O primeiro “O Massacre da Serra Elétrica”, de 1974, pode parecer um filme bem simples sobre um assassino que persegue e mata suas vítimas com uma serra (que, por ironia, não era elétrica), mas é muito mais do que isso. Dirigido por Tobe Hooper, a produção ficou marcada como a pioneira dos filmes slasher – junto com Halloween, cinco anos depois -, além de ter impactado toda a geração dos anos 70 com um filme brutal e violento (para a época, claro). “The Texas Chainsaw Massacre” foi um sucesso comercial, faturando mais de U$ 30 milhões só nos EUA com um orçamento U$ 140 mil dólares, e ainda foi proibido em diversos países, inclusive no Brasil, onde somente anos depois foi lançado aqui no país. A trama mostra um grupo de amigos viajando pelo estado do Texas para visitar o túmulo da família de dois irmãos, Sally (Marilyn Burns) e Franklin (Paul A. Partain). Após pararem na antiga casa deles, os amigos são atacados por um maníaco que usa uma “serra elétrica”. Allen Danziger, Teri McMinn e William Vail também estão no elenco.
O Massacre da Serra Elétrica, que completa 50 anos de lançamento em outubro de 2024, tem todo um contexto histórico, e isso o torna muito mais do que apenas um filme. Primeiro que o assassino do filme, “Leatherface”, foi inspirado em um serial killer da vida real, Ed Gein (conhecido como o Açougueiro de Plainfield), que além de ter matados duas mulheres (e suspeito de outras não confirmadas), também roubava os túmulos para retirar os corpos e os ossos. Com isso, ele fazia “lembranças” com os ossos e usava a pele humana para várias situações, inclusive máscaras para usar no rosto. Além disso, o filme foi lançado em uma época conturbada nos EUA: o país estava perdendo a Guerra do Vietnã, o atual presidente, Richard Nixon, estava se renunciando devido ao escândalo de Watergate. Há também algumas críticas/referências ao modo da família norte-americana de viver, e a violência contra a mulher – tendo em vista que a personagem de Marilyn Burns é torturada fisicamente e psicologicamente -.
No meio de escândalos e eventos históricos, O Massacre da Serra Elétrica foi lançado no dia 11 de outubro de 1974, em uma época em que os filmes não eram tão violentos, e por isso o motivo de ter chocado a população na época – O Exorcista já tinha chocado o povo, mas de outra forma -. Acontece que o filme é extremamente violento, a mortes eram bem gráficas, apesar de não ter os banhos de sangue como nos outros filmes do gênero, e as mortes eram mais sugestivas e focadas no desespero dos personagens. Leatherface pendurava suas vítimas ainda vivas em um gancho, e além de matar com a sua famosa “motoserra”, dava marteladas na cabeça e os arrastava até o seu “matadouro”. Eram momentos genuínos de tensão e agonia, que ganhavam forças pelo fato de ter um visual mais “sujo”, com cenários reais ao ar livre, e também por ser um filme independente e sem muitos recursos. Além disso, a ausência de trilha sonora em praticamente o filme todo, torna tudo ainda mais assustador, onde ouvimos somente o som da motoserra e os gritos desesperados dos personagens.
O desenvolvimento é um pouco mais lento, Leatherface demora quase que metade do tempo do filme para aparecer, mas a construção do suspense é ótima e intensifica a sensação de perigo, e o assassino muitas vezes aparece de surpresa, surpreendendo o espectador. Já a ambientação é outro destaque que potencializa ainda mais a sensação de desespero: as estradas vazias, os lugares sujos e abandonados (o posto de gasolina, a casa da família de Sally), dando a impressão de que algo está errado e que o pior vai acontecer, principalmente nos planos abertos ao ar livre. A casa onde mora Leatherface parece inofensiva, mas é macabra, suja, velha, com corpos de animais e caveiras humanas, reforçando ainda mais o horror que os personagens vão passar e a insanidade dos que moram no local.
Outro fator importante que deixa O Massacre da Serra Elétrica ainda mais aterrorizante são as atuações do elenco, onde a maioria era inexperiente na carreira artística. Talvez seja por ser um dos primeiros filmes de slasher – daí na época não tinha a questão de clichês -, mas as atuações são genuínas, simples e eficientes, mesmo não cativando tanto o público, já que a maioria iria morrer. Mas é Marilyn Burns o destaque, que pela lógica seria a primeira “final girl” dos filmes de terror slasher – o termo se popularizou mais com o lançamento de Halloween em 1978, imortalizando Jamie Lee Curtis -. Nunca entendi direito, mas enfim. A atriz interpreta Sally, que sofre horrores nas mãos de Leatherface, e estrela uma intensa cena de perseguição à noite com o maníaco atrás dela, munido de sua motoserra. Os gritos da personagem, o barulho da serra, o desespero; a cena do jantar nos minutos finais é brutal e tensa de uma forma incrível. Detalhe para o foco da câmera no rosto de Sally, principalmente nos olhos e na sua reação pelo que ela está passando, tornando tudo ainda mais real, intenso e pesado.
O Massacre da Serra Elétrica tem seus problemas – o ritmo mais lento no início, incoerências no roteiro, e diálogos chatos -, mas inegavelmente é um marco para o cinema mundial, sempre presente nas listas de melhores filmes de todos os tempos, além de ser referência para vários filmes slasher – ao lado de Halloween -. É brutal, violento, insano, e desesperador, e tudo isso sem mostrar o banho de sangue e carnificina, diferente das sequências e de como são os filmes de hoje. É um filme obrigatório para quem é fã de cinema, e de terror claro.
O MASSACRE DA SERRA ELÉTRICA (TEXAS CHAINSAW MASSACRE)
Ano: 2024
Direção: Tobe Hooper
Distribuidora: Tobe
Duração: 83 min
Elenco: Marilyn Burns, Paul A. Partain, Allen Danziger, Teri McMinn e William Vail
NOTA: 8,0
Não está disponível em nenhum serviço de streaming.
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