CRÍTICA | OS REJEITADOS

Atualizado: 27 de fev.

04 Indicações ao Oscar: Melhor Filme, Melhor Ator (Paul Giamatti), Melhor Atriz Coadjuvante (Da’vine Joy Randolph), e Roteiro Original

Alexander Payne e Paul Giamatti já trabalharam juntos em Sideways – Entre Umas e Outras, em 2004, comédia dramática indicada à 5 Oscars (venceu a de roteiro Adaptado) que se passa nas vinícolas da Califórnia. Dez anos depois, a dupla retorna em outra produção do gênero, Os Rejeitados, também indicado a 3 Oscars – incluindo Melhor Filme -. Agora, ao invés da trama se passar na calorosa costa leste dos EUA, The Holdovers, no original, se passa na gélida Massachusetts entre o Natal e o Ano-Novo de 1970, em uma escola interna. Abordando temas como solidão, depressão, amizade e empatia, a trama de Os Rejeitados mostra o professor rabugento Paul Hunham (Paul Giamatti) sendo obrigado a passar o recesso de final de ano no colégio com outros alunos que não conseguiram passar as festas de final de ano com seus familiares. Entre eles está Angus (Dominic Sessa), um adolescente problemático e revoltado. Da’vine Joy Randolph, indicada ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante também está no elenco.

A primeira coisa que chama a atenção em Os Rejeitados é a estrutura da edição, que remete a produções dos anos 70: logo antigo da Universal, o formato 4:3 das câmeras, os créditos de abertura, a transição das cenas, fotografia, trilha sonora; é como se Alexander Payne tivesse produzido seu filme há 50 anos atrás e lançado somente agora; até o trailer tem aquela clássica narração da época. O roteiro de David Hemingson – indicado ao Oscar de Roteiro Original -, é um dos pontos fortes da produção, trazendo uma trama bastante carismática, com um humor ácido e piadas irônicas, mas com uma sensibilidade que faz o público se apegar aos personagens e seus dramas. Os Rejeitados é uma história sobre dores, perdas, amizades improváveis, situações do passado que vem à tona, conflitos de geração, que se passa nas festas de final de ano, época em que as famílias se reúnem para festejar, mas um grupo de “rejeitados” precisam ficar juntos e superar as diferenças. À medida que a trama se desenrola, o grupo é reduzido a apenas três protagonistas, Paul, Angus e a cozinheira Mary, onde cada um tem um drama a ser explorado pelo filme, e é a partir daí que a trama decola ainda mais.

Outro ponto a favor de Os Rejeitados é a atuação do trio principal, Paul Giamatti e Da’vine Joy Randalph, indicados ao Oscar de melhor Ator e melhor Atriz Coadjuvante, respectivamente, e a estreia de Dominic Sessa em um longa-metragem. A interação entre o trio é incrível e extremamente natural, dando uma veracidade maior no roteiro. Giamatti interpreta Paul, um professor frustrado com os rumos que sua vida teve, insuportável, cheio de manias, mas que consegue contagiar o espectador com o seu humor ácido, piadas afiadas, e claro, o seu jeito ranzinza de ser. Dominic Sessa faz sua estreia nos cinemas, entregando uma atuação marcante de um jovem revoltado com a vida, e apesar de vir de família rica, também tem seus problemas – aliás, o filme mostra bem essa questão -. Aqui, a interação entre Paul e Angus é sublime, divertida, e caótica as vezes, onde aos poucos vai surgindo uma grande amizade e cumplicidade entre eles. E por fim temos a cozinheira Mary, brilhantemente interpretada por Da’vine Joy, um contraponto entre a amizade da dupla, entregando uma atuação aparentemente simples, mas com uma intensidade poderosa, muito sarcasmo e tiradas memoráveis.

Os Rejeitados é um daqueles filmes que parecem ser bem simples, mas que te surpreendem com uma história marcante sobre a amizade de um aluno revoltado e um professor amargurado, onde terão que lidar com as suas diferenças e tentar entender um ao outro. É um filme divertido e triste na medida certa, sensível, inteligente, e acima de tudo, um filme humano, uma “dramédia” tocante e diferente dos lançamentos mais superficiais que tem aparecido nos últimos tempos. Pode não ser um dos favoritos ao prêmio máximo do Oscar, mas isso não diminui a forma como o filme consegue mexer com os nossos sentimentos.