CRÍTICA | O BRUTALISTA
- Paulo Ricardo Cabreira Sobrinho
- 21 de fev.
- 5 min de leitura
Atualizado: 5 de mar.


Vencedor de 03 Oscar | Melhor Ator (Adam Brody), Trilha Sonora, e Fotografia.
10 Indicações ao Oscar | incluindo Melhor Filme, Diretor (Brady Corbet), Ator Coadjuvante (Guy Pearce), Atriz Coadjuvante (Felicity Jones), Roteiro Original, Edição, e Design de Produção.
A temporada de premiações está na reta final, e já tivemos uma variedade de produções dos mais variados estilos e histórias incríveis – mas outras nem tanto -. Um dos últimos a estrear nos cinemas do Brasil é O Brutalista, épico dirigido por Brady Corbet, que é considerado um dos favoritos para o principal prêmio da 97ª edição do Oscar, e chama a atenção por um fato bastante inusitado, a sua duração de 3h30 minutos; e tudo fica ainda mais curioso após a decisão fazer um “intervalo” de quinze minutos no meio do filme, algo praticamente inédito na atualidade. A produção tem conquistado diversos prêmios na temporada, incluindo o Globo de Ouro de Melhor Filme Drama, está indicado a 10 Oscars, e começou a ser produzido bem no início da pandemia do COVID, e somente em 2023 que começaram as filmagens. E outro fato interessante é que O Brutalista foi filmado no formato VistaVision, que tem um campo de visão melhor do que o formato comum, além de que combina com a estética do filme e a época em que se passa. Com debates políticos e sociais, a trama de O Brutalista acompanha o imigrante – e arquiteto - Lázlo Toth (Adam Brody), que fugiu da Europa após a 2ª Guerra Mundial para tentar uma nova vida nos EUA. Já na América, Toth aceita uma proposta para construir um centro cultural moderno financiado pelo milionário Harrison Van Buren (Guy Pearce). Mas à medida que o projeto vai avançando, vários problemas e conflitos começam a surgir. Felicity Jones, Joe Alwyn, Raffey Cassidy, e Alessandro Nivola também estão no elenco.
O Brutalista tem um desenvolvimento mais lento, demora um pouco para dar uma engrenada, mas a sua longa duração de 215 minutos (3h35min) ajuda a trama se desenvolver adequadamente; nada fica apressado, e por incrível que pareça, não chega a ser tão cansativo como aparenta. O diretor Brady Corbet aborda temas sociais e políticos comuns da época, como o preconceito contra os judeus, os imigrantes, e como eles eram tratados na América, e principalmente sobre o famoso “sonho americano”, uma realidade onde os estrangeiros fugiam de seus países para os EUA na tentativa que começar uma nova vida – e isso é enfatizando no personagem de Adam Brody -. A produção tem uma carga emocional bem intensa, toca em assuntos importantes e que estão gerando discussões atualmente (principalmente a questão dos imigrantes), os personagens são interessantes e muito bem construídos, fato que ajuda na imersão do espectador com a trama e os conflitos. E um fato curioso é que pouco vemos o estilo de arquitetura brutalista – que é a proposta do filme -, aparece somente lá perto do final quando Toth, de fato, está construindo o centro cultural.

A parte técnica é o grande diferencial de O Brutalista, principalmente pela sua proposta em ser um épico atual. Começando pelo seu estilo de filmagem, no formato Vistavision, muito usado na década de 50 em diante e que permite uma melhor apreciação dos cenários grandiosos, e provavelmente não teria o mesmo impacto se tivessem usado uma filmagem mais convencional. Mas são poucos os momentos em que esse formato é aproveitado, e por conta da fotografia e a direção de arte demonstrar perfeitamente as décadas em que a trama se passa, e sem dúvida pelo fato de o filme ser dividido em três atos e ter um intervalo de quinze minutos – nessa época o número de filmes longos eram mais comuns -, dá a impressão que o diretor queria fazer o filme como se a gente estivesse realmente vivendo na década de 50. O Brutalista também teve bastante críticas negativas na forma como o brutalismo é abordado, fazendo com que vários arquitetos desatestassem o filme, principalmente por que pouco vemos esse estilo visualmente. Além disso, o contexto histórico também foi criticado por historiadores, que não vou comentar aqui para não soltar spoilers. E para fins de curiosidade, e entendimento, o brutalismo é um tipo de arquitetura que surgiu após a Segunda Guerra Mundial na Europa, e são apresentadas de formas geométricas grandes, onde o principal matéria usado é o concreto. Considerado um design moderno, esses tipos de arquiteturas deixam o material visível na construção, sem um acabamento ou revestimento específico, dando uma aparência mais “crua”, uma alternativa rápida e elegante para “reconstruir” cidades afetadas pela guerra.
Adrien Brody, Guy Pearce e Felicity Jones estão indicados ao Oscar por Melhor Ator, Ator Coadjuvante, e Atriz Coadjuvante, respectivamente, e estão ótimos nos seus respectivos papéis, principalmente Brody, considerado o favorito ao prêmio. O ator interpreta o arquiteto Lázlo Toth, um imigrante que recebe a oportunidade única de mudar de vida ao construir um ambicioso projeto de um milionário. Brody dá uma profundidade marcante em Toth, que lembra muito dos seus trabalhos biográficos anteriores, e pelo fato do seu personagem ter um passado traumático por causa da Segunda Guerra Mundial, acaba refletindo na sua personalidade, na sua obsessão pelo trabalho, e na ânsia em concluir o projeto. E como consequência, cai na sua própria ambição, trazendo consequências graves tanto no lado profissional quanto no pessoal. Claro que grande parte da culpa é do milionário Harrison Van Buren, personagem magistralmente interpretado por Guy Pearce, com uma personalidade ambígua, agressiva, e repleta de trejeitos típicos de homens da alta sociedade. Buren se torna um antagonista complexo e cheio de segredos. Felicity Jones entra em cena mais pela metade de O Brutalista, e interpreta Erzsébet, esposa do personagem de Brody, uma mulher que sofreu as consequências da guerra e que estava na Hungria, conseguindo entrar nos EUA. Erzsébet também acaba sofrendo consequências graves pelas atitudes do seu marido, mas que sempre fica do seu lado e faz de tudo para ajudá-lo. É uma atuação marcante e complexa, e o drama da personagem torna a trama ainda mais intensa.

O Brutalista é um filme inusitado e bem diferente do que o grande público está acostumado, as suas 3h30 minutos de duração também não ajuda muito a chamar a atenção, e realmente não é tudo isso que estão falando. É uma produção visualmente impressionante, onde a fotografia e a direção de arte falam por si mesmo, o ritmo da trama flui bem na maioria das vezes, tem seus momentos mais lentos e os mais intensos, mas não é cansativo, além de ótimas atuações – o ponto mais forte – de todo o elenco, que aumentam a intensidade e a veracidade da história. O Brutalista não é um clássico do cinema, mas também não é um filme ruim, vale as indicações ao Oscar, mas não a de melhor Filme, que provavelmente vai ganhar.

O BRUTALISTA
Ano: 2024
Direção: Brady Corbet
Distribuidora: Universal Pictures/ A24
Duração: 215 min
Elenco: Adam Brody, Guy Pearce, Felicity Jones, Joe Alwyn, Raffey Cassidy, e Alessandro Nivola
NOTA: 7,5










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