CRÍTICA | OLHOS FAMINTOS

“A cada 23 primaveras, durante 23 dias, ele precisa se alimentar.” Essa é uma das explicações que a médium Jezelle (Patrícia Belcher) dá para os irmãos Trish (Gina Philips) e Darry (Justin Long) sobre uma criatura demoníaca que os persegue, no terror Olhos Famintos, do polêmico diretor Victor Salva. A outra, é que a criatura chamada de “creeper” quer um dos dois irmãos porque um deles tem um “cheiro” específico. Lançado em 2001, o primeiro filme da franquia se tornou um grande sucesso por trazer uma trama envolvente e arrepiante no meio de outras produções de slasher que já estavam saturadas, e acabou se tornando uma pérola do gênero. Na trama, dois irmãos (Trish e Darry) estão indo passar o feriadão na casa de seus pais, e atravessam uma longa estrada vazia. No caminho, eles acabam se encontrando com uma criatura que começa a persegui-los.

O roteiro, que também foi escrito por Victor Salva, constrói bem a atmosfera de suspense e tensão que vai crescendo, e no fim, Olhos Famintos acaba se tornando um “road movie” de terror. O diretor não demora muito para revelar o seu monstro – pelo menos não completamente -, criando cenas realmente assustadoras e dar medo, como a longa sequência na estrada a noite (após a cena do restaurante). Outro destaque são os cenários que atenuam ainda mais o clima de terror e a sensação de perigo, como a igreja cercada de corvos, o porão da igreja com os corpos grudados na parede e no teto – inspirados na Capela Sistina do Vaticano -, o famoso caminhão do Creeper com a placa “BEATINGU” e a temida buzina, e as sequências na estrada totalmente deserta. Mas o filme não deixa de cair nos clichês do gênero, como os personagens tomando decisões erradas – tipo investigar o que a criatura jogou dentro do cano -, mas o detalhe é que a personagem de Gina Philips faz piadas ironizando essas situações.

Gina Philips e Justin Long são os protagonistas de Olhos Famintos, que interpretam dois irmãos, Trish e Darry, respectivamente. Aqui, Victor Salva teve a brilhante ideia de os personagens serem irmãos ao invés de um casal, indo na contramão da maioria dos filmes de terror, que sempre tinham algum casal – mesmo não sendo os protagonistas. Em testes do elenco, Justin Long impressionou bastante o diretor, e de cara foi selecionado para o papel, e não é por menos: o desespero do personagem depois que encontrou o tal porão da igreja, fica muito nítido, o que aumenta ainda mais a sensação de pavor e a terrível situação que acabaram entrando. A dinâmica entre eles, principalmente nas primeiras cenas, é incrível e funciona bastante, cativando o público logo de cara. Para dar vida ao Creeper, foi escalado o ator Jonathan Breck, e aqui uma curiosidade: Victor Salva e os produtores pediram para que Gina Philips e Justin Long não tivessem contato com o ator – já caracterizado como a criatura – até a gravação da primeira cena entre eles.

O ato final se destoa um pouco do restante do filme, deixando o suspense e o terror um pouco de lado para algo mais generalizado e caótico, mas ainda eficiente. Além disso, a mitologia e a origem da criatura nunca são explicadas, entendemos apenas que ele “acorda” a cada 23 anos para caçar, tem um gosto peculiar, e que ele é antigo. No mais, Olhos Famintos é um dos melhores e mais criativos filmes de terror já lançados, um suspense que prende a sua atenção com uma história que vai crescendo cada vez mais, protagonistas carismáticos, cenas impressionantes, e uma criatura assustadora. O filme teve uma continuação lançada em 2003, muito boa também, e outras duas descartáveis (em 2017 e 2021).