Vencedor de 04 Oscar: Melhor Atriz (Emma Stone), Melhor Cabelo e Maquiagem, Melhor Direção de Arte e Melhor Figurino
A maioria deve conhecer a clássica história de Frankstein, tanto a obra de Mary Shelley, quanto o filme de 1931, onde um jovem cientista cria o monstro conhecido como Frankstein. Ao longo dos anos surgiram várias adaptações da obra, e por incrível que pareça, o filme vencedor de 03 Oscar, Pobres Criaturas, tem uma breve inspiração desse clássico dos monstros. Dirigido por Yorgos Lanthimos, Pobres Criaturas pode não ser um filme que vá agradar o grande público, mas tem muita coisa para dizer sobre conservadorismo, libertação feminina e tabus, com direito a situações que podem chocar ou causar um estranhamento no espectador. Ou seja, é um daqueles filmes únicos. Na trama, conhecemos Bella (Emma Stone), que foi criada pelo médico Godwin Baxter (Willem Dafoe) e que acabou sendo isolada do mundo externo. Bella foge com o advogado Duncan (Mark Ruffalo), descobrindo um mundo novo que mudará toda a sua percepção da vida.
Pobres Criaturas é um daqueles filmes difíceis de assistir, principalmente para quem está acostumado com os blockbusters hollywoodianos, não é um filme maravilhoso e muitas vezes se torna cansativo, mas todo o contexto e a forma como o tema foi abordado já vale a pena ficar 2h20min na frente da tela. Desde o início, o roteiro coloca o espectador diante a visão da personagem de Emma Stone sobre a realidade em que ela vive: uma sociedade machista onde o patriarcado reina, e que os homens precisavam controlar as mulheres para se sentirem superiores. Isso fica explicito na vida de Bella, nos “três homens” que controlaram a sua vida: o seu criador, personagem de Willem Dafoe, o advogado Duncan (Mark Ruffalo), e sem muito spoiler, um suposto marido dela que aparece ao longo da produção. Cada um com seus defeitos e qualidades, mas que acabam sendo uns canalhas no fim das contas.
A primeira parte de Pobres Criaturas é toda em preto e branco, contextualizando o confinamento de Bella que, por bem ou por mal, acaba ficando mais segura se estivesse exposta a crueldade do mundo real. A outra parte, e que domina a produção toda, é colorida, que enfatiza a jornada de autoconhecimento da personagem, em vários sentidos: desde a descoberta da sua sexualidade, até os desafios no novo mundo que está conhecendo, enfrentando o machismo, o patriarcado, a ganância do homem, e as dificuldades do mundo, como a pobreza e o valor da mulher na sociedade. E o interessante é que, até um certo momento, Bella não dá bola para isso, provavelmente por não ter esse “conhecimento” sobre essas dificuldades, soltando até diálogos ácidos e sendo muito direta e sem pudor.
Bella é a alma de Pobres Criaturas, e praticamente tudo gira em torno dela, e o grande mérito é da maravilhosa Emma Stone. É incrível como atriz consegue transpor para o público todas as dificuldades da personagem, e foi merecido a sua vitória no Oscar de Melhor Atriz. Bella é uma personagem complexa, difícil de interpretar devido aos seus trejeitos, as emoções perante as situações, onde a atriz precisou explorar todas as nuances de sua personagem, e ela consegue fazer tudo perfeitamente. Mark Ruffalo também ganha destaque interpretando o advogado interesseiro Duncan, sendo mais aproveitado nos momentos de humor, e o veterano Willem Dafoe ganha ares de cientista louco e obsessivo ao interpretar Godwin Baxter, o “pai” de Bella, em uma performance marcante.
A parte técnica de Pobres Criaturas também merece um grande destaque, ganhando três Oscars na parte técnica das suas cinco indicações. O diretor Yorgos Lanthimos cria um mundo surrealista diferente de tudo o que a gente já viu nos últimos anos. A produção remete a era vitoriana, entre 1837 até meados de 1900, desde os ideais da época até o figurino típico, mas se misturam com cenários futuristas e distópicos – muitos feitos através de CGI, mas que impressionam. A produção também choca o espectador com as cenas gráficas das cirurgias, e mostra quase sem censura nenhuma cenas de sexo explícito. Na verdade, tudo no filme tem um motivo e nada é jogado avulso na trama.
Pobres Criaturas é a jornada de autoconhecimento e libertação de uma mulher criada por um homem, contada de forma inovadora e ousada, com um roteiro afiado e sem pudor que poderá não agradar o grande público, mas que tem muita coisa para dizer. É divertido, provocador, com um visual incrível, ótimas atuações de todo o elenco, situações hilárias e piadas ácidas, mas cansativo em alguns momentos. Poor Things, no original, é um dos filmes mais diferentes e inusitados dos últimos anos, e realmente mereceu os prêmios de melhor Atriz para Emma Stone, e os três prêmios na parte técnica.
POBRES CRIATURAS (POOR THINGS)
Ano: 2023
Direção: Yorgos Lanthimos
Distribuidora: Searchlight Pictures
Duração: 141 min
Elenco: Emma Stone, Mark Ruffalo, Willem Dafoe e Ramy Yousseff.
NOTA: 8,0
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