A carreira de Tim Burton é uma das mais interessantes de Hollywood, e os filmes típicos do diretor – mais sombrios e voltados para o terror, mas não necessariamente sendo só de terror -, o tornaram um diretor único. Edward Mãos de Tesoura, A Noiva Cadáver, A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça, até a versão mais sombria de Alice No País das Maravilhas, são produções únicas e que representam o cinema fantástico de seus filmes. Mas em 1988, um filme em especial marcou a carreira do diretor, causando um certo estranhamento pelo estilo “grotesco” que ele utilizou: Os Fantasmas Se Divertem (Beetlejuice). A produção tinha grandes nomes no elenco, como Michael Keaton, Winona Ryder, Catherine O’Hara e Geena Davis, e trazia uma trama divertida sobre os mistérios do pós vida com diálogos ácidos e humor mórbido.
No meio de uma onda de remakes e continuações, Tim Burton retorna ao universo de Beetlejuice, ou Besouro Suco na versão brasileira, com “Os Fantasmas Ainda Se Divertem: Beetlejuice, Beetlejuice”, trazendo uma trama ainda mais maluca que a original, além das referências, homenagens, e o retorno de alguns dos clássicos personagens do filme de 1988. Na trama, após o falecimento de um membro da família Deetz, Lydia (Winona Ryder) e Delia (Catherine O’Hara) retornam para a antiga casa em Winter River, junto com Astrid (Jenna Ortega) – filha de Lydia -. Michael Keaton retorna ao papel de Beetlejuice, e além de Jenna Ortega, Willem Dafoe, Monica Bellucci, Arthur Conti e Justin Theroux são as novas adições no elenco.
"Os Fantasmas Ainda Se Divertem" marca mais pelas referências e os clássicos personagens do filme original do que pela trama em si, que segue pelo mesmo caminho do primeiro, porém traz algumas novidades, e a história é mais dinâmica e com mais acontecimentos. Para quem já assistiu o filme de 1988, Tim Burton traz nostalgia e ótimas referências, seja no visual macabro, o mundo pós morte e os mortos com as sensacionais maquiagens, as cenas grotescas e gráficas, até o retorno de alguns personagens, e também os novos números musicais que marcaram a produção de 88 – a sequência dançante do jantar -. Além disso, o típico humor ácido e mórbido retorna para a trama, trazendo um tom mais cômico na tentativa de amenizar os elementos de terror, arrancando risadas do público. Mas é só isso, e de uma forma geral, o roteiro não tem grandes novidades também. O ponto forte são os efeitos práticos, e o uso do “stopmotion”, muito utilizado no filme original, além da maquiagem, trazendo ainda mais nostalgia para a produção. Não ser indicado a um ou dois Oscar, seria uma injustiça.
Outro acerto foi ter trazido alguns dos personagens clássicos, e principalmente os atores que os interpretavam – Michael Keaton, Winona Ryder e Catherine O’Hara -, responsáveis pela reintrodução do mundo pós vida. Catherine O’Hara ganha mais destaque na trama do que no primeiro filme, e Michael Keaton retorna ainda mais maluco do que antes. O arco de Winona Ryder também é maior, e envolve a sua filha, Astrid (Jenna Ortega), e o seu interesse amoroso Rory, interpretado por Justin Theroux. Falando nela, Ortega é uma das melhores adições no elenco de Os Fantasmas Ainda Se Divertem, e seu arco é um pouco mais dramático, envolvendo sua mãe, Lydia (Winona Ryder), seu falecido pai, e o jovem Jeremy (Arthur Conti). Aliás, a atriz repete muito a dinâmica de sua personagem na série Wandinha, na qual teve comparações inevitáveis. Já o arco de Monica Bellucci – esposa de Tim Burton na vida real -, que interpreta uma noiva em busca de vingança, é muito mal aproveitado, onde a personagem fica vagando o filme todo e sugando as energias dos espíritos. Se a trama explorasse mais essa vingança, Dolores ia ficar ainda mais interessante. E por fim, tem a escalação de Willem Dafoe interpretando o falecido ator Wolf Jackson, que trabalha como detetive no mundo pós morte. Vale ressaltar aqui: o grande número de personagens atrapalhou um pouco o desenvolvimento de alguns, principalmente os coadjuvantes.
Apesar dos seus problemas no roteiro, “Os Fantasmas Ainda Se Divertem” consegue ser ainda mais divertido e dinâmico que o original, com novos personagens e subtramas que enriquecem ainda mais a produção. Tim Burton traz todos os elementos que fizeram o primeiro filme se tornar um clássico – o tom mais sombrio, os personagens do mundo pós vida, o humor mórbido, e temas sobre a morte -, acertando no uso dos efeitos práticos e no retorno dos principais personagens. O roteiro ainda tem algumas reviravoltas – uma envolvendo a personagem de Jenna Ortega -, nada de tão surpreendentes ou impactante, mas que realmente nos pegam de surpresa. No mais, “Beetlejuice, Beetlejuice” é uma ótima adição a franquia, estranho, imaginativo, totalmente nostálgico, um típico filme de Tim Burton, e quem sabe o diretor faça um terceiro filme. Dependerá do resultado nas bilheterias.
OS FANTASMAS AINDA SE DIVERTEM: BEETLEJUICE, BEETLEJUICE
Ano: 2024
Direção: Tim Burton
Distribuidora: Warner Bros. Pictures
Duração: 104 min
Elenco: Michael Keaton, Winona Ryder, Catherine O’Hara, Jenna Ortega, Willem Dafoe, Monica Bellucci, Arthur Conti e Justin Theroux
NOTA: 8,5
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