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Foto do escritorPaulo Ricardo Cabreira Sobrinho

CRÍTICA | O EXORCISTA: O DEVOTO



O Exorcista, de 1973, é considerado um dos maiores filmes de terror da história do cinema, causou polêmica na época do lançamento e assustou uma geração inteira. Dirigido por William Friedkin – que faleceu em agosto de 2023 -, o terror conseguiu criar um suspense genuíno repleto de tensão, antecedendo as sequências de possessão e exorcismos que causaram um grande impacto no público. O principal motivo desse impacto todo foi por mostrar uma garotinha – Regan (Linda Blair) - sendo possuída por um demônio em cenas fortes, profanando palavrões, e vomitando gosma verde na cara de um padre.


Exatamente cinquenta anos depois, temos O Exorcista – O Devoto, dirigido por David Gordon Green – uma das grandes promessas dos filmes de terror da atualidade –, que faz ligação direta com o original de 1973 e que não justifica a sua existência. Na trama, duas garotas, Angela (Lidya Jewett) e Katherine (Olivia O’Neill), desaparecem em uma floresta e são encontradas três dias depois. Com o passar dos dias, elas começam a agir como se estivessem possuídas, e Victor (Leslie Odom Jr.), um dos pais das garotinhas, recorre a Chris McNeil (Ellen Burstyn) para entender o que está acontecendo e realizar um novo exorcismo.

Um dos maiores erros que algum diretor, ou produtora, pode cometer é fazer uma continuação/ remake de algum clássico do cinema, e esse é o maior pecado de O Exorcista – O Devoto. Esse novo filme é muito inferior ao original, falta vida e carisma na produção, a trama não vinga, é genérico e o diretor tenta causar um impacto, mas não consegue. “O Devoto” segue a linha dos filmes de terror da atualidade, que tenta impressionar pela violência gráfica e esquece do clima de suspense e tensão. David Gordon Green até consegue em algumas cenas, mas nada que faça o público se empolgar ou se contorcer na poltrona do cinema. A trama da uma certa inovada em relação a possessão – ao invés de uma garotinha possuída, temos duas -, também é interessante o fato de elas estarem conectadas, e abordar outras religiões além da cristã como a única que pode resolver tudo, comum nos filmes de exorcismos. Mas tudo é muito raso e sem um desenvolvimento adequado.



Os moldes são os mesmos do filme de 1973: garotinhas possuídas falando palavrões, maquiagem exagerada – um dos poucos pontos positivos do filme -, indícios de possessão, nenhum médico consegue descobrir o que está acontecendo e no fim, acabam recorrendo à religião e os exorcismos. Tem um certo suspense, mas não impressiona e nem assusta, falta aquele clima de horror e mistério que o original tinha, uma ambientação sinistra, e tudo parece ser muito corrido. Se fosse vendido como um filme qualquer, sem estar relacionado ao universo do clássico O Exorcista, poderia se sair melhor.


Outro problema é em relação ao desenvolvimento dos personagens. Chris McNeill (Ellen Burstyn) e Regan (Linda Blair), mãe e filha no filme de 1973, tinham um carisma incrível e uma conexão que convencia o público a sentir tudo o que estavam passando. Em O Exorcista - O Devoto, o caminho é bem diferente: os personagens não tem carisma, não convencem e não se importamos muito com eles, culpa do roteiro que não os desenvolve adequadamente. Lidya Jewett e Olivia O’Neill, as garotinhas possuídas, são as únicas que se destacam, e impressionam quando estão endemoniadas; aliás, um ótimo trabalho de maquiagem aqui. O diretor tenta criar uma conexão entre Victor (Leslie Odom Jr.) e a sua filha, Angela (Lidya Jewett), incluindo inserir uma reviravolta no final, mas o ator não consegue ter carisma, e acaba se tornando aquele cético chato com respostas prontas, colocando tudo a perder.



Até o retorno de Ellen Burstyn, a mãe de Regan no original, não dá muito certo: sua personagem funciona como uma “especialista” em exorcismo, não faz diferença nenhuma para a trama e tem uma participação rápida, servindo apenas para a nostalgia e fazer a conexão com o filme de 1973. E o personagem clássico dos filmes de exorcismo, o padre, é praticamente inexistente aqui. O padre Merrin de Max Von Sydow no primeiro filme era emblemático e marcante, totalmente diferente do padre Maddox de E. J. Bonilla.


Inicialmente, O Exorcista – O Devoto seria o primeiro de uma nova trilogia, mas o futuro parece ser incerto: é um filme bastante genérico e que não faz jus ao clássico de 1973, falta aquele clima mais assustador, nostálgico, e com personagens marcantes que cativam o público. Para quem gosta de uns sustos fáceis, vai gostar do filme de David Gordon Green, o exorcismo no terceiro ato não é ruim, e a reviravolta no final – que inclui uma lição de moral – é bem interessante. Mas se você procura uma história boa, esquece.



O EXORCISTA: O DEVOTO (THE EXORCIST: BELIEVER)


Ano: 2023

Direção: David Gordon Green

Distribuidora: Universal Pictures

Duração: 115 min

Elenco: Leslie Odom Jr., Lidya Jewett, Olivia O’Neill, Ellen Burstyn



NOTA: 5,0
















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