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CRÍTICA | QUEER

  • Foto do escritor: Paulo Ricardo Cabreira Sobrinho
    Paulo Ricardo Cabreira Sobrinho
  • 10 de jan.
  • 3 min de leitura


Luca Guadagnino não é tão popular no “mainstream”, mas é um diretor bastante premiado e importante para o cinema. Seus filmes são considerados mais cults, marcados por uma grande complexidade emocional, erotismo, e com uma abordagem bem diferente dos filmes mais comerciais; a maioria dos seus filmes não agrada o grande público. Seu último trabalho é o excelente Rivais, estrelado por Zendaya, Josh O’Connor, e Mike Faist – provavelmente o melhor filme de sua carreira -, mas ainda em 2017 ele ficou conhecido pelo premiado Me Chame Pelo Seu Nome, uma história de romance entre um estudante acadêmico e um adolescente. E curiosamente, o trabalho mais recente de Guadagnino, “Queer”, baseado no romance de William S. Burroughs e publicado em 1985, é similar ao seu filme de 2017. Abordando temas como desejo, solidão, vícios e conexões, e ambientado na cidade do México na década de 40, “Queer” mostra a história de William Lee (Daniel Craig), um homem gay mais velho que se sente sozinho e busca conexões sexuais com homens mais jovens. A vida dele muda totalmente quando ele conhece Eugene (Drew Starkey), por quem acaba se apaixonando. Jason Schwartzman e Lesley Manville também estão no elenco.


A estrutura narrativa de Queer é excelente, dividida em três capítulos distintos (e o epílogo) e que vai se desenvolvendo de uma forma bem interessante e dinâmica, explorando todas as nuances dos seus protagonistas, intercalando romance, cenas sensuais de nudez e sexo, abordando a solidão de um homem gay mais velho. Visualmente é bem diferente do seu trabalho anterior, Rivais, mas as vezes se assemelha com Me Chame Pelo Seu Nome – pelo enredo, principalmente -. A diferença aqui é o tom mais melancólico e depressivo, passando a sensação de solidão, exatamente o que o personagem de Daniel Craig sente. O primeiro e segundo capítulos são mais parecidos, com o primeiro mostrando os protagonistas se conhecendo, as investidas de William Lee em conquistar Eugene, além de mostrar as rotinas dos personagens, que frequentemente vão em bares.



O segundo capítulo foca mais na viagem pela américa do Sul que o “casal” faz, uma forma de se conectarem mais, e apesar de a maioria dos cenários terem sido produzidos dentro de um estúdio em Roma, o ótimo design de produção dá um toque especial ao filme, transportando o público para a época em que a trama acontece. Já a parte final, quando eles vão até o Equador em busca da Ayhuasca (um chá natural alucinógeno), o tom muda totalmente, onde Guadagnino explora com êxtase o surrealismo, criando cenas psicodélicas incríveis, e tudo tem seu motivo, nada é aleatório. Provavelmente, é essa parte que vai definir se o público vai gostar ou não do filme.


Daniel Craig, que ficou mundialmente famoso ao interpretar o agente britânico James Bond, se entrega totalmente ao papel, criando um personagem complexo e fácil de conseguir a empatia com o público, e o ator consegue se descontruir do agente másculo e viril que pegava as Bond Girls na franquia 007. Craig mostra toda a solidão que William Lee sente com eficiência, fazendo um personagem mais caricato, impulsivo, e com trejeitos, que busca parceiros sexuais não apenas por prazer, mas também para não se sentir sozinho, para se sentir desejado, e acima de tudo, buscando conexões. Já Drew Starkey interpreta Eugene, que é mais reservado, estiloso, sensual, e misterioso, chamando a atenção de Lee – que é totalmente o oposto dele, e por isso a atração repentina -. É um personagem difícil de decifrar, nem mesmo Lee consegue, e o ator consegue perfeitamente manter essa áurea misteriosa e sensual o tempo todo. A química entre os dois não é lá grandes coisas, talvez porque seja uma abordagem diferente, não é um romance mais bobo e fácil de encarar, ainda mais pela época que a produção se passa, mas a sintonia entre eles é agradável e convence dentro das limitações.



Queer tem seus problemas no ritmo, e essa mudança brusca de tom quando Lee e Eugene vão experimentar a Ayhuasca no Equador pode fazer o público não gostar do resultado final, mas é interessante acompanhar as aventuras e peripécias dos protagonistas. Não é um filme de reviravoltas ou surpresas, é apenas a história simples e honesta sobre um homem gay maduro que busca conexões sexuais e amorosas para não se sentir sozinho. Aliás, esse é o medo de muita gente, principalmente da comunidade LGBTQI +: o medo de ficar sozinho, e no fim das contas, morrer sozinho. Luca Guadagnino faz um filme intenso, cru e melancólico sobre conexões, com uma soberba atuação de Daniel Craig, e um desfecho que resume isso tudo. Talvez, se lançassem uma versão estendida, algumas cenas desconexas fariam mais sentido, além das intenções de alguns personagens, mas ainda é um ótimo filme.




QUEER


Ano: 2024

Direção: Luca Guadagnino

Distribuidora: Paris Filmes

Duração: 132 min

Elenco: Daniel Craig, Drew Starkey, Jason Schwartzman e Lesley Manville



NOTA: 8,5

















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