Há um ano, Russell Crowe interpretava Gabriele Amorth, um padre que realizou centenas de exorcismos para o Vaticano, no bem executado O Exorcista do Papa (The Pope’s Exorcist). Agora, o ator ganhador do Oscar por Gladiador (2000), coloca a batina novamente e pega o seu crucifixo para encarar uma outra entidade demoníaca, no confuso O Exorcismo, dirigido por Joshua John Miller. Para nível de curiosidade, o diretor é filho do ator Jason Miller, que interpretou o padre Karras no clássico instantâneo O Exorcista (1973). Misturando metalinguagem e clichês de filmes de exorcismos, a produção acompanha o ator Anthony Miller (Russell Crowe) que é contratado para interpretar um padre em um filme de exorcismo – o ator anterior tinha morrido misteriosamente -. Tony teve um passado perturbado que o levou a se tornar alcoólatra, e agora ele tem a oportunidade de mudar o rumo da sua carreira. Mas as coisas vão ficando complicadas quando situações estranhas começam a acontecer no set de filmagens. Ryan Simpkins, Chloe Bailey, San Worhington, Adam Goldberg e David Hyde Pierce também, estão no elenco.
Filmes sobre exorcismo tem se popularizado muito nos últimos anos, e assim como os filmes “slasher” na metade dos anos 90, estão se sobrecarregando com lançamentos ruins. Parece que está acontecendo a mesma coisa com esse subgênero atualmente, e “O Exorcismo” é um exemplo. O filme tem uma abordagem bem legal – a metalinguagem -, que no caso é um filme dentro de um filme, assim como foi em “Pânico 3”, e o diretor tinha a “faca e o queijo” nas mãos, mas não soube executar direito. Não tem problema nenhum usar os clichês do gênero, e o roteiro poderia brincar com esses elementos, ainda mais que temos a produção de um filme sobre exorcismos como base da trama. Porém, o filme cai nos clichês, criando sustos previsíveis sem efeito nenhum, os típicos flashbacks, portas se abrindo, goteiras na torneira, além de falhar um pouco no quesito do suspense e horror, e que no fim, resulta em uma trama totalmente bagunçada. O problema maior é que o roteiro foca mais no drama psicológico do que em um filme sobre possessão – e não seria ruim seguir por esse caminho, mas aqui não funciona e ainda acaba esquecendo dos elementos típicos de um filme sobre exorcismos. Já os cenários são um pouco limitados, mas ainda assim alguns funcionam, principalmente os do set de filmagens (me lembrou bastante “Hereditário”) onde a ocorre a sequência final, que talvez seja a melhor parte do filme (o detalhe da luz verde foi um bom acerto).
Apesar das limitações do roteiro, que acabam afetando o elenco inteiro, Russell Crowe se sai bem no papel de um ator que interpreta um padre em um filme de terror, e parece que ele realmente está curtindo papéis nesse estilo. O passado do seu personagem, Tony, é o foco da trama, explorando os seus traumas do passado, vícios, perda, e o fato de ele estar tentando se reerguer na sua carreira de ator, além de focar também na relação com sua filha, Lee Miller (Ryan Simpkins). Aliás, mais uma curiosidade: a atriz é irmã do ator Ty Simpkins, de Jurassic World e o Dalton da franquia Sobrenatural. Sobre o elenco coadjuvante, todos parecem totalmente deslocados, e suas atuações não passam naturalidade nenhuma, mas para um filme como esse, está tudo certo.
O Exorcismo é um filme sobre possessão demoníaca, mas o diretor John Miller parece esquecer disso a trama inteira, e o que acaba salvando um pouco é a sequência no final, trazendo - finalmente – os elementos básicos de uma produção sobre exorcismos. A abordagem da metalinguagem sobre um filme dentro de um filme é bastante inovadora nesse subgênero, uma pena que não foi bem desenvolvida, faltando mais terror, mais suspense, além de o roteiro não explorar direito a mitologia sobre os exorcismos, e o resultado final é uma bagunça total. Mas ainda é divertido de se assistir. É interessante as referências que John Miller faz com o clássico O Exorcista, e isso acaba deixando o filme um pouco mais interessante. No mais, é uma pena que tenhamos mais um filme mediano de um subgênero tão amado pelos fãs de terror.
O EXORCISMO (THE EXORCISM)
Ano: 2024
Direção: Joshua John Miller
Distribuidora: Imagem Filmes
Duração: 93 min
Elenco: Russell Crowe, Ryan Simpkins, Chloe Bailey, San Worhington, Adam Goldberg e David Hyde Pierce
NOTA: 5,0
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