CRÍTICA | PECADORES

Pecadores, novo trabalho do diretor Ryan Coogler (da trilogia Creed e do primeiro Pantera Negra), é um daqueles filmes que você não dá absolutamente nada por ele, mas que acaba te surpreendendo e se tornando um dos melhores filmes de terror do ano. Com 97% de aprovação pelo público e da crítica especializada, além de boas avaliações no “cinemascore” – feitos que não acontecem com muita frequência em filmes de terror -, Pecadores é um drama histórico repleto de críticas sociais, e ainda se aventura no gênero do terror com direito a muito sangue e elementos clássicos de filmes de vampiros. É um filme que merece ser visto no cinema. Na trama, os irmãos gêmeos Stack e Smoke (ambos interpretados por Michael B. Jordan) voltam para a sua cidade natal no Mississipi para deixar o passado conturbado para trás, abrindo um bar de música para pessoas negras, os chamados "Juke Point". Porém, no dia da inauguração, eles são atacados por vampiros. Wunmi Mosaku, Hailee Steinfield, Li Jun Li, Delroy Lindo, e Miles Canton estão no elenco.

Pecadores é um filme com muitas camadas e que tem muita coisa para dizer, envolvendo o espectador em uma trama intensa e repleta de suspense, e é interessante a forma que o diretor Ryan Coogler desenvolve o roteiro. A primeira parte – com quase 1h de duração -, serve para situar o espectador no contexto histórico, nas críticas sociais que o filme pretende falar, e para introduzir os personagens e seus dramas pessoais, criando uma conexão com o público. Temas como racismo, representação cultural e religião afro-americana, a violência e o poder contra os negros da região de Mississipi, ganham destaque e enriquecem ainda mais o enredo e os acontecimentos que estão por vir na segunda parte. E aí que o terror entra em cena, com os antagonistas sendo vampiros – e que escondem um segredo sobre a sua real origem -, resultando em sequências repletas de sangue e mortes violentas com todos os elementos clássicos de filmes de vampiros: estacas, água benta, alho, vampiros precisam pedir permissão para entrar, tudo está lá. As sequências de luta são incríveis, e algumas cenas provam que a produção precisa ser vista em uma tela de cinema, além da maquiagem das criaturas, que estão ótimas e assustadoras.

A parte técnica também se destaca e tem um papel ainda mais importante do que em outras produções. A representação da época em que a trama acontece é extremamente fiel, os cenários são um plus para o filme, principalmente por retratar a história de superação do povo negro, assim como o bar que os irmãos decidem abrir, que nada mais é do que um refúgio para a população negra – ou pelo menos é essa a intenção -. Além disso, a trilha sonora recheada de clássicos do blues, gênero musical de origem afro-americana, surge em momentos importantes da produção, e elas tem muito a dizer. Michael B. Jordan está incrível no papel dos gêmeos “Stack” e “Smoke”, criando personalidades distintas para cada um deles, - são duas atuações para um ator -. E ele conta com um elenco de apoio magistral onde cada um tem sua importância na narrativa, e todos tem seus traumas e marcas deixadas pelo racismo e a violência que sofreram. Nas subtramas se destacam a atriz Wunmi Mosaku, que interpreta Annie, a esposa de Smoke, com uma forte carga dramática envolvendo o seu trágico passado, entregando uma incrível atuação sempre que aparece em tela, e a personagem de Hailee Steifield, Mary, que tem um relacionamento conturbado com Stack. E por fim, Miles Canton, o “menino pregador” Sammie, é a grande revelação de Pecadores, inclusive mostrando uma poderosa potência vocal.

Pecadores é aquele tipo de filme que vai te surpreender até o final. Começa como um drama histórico envolvente, um roteiro bem estruturado onde tudo vai se ajeitando, personagens bem desenvolvidos, e termina com um terror de vampiros com muito sangue, sustos, suspense, e elementos desse subgênero; e ainda parece um musical, mas não é. Há duas cenas pós-créditos que podem indicar uma continuação, ou até uma possível franquia, como tem sido bastante comentado nessas últimas semanas. Pecadores é uma das primeiras surpresas do ano, um filme visual intenso, provocante, que tem muita coisa para dizer, e ainda é um ótimo filme de terror. Depois de Creed e Pantera Negra, Ryan Coogler finalmente teve seu reconhecimento e conseguiu se consolidar como um dos melhores e mais interessantes diretores da atualidade.