maquiagem ajudam a tornar os adultos mais velhos, e já as crianças, a solução é mais fácil: a troca de atores, que no caso, acontece três vezes. Entre os rostos mais conhecidos, está Alex Wolff, que esteve em Hereditário, de Ari Aster, e que acaba se tornando um dos protagonistas.
Além do constante suspense e mistério, M. Night Shyamalan aposta em momentos de horror, com algumas cenas que causam um estranhamento no público. Não há muitas cenas gráficas, mas há momentos intrigantes, como a cena da caverna, além de que, o foco maior está nas situações que os personagens enfrentam. E quando chega no famoso final revelador, todo o mistério fantástico de Tempo perde um pouco a graça, entregando um desfecho básico, mas ainda interessante, e digno de uma boa reflexão.
No fim, o novo filme de M. Night Shyamalan, Tempo, é um dos mais intrigantes e fantásticos dos últimos anos, entregando tudo que o cinema do diretor pode ter: mistério, tensão, e momentos intrigantes, mas que ainda falta aquele brilho dos seus primeiros filmes. Abordando um tema que assusta muita gente, o envelhecimento, a produção é criativa e faz com que o espectador tente desvendar o mistério que envolve a praia. É interessante como Shyamalan consegue transformar um lugar paradisíaco em uma prisão a céu aberto, onde o que era para ser um dia de descanso, acaba se tornando uma corrida contra o tempo. Vai pesquisar na internet as suas próximas férias? Tome cuidado.
TEMPO (OLD)
Ano: 2021
Direção: M. Night Shyamalan
Elenco: Gael Garcia Bernal, Vicky Krieps, Alex Wolff, Alexa Swinton, Nolan River, Rufus Sewell, Abbey Lee, Mikaya Fisher, Kathleen Chalfant,Nikki Amuka-Bird, Ken Leung, Aaron Pierre
NOTA: 8,0
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