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Foto do escritorPaulo Ricardo Cabreira Sobrinho

CRÍTICA | O SOM DA LIBERDADE



O cinema não serve apenas para entreter, mas também é uma forma de alertar o publico aos problemas que acontecem ao nosso redor e que não percebemos, ou não prestamos atenção – e qual mídia mais acessível a todos do que os filmes? -. Temos então o filme mais polêmico de 2023, e provavelmente o mais polêmico dos últimos anos, Som da Liberdade. Dirigido por Alejandro Monteverde e estrelado por Jim Caviezel (que interpretou Jesus em A Paixão de Cristo), a trama de Sound Of Freedom, no original, aborda um tema bem pesado – o tráfico infantil e a pedofilia -, além de ser baseado na história real da vida de Tim Ballard, ex-agente da CIA e ativista no combate ao tráfico sexual. Mas porque esse filme, que arrecadou mais de U$250 milhões mundialmente, e que se classifica como um “filme cristão”, tem causado tanta polêmica por onde passa?


Na trama, Tim Ballard (Jim Caviezel), é um agente da CIA norte-americano que está investigando o sequestro de um grupo de crianças. Um menino que eles acabam salvando pede ajuda à Tim para resgatar a sua irmã, Rocio (Cristal Aparicio), que foi comprada por traficantes colombianos. Mira Sorvino, Eduardo Verastegui e Bill Camp também estão no elenco.


O grande problema de O Som da Liberdade não é pelo filme em si, que é bom por sinal, mas sim pelo envolvimento político que acabou ficando em ênfase, principalmente aqui no Brasil. Mas primeiro vamos falar sobre o filme, que é o foco principal. Sound Of Freedom é um filme forte, emocionante e extremamente sensível, a trama envolve o espectador com um problema que todos sabem que existe, mas não tem ideia da dimensão do que acontece. A fotografia é ótima e insere o público na ambientação do longa, nos fazendo sentir todo o drama e as atrocidades abordadas, além de ter algumas cenas fortes que podem causar uma revolta no espectador – lembrando que nada é explicito, apenas dá a entender o que está acontecendo -.



Os problemas começam com alguns absurdos da trama – a forma como o personagem de Jim Caviezel se infiltra entre os criminosos e pedófilos é bastante duvidosa, mas tudo bem -, e a atuação de alguns personagens não tem nada de tão relevante. Jim Caviezel se sai bem interpretando um ex-agente da CIA que investiga o crime, e à medida que ele vai se envolvendo nessa rede criminosa de pedofilia, sentimos toda a tristeza e a raiva do personagem. Um outro problema é algo muito comum em Hollywood: o filme coloca os latino-americanos como os vilões da história, os criminosos pedófilos, e os norte-americanos os salvadores da pátria. Não é nada de novo, tendo em vista que os Russos e os Alemães sempre foram os colocados como vilões. No caso de o Som da Liberdade, sabemos que existem norte-americanos pedófilos, incluindo padres da igreja católica, já que o filme de auto associa como um “filme cristão”.


Mas então por que toda essa polêmica envolvendo o filme? E por que acabou se tornando um fenômeno de bilheteria? Acredito que o principal motivo é pelo envolvimento político. Estamos em uma época de muita bipolaridade política como nunca aconteceu antes, e acho que se o filme fosse lançado uns dez anos antes, não teria tanta polêmica. O personagem de Jim Caviezel é o típico cidadão norte-americano – branco, cristão e pai de família – e essa formação é a única que a maioria dos religiosos aceitam, a típica família tradicional. Em questão política, a extrema-direita sempre associou a esquerda como apoiadores de bandidos – muitas vezes relacionado com a “educação sexual” vista de forma errada -, e isso é mais frequente aqui no Brasil. Somando isso com as intensas campanhas de políticos da direita e religiosos para assistir ao filme nos cinemas (tanto nos EUA quanto aqui no Brasil), inclusive que a mídia estava boicotando a divulgação do filme, virou toda essa polêmica sem necessidade. Até uma conspiração ganhou força lá nos EUA acerca da existência de uma rede global “adoradora de satanás, canibais e pedófilos”, a QAnon.



Mas o Som da Liberdade é um filme ruim? A resposta é não. E digo mais: se não tivesse toda essa polêmica envolvendo política, o filme passaria despercebido, já que existem várias outras produções com esse tema. No mais, Sound Of Freedom é um filme bem amarrado, prende a atenção do público, é emocionante e vai fazer muita gente chorar, além de abordar um tema pesado e recorrente, infelizmente. Não espere muita ação, perseguição, e tiroteios, e apesar das incoerências e alguns absurdos da trama, vale a pena assistir, nem que seja para estar por dentro de todo esse alvoroço que o filme causou. Ressaltando de novo que não é mostrado visualmente os abusos e que tudo é apenas insinuado, mas mesmo assim é o suficiente para gerar revolta.



O SOM DA LIBERDADE (SOUND OF FREEDOM)


Ano: 2023

Direção: Alejandro Monteverde

Distribuidora: Paris Filmes

Duração: 135 min

Elenco: Jim Caviezel, Mira Sorvino, Eduardo Verastegui e Bill Camp



NOTA: 8,0


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