CRÍTICA | PISQUE DUAS VEZES

Atualizado: 30 de set.

Já faz algum tempo que Hollywood tem deixado a desejar com lançamentos de produções sem criatividade e que nunca saem da “zona de conforto”, caindo na mesmice. Mas 2024 tem se mostrado um ano bom para filmes surpreendentes e interessantes, e Pisque Duas Vezes é um deles. A estreia de Zoe Kravitz na direção é promissora, e apesar de seguir a linha de outras produções como “Corra”, “Não Se Preocupe, Querida”, e até “Glass Onion” – pela ambientação -, o filme segue por um caminho distinto que vai surpreendendo o espectador em uma trama psicótica, inesperada, e com um suspense que vai crescendo aos poucos. A história se passa na ilha particular do milionário da tecnologia Slater King (Channing Tatum), que convida um grupo de pessoas para passar alguns dias em sua propriedade, e entre os convidados está a garçonete Frida (Naomi Ackie), junto com a sua amiga Jess (Alia Shawkat). São dias de muito sol, festas, diversão, bebidas e drogas, até Frida começar a suspeitar que algo está errado com o lugar, principalmente depois que sua amiga desaparece. No elenco ainda tem Cristian Slater, Haley Joel Osment, Geena Davis, Adria Arjona e Levon Hawke – filho de Uma Thurman e Ethan Hawke -.

Um lugar paradisíaco, muito sol, piscina, festas, novas amizades, diversão, parecem as férias perfeitas que todos querem. Se fosse na vida real, provavelmente seria mesmo perfeito (ou não), mas os filmes nos ensinam ao contrário, e a situação acaba sendo bem pior. Pisque Duas Vezes é um dos filmes mais interessantes do ano, um thriller psicológico que envolve o espectador no mistério que cerca a trama e nos acontecimentos que aos poucos vão ficando cada vez mais estranhos. Além da direção, Zoe Kravitz também assinou o roteiro em parceria com seu amigo E.T. Feigenbaum, e a dupla consegue equilibrar os momentos de humor com momentos de paranoia, suspense, e dúvida, mantendo a tensão a todo instante – ainda que demore um pouco para tudo começar a dar errado -, jogando pistas para o público desvendar esse mistério. Outra bem-vinda surpresa é a violência no ato final, onde Kravitz não poupa sangue e cenas violentas com muito gore, e isso é uma das coisas surpreendentes da produção.

Provando que veio para se firmar na direção, Zoe Kravitz também consegue desenvolver os seus personagens e dirigi-los muito bem, principalmente os protagonistas, interpretados por Naomie Ackie e Channing Tatum. Após se destacar ao interpretar Whitney Houston na cinebiografia da cantora, Naomi dá vida a garçonete Frida, uma mulher insegura de si e que se vê encantada pelo milionário Slater King, onde a atriz começa praticamente de forma submissa para depois evoluir ao nível de uma final girl poderosa que assume o controle de tudo. Channing Tatum também está ótimo papel do multimilionário King, um homem cheio de mistérios que parece esconder as suas reais intenções ao levar o seu grupo de “amigos” para a ilha. O elenco coadjuvante também se destaca e todos tem alguma importância para a trama – o que não torna nenhum personagem descartável, outro mérito para Zoe Kravitz -. Desses, Adria Arjona, que interpreta Sarah, acaba tendo uma importância maior na trama ao ajudar Frida a descobrir o que está acontecendo, e que também tem uma evolução incrível em sua personagem.

Pisque Duas Vezes funciona como um quebra-cabeças onde o público precisa desvendar o grande mistério da trama, e as pistas são lançadas ao longo do filme. E tudo leva para o intenso ato final, com uma reviravolta que não chega a ser tão surpreendente assim, mas a mensagem que Zoe Kravitz passa e como tudo tem relação com o que nos foi apresentado ao longo da trama, é marcante e tem seu peso. Com referências a “Corra!”, de Jordan Peele - ao invés da questão racial do filme de Peele, agora é de gênero -, Pisque Duas Vezes é uma das grandes surpresas do ano, um filme que foge do óbvio, surpreende o espectador, é intenso, e o mistério é envolvente e nos mantém tensos, atentos, e ávidos em descobrir o que está acontecendo. Um excelente debut para Zoe Kravitz.