Universo que começou em 2008 com o lançamento de Homem de Ferro, e já lançou mais de vinte filmes, a Marvel se destacou no cinema por trazer filmes divertidos, com muitos efeitos especiais, cores vivas (em contrapartida com os filmes mais sombrios da DC), muito humor e heróis que ganharam o público. Com isso, a produtora acabou sendo rotulada por fazer filmes, além desses elementos citados anteriormente, muito parecidos, incluindo as histórias de origem, fato que ficou conhecido como a “fórmula Marvel”. Eis então que a Marvel lança Pantera Negra, filme de um super herói negro, com um elenco somente de atores negros, com exceção de dois personagens mais relevantes, quebrando paradigmas de uma sociedade ainda racista e conservadora, se tornando um dos filmes mais importantes da história do cinema.
Na história, que acontece após os eventos de Capitão América – Guerra Civil, T'Challa (Chadwick Boseman) se prepara para ocupar o trono de rei de Wakanda, e se tornar o novo Pantera Negra, após a morte de seu pai. Mas com a chegada de N'Jadaka/ Eric Stevens (Michael B. Jordan), que cresceu fora dos reinos de Wakanda, querendo tirar o trono de T´Challa, e se tornar o Pantera Negra, a cidade futurista de Wakanda começa a se desestabilizar.
Ryan Coogler insere, em seu novo filme, uma crítica social na história de origem do Pantera Negra, e o longa chegou no momento certo, onde o racismo está cada vez evidente. A construção do universo de Wakanda é brilhante, nos apresentando um mundo totalmente novo, e muito bonito, futurista e cheio de tecnologia, mas que se esconde do resto do mundo, fazendo um contraste com algumas cidades mais pobres da África. A direção de arte e os efeitos especiais fizeram um ótimo trabalho, assim como o figurino, que conta com roupas e máscaras que se destacam pela beleza e aparência, além de mostrar a cultura local, totalmente inspirada nas raízes do povo africano, e de danças relacionadas às crenças desse povo.
Pantera Negra acaba se tornando um filme mais sério, graças ao tom político que aborda, ressaltando as tensões entre as maiores potências mundiais, visto já em Guerra Civil. Ainda, não espere piadas sarcásticas e humor escrachado, fato que é considerado um elemento da “formula Marvel’, mas não quer dizer que o humor não esteja ali, já que o filme é mais contido, e são poucos momentos engraçados. A história, e tudo sobre o mundo de Wakanda, nos faz imergir dentro do filme, mas nem tudo é tão perfeito assim, e acho que o único erro seria na motivação do vilão Eric Stevens, movido pela vingança, ainda que seja compreensível. Também, o filme de Ryan Coogler não tem a tensão necessária, principalmente nas lutas, e tem um desfecho muito “amigável”, mas claro, com um líder integro e humano como Pantera Negra é, não poderia ser diferente.
Com um elenco com a maioria de atores negros, Pantera Negra constrói um mundo onde a população negra se identifica, e a prova disso são os vídeos que mostram pessoas negras eufóricas ao irem assistir: um filme do tamanho que Pantera Negra é, e o destaque que os filmes de heróis ganham no cinema atualmente, é totalmente importante. Chadwick Boseman foi a escolha perfeita para viver o rei de Wakanda, e praticamente leva o filme nas costas, mostrando um líder humano, educado, e admirável, se mostrando um herói frágil, devido ao drama pessoal do vilão. Michael B. Jordan interpreta o antagonista N'Jadaka/ Eric Stevens, criado fora das terras de Wakanda, que busca roubar o trono de T’Challa, movido por vingança. É interessante que o personagem não parece ser um vilão, não que esteja ruim, pelo contrário, mas porque ele não é tão ameaçador, se comparado com os outros vilões da Marvel. Aqui, sua motivação é mais humana, brilhantemente interpretado por ele. Ainda, tem a participação do ótimo Forest Wittaker, que tem um passado secreto com o pai de T’Challa, e que é guardião da erva que dá poderes ao escolhido para se tornar o Pantera Negra.
Além da representatividade negra, o filme de Ryan Coogler ainda coloca o empoderamento feminino, apresentando personagens importantes e com papeis eficientes, onde a maioria representa guerreiras. Lupita Nyong'o é Nakia, ex-namorada de T’Challa e espiã das forças armadas femininas de Wakanda, Danai Gurira, a Michonne de The Walking Dead, é a líder das guerreiras de Wakanda, Okoye, sempre determinada a proteger a sua terra, e Letitia Wright é Shuri, irmã do novo Pantera Negra, que cria novas tecnologias para Wakanda, parecido com Q nos filmes do James Bond, uma vibrante e inteligente personagem, onde o pouco de humor e piadas que o filme tem, partem dela. E o interessante é que, todas essas personagens, e várias outras, tem histórias independentes, não se limitando a dependerem do herói. Destaque ainda para a maravilhosa Angela Bassett, que interpreta Ramonda, mãe de T’Challa.
Pantera Negra não é somente uma excelente introdução do personagem para o UCM, mas também um importante quebra de paradigmas em uma sociedade ainda bastante primitiva, socialmente, um filme que tem personagens importantes, carismáticos, bem desenvolvidos e interpretados, uma história certinha com uma trilha sonora, assinada por Kendrick Lamar, que combina perfeitamente com cada cena do filme. É a produção mais séria da Marvel, mas cheio de alma e totalmente humana, tratando de questões mais reais do que simplesmente “salvar o mundo”.
PANTERA NEGRA (BLACK PANTHER)
Ano: 2018
Direção: Ryan Coogler
Elenco: Chadwick Boseman, Michael B. Jordan, Forest Wittaker, Lupita Nyong'o, Danai Gurira, Letitia Wright, Angela Bassett, Daniel Kaluuya e Andy Serkins.
NOTA: 10
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