CRÍTICA | PRENDA A RESPIRAÇÃO

Atualizado: 11 de out.

Antes de tudo, é importante ressaltar que o filme Prenda A Respiração, dirigido por Karrie Crouse e Will Joines, é um thriller psicológico e não um terror sobrenatural, como o trailer acaba sugerindo. Na década de 1930, uma região dos EUA passou por um evento climático chamado “Dust Bowl”, que são intensas tempestades de areia que causaram problemas respiratórios em diversas pessoas. E é nesse ambiente hostil que a personagem de Sarah Paulson precisa proteger suas filhas contra uma ameaça misteriosa, o "homem cinzento". Na trama, Margareth (Paulson) precisa lidar com a escassez de comida, água, e falta de dinheiro, além de ter que cuidar sozinha de suas duas filhas, já que o seu marido se ausentou por questões de trabalho; tudo isso no meio das severas tempestades de areia que assolam a região onde moram. Tudo começa a piorar quando surge Wallace (Ebon Moss-Bachrach), um homem religioso e misterioso, causando desconfiança e sem ela saber se o homem é real ou fruto da sua imaginação. Amiah Miller, Alona Jane Robbins, e Annaleigh Ashford também estão no elenco.

Prenda a Respiração é um filme que parece ter a intenção de ser muitas coisas, seguindo por vários caminhos, mas acaba se dispersando, e termina com algumas questões em aberto. A diretora Karrie Crouse vai construindo um nível de tensão que vai crescendo aos poucos, abordando questões sobre maternidade, perda, luto, e as consequências que isso pode causar nas pessoas, onde o que é real e o que não é entram em conflitos, tudo isso no meio de intensas tempestades de areia. O ritmo é mais lento, mas a trama é envolvente e tem momentos intensos, as vezes flerta com o sobrenatural – o que seria mais interessante -, mas o fator psicológico da personagem de Paulson vai ficando cada vez mais forte. E o cenário é perfeito para Elizabeth surtar: uma região isolada do mundo, e a casa é mais isolada ainda – os planos abertos aumentam a sensação de isolamento -, além de ter a questão do seu marido e uma de suas filhas, e sem contar do tal “homem cinzento”, que fica mais real quando descobrimos que um andarilho está rondando a região.

As pessoas que moram na pequena comunidade em Oklahoma fazem o que podem para tentar sobreviver as extremas condições, seja pelas tempestades de areias ou pelo medo do homem cinzento que está rondando a região. Sarah Paulson interpreta uma mãe solo que precisa cuidar de suas duas filhas na ausência do marido, mas que também sofre por uma perda e vive tomando remédios para dormir. O roteiro cria várias teorias do porquê Elizabeth (Paulson) começa a ficar mentalmente instável, e a atriz consegue dar veracidade e profundidade a todos os sentimentos de sua personagem, se questionando o tempo todo se tudo o que está acontecendo é real ou fruto da sua loucura. Junto com a sensação de isolamento, e seus problemas pessoais, Elizabeth ainda tem que ficar atenta com a aparição de Wallace (Ebon Moss-Bachrach), um homem misterioso e que muitas vezes é associado com o tal “homem cinzento”, e é a partir daí que tudo começa a piorar. Quem é Wallace? Seria o homem cinzento? Ele existe de verdade ou é uma ilusão de Elizabeth? Por que ele simplesmente desaparece? Wallace é assustador, e a sua introdução na trama cria momentos genuínos de tensão, mas seu personagem é muito mal aproveitado.

O problema maior de Prenda a Respiração é que o roteiro cria várias teorias, mas não são bem desenvolvidas e não levam a lugar nenhum, deixando para o público ter a sua própria interpretação. Karrie Crouse cria alguns momentos intensos e com cenas fortes, algumas reviravoltas, e a sequência final é ainda mais intensa e, de certa forma, emocionante, provando que uma pessoa com problemas psicológicos devido a certas condições pode ser mais assustadora do que algo sobrenatural. O ponto forte é a atuação de Sarah Paulson, mostrando com veracidade a condição mental de sua personagem – e as consequências -, e também a ambientação, uma região totalmente isolada e assolada por uma tempestade de areia. Prenda a Respiração tem seus problemas, mas é um filme bom, tem bastante suspense, momentos tensos, e ideias interessantes, mas algumas acabam se perdendo na tempestade, literalmente.