Não tem cabimento algum levar à sério o novo filme da Netflix, “Sob as Águas do Sena”, e olha que a produção francesa é menos “trash” do que “Sharknado” e os dois “Megatubarão”. Desde o lançamento de Tubarão, lá em 1975, esses “assassinos dos mares”, como são conhecidos, dominaram o cinema – Do Fundo do Mar (1999), Águas Rasas (2017), Medo Profundo (2017), entre outros -, seja em filmes mais sérios ou os “trash”.
Agora temos o filme francês do momento que mostra um enorme tubarão branco tocando o terror nas águas do rio Sena na maravilhosa Paris, que está fazendo o maior sucesso na plataforma, mas também está sendo muito criticado pela falta de veracidade científica, e por causar uma preocupação desnecessária, já que em pouco mais de um mês acontecerá as Olimpíadas 2024, em Paris. Na trama, um tubarão branco chamado Lilith acabou chegando no rio que corta a cidade de Paris, justamente dias antes de um evento esportivo que acontecerá na cidade. Para evitar que o caos se instale, a cientista Sophia (Bérénice Bejo) e a polícia local, liderado por Adil (Nassim Lyes), precisam encontrar uma forma de tirar o animal da cidade, só que não será fácil já que Lilith se adaptou ao novo ambiente e está mais forte do que era.
“Sob as Águas do Sena” é um filme absurdo, incoerente, com uma trama repleta de clichês de filmes de tubarões – personagens chatos e burros que dão raiva na gente, os políticos negacionistas, os policiais ignorantes que não acreditam na ameaça -, além de atuações ruins, efeitos em CGI precários, e ainda tem tempo para uma mensagem importante sobre a preservação dos mares e dos tubarões. Mas mesmo assim, o filme de Xavier Gens diverte, tem momentos ótimos, um ritmo que contagia, e vai ser impossível você não comentar as coisas absurdas que acontecem ao longo das suas 1h40 minutos de duração. Um dos maiores problemas é que o roteiro não explora a questão ambiental direito, tudo fica de forma superficial, o núcleo dos ativistas jovens é irritante – e não se sinta culpado se você ficar feliz na sequência das catacumbas subterrâneas de Paris, uma das melhores do filme -. A mensagem é importante, mas ficou perdida no meio da galhofa, que acredito que seja a proposta original da produção.
Não tem como exigir atuações "dignas de Oscar" de um filme como “Sob as Águas do Sena”, e no fim, isso acaba se tornando um charme da produção. Com exceção dos protagonistas, Bérénice Bejo e Nassim Lyes – que formam um casal bonitinho e que combinam (além de ambos terem um passado traumático) -, a maioria dos personagens são burros que tomam decisões estúpidas, e na verdade são as típicas reações de filmes desse gênero. A jovem ativista Mika irrita tanto o espectador que torcemos para que o tubarão devore ela, e a prefeita de Paris não fica tão longe assim, que praticamente ignora o aviso que tem um tubarão no rio Sena. E seria errado torcer também para o tubarão tocar o terror no evento e ela perceber que estava errada?
Desde o lançamento de "Sob as Águas do Sena", muitos se perguntaram se o filme é baseado em fatos reais. A resposta é não. Pouquíssimas espécies de tubarões conseguem sobreviver em águas doces, já que geralmente o habitat deles são os oceanos - águas salgadas -. E mesmo assim, especialistas afirmam que um tubarão jamais ficaria em um rio perto de uma cidade devido à escassez de comida que poderia ter em um rio. Além disso, o roteiro da uma certa exagerada em relação a gravidez do animal e o fato de ele ter se adaptado nas águas doces. Mas tudo bem, o filme está longe de ser sério e isso o torna divertido.
O ato final de “Sob as Águas do Sena” é totalmente diferente de tudo o que a gente já viu em um filme de tubarão, o caos se instala de uma forma apocalíptica com direito a um banho de sangue e muita destruição em um dos rios mais famosos da Europa. Apesar dos absurdos e da incoerência – na verdade, acho que o diretor nem deve ter se preocupado em ser coerente, e não tem problema nenhum nisso -, a nova produção francesa da Netflix é divertida e empolga, a ótima fotografia só mostra o quanto Paris é linda, e todos os problemas de efeitos em CGI, os diálogos ruins, e a previsibilidade, acabam sendo o charme da produção. “Sob as Águas do Sena” é aquele filme ruim que acaba ficando muito bom, onde você tem que ter a mente aberta, ignorar os erros, abraçar os absurdos que a trama propõe, e se divertir. O final fica em aberto para uma possível continuação, e fica na imaginação de onde os tubarões vão atacar da próxima vez.
SOB AS ÁGUAS DO SENA (UNDER PARIS)
Ano: 2024
Direção: Xavier Gens
Distribuidora: Netflix
Duração: 104 min
Elenco: Bérénice Bejo, Nassim Lyes, Anne Marivin, Lea Leviant.
NOTA: 7,5
Disponível na
Claro que é um filme absurdo, mas no meio do filme a protagonista, durante a autópsia do bebê tubarão, conclui que se trata de uma nova espécie, com adaptações à água doce e reprodução por partenogênese. Ou seja, é um rebate aos argumentos dos biólogos. O mendigo devorado no início do filme mostra que a comida não seria tão escassa...
O que é trash ( e o charme do filme), é como Lilith, tem apetite para devorar 20, 30 pessoas de uma vez, mesmo considerando seu grande tamanho. Também não entendi por que Paris terminou inundada. Se alguma barragem foi rompida, não foi bem explicado.