O Bebê de Rosemary, dirigido pelo polêmico Roman Polanski, é um daqueles filmes que você vai amar ou odiar. Claro que devemos levar em consideração que o filme foi lançado em 1968, época muito diferente e com outros tipos de propostas. A partir dos anos 80, os filmes de terror eram mais explícitos, seja por ter mais sangue, violência, e até monstros e demônios, sendo assim até os dias de hoje – ainda que tivessem produções nesse estilo anteriormente a década de 80, mas era algo bem raro -. Para o público atual, ou pelo menos grande parte, O Bebê de Rosemary vai ser um filme horrível, chato, e sem graça, já que esses estão acostumados com Invocação do Mal, Annabelle, Jogos Mortais, entre outros, que tem propostas mais visuais para assustar e prender o público.
Mas afinal, como é esse tal O Bebê de Rosemary? A trama acompanha um casal – Rosemary (Mia Farrow) e Guy Woodhouse (John Cassavetes), um ator de teatro e TV -, que se mudam para um prédio em Manhattan, NY. Tudo parecia tranquilo na nova casa, o casal pretende ter filhos, conhecem os novos vizinhos, mas a situação muda a partir do momento que Rosemary descobre que está grávida. Com as investidas do seu marido, o interesse dos vizinhos em sua gravidez, e por sempre estar com dores, ela começa a suspeitar que algo está errado e começa a acreditar que uma seita diabólica pretende fazer algo com o seu bebê. Ruth Gordon, Sidney Blackmer, Charles Grodin e Victoria Vetri também estão no elenco.
O Bebê de Rosemary é um thriller psicológico mais sugestivo do que visual, muito bem desenvolvido, abordando paranoias, desconfianças, rituais demoníacos, e segredos, mostrando que algo está errado e só o espectador consegue perceber – até um certo momento -. O filme de Polanski não é um filme sobrenatural, não tem sustos, assassinatos, sangue, ou monstros, é apenas um suspense que insinua tudo o que está acontecendo com Rosemary. Pouco sabemos sobre os rituais – com exceção de uma cena específica -, e pouco sabemos também sobre o que realmente está acontecendo, assim como a personagem de Mia Farrow. Isso torna toda a situação angustiante, e a direção eficaz de Polanski faz com que a gente fique com medo se tivéssemos na situação de Rosemary, sem ter como fugir e para quem pedir ajuda. Grande parte da trama se passa no apartamento de Rosemary, os cômodos da casa, os corredores, você ouve os vizinhos conversando e percebe que eles podem ouvir a suas conversas, e isso torna o filme ainda mais aterrorizante, e o que era para ser um refúgio para a personagem, acaba a deixando mais vulnerável.
Indo para o lado mais crítico, O Bebê de Rosemary aborda temas sociais que são muito atuais, mesmo depois de quase 50 anos de lançamento: misoginia e o controle sobre o corpo da mulher. Claro que tem todo um contexto sobre a personagem achar que está sendo alvo de uma seita satânica, mas sempre a colocam como louca, duvidando de sua sanidade, pouco se importando com seus medos, suas dores, e ninguém a leva à sério; até o marido dela, Guy Woodhouse, quer controlá-la e dizer o que ela deve fazer. Há também uma questão sobre estupro, que fica visível na famosa cena da “concepção”, visualmente polêmica e um dos momentos mais marcantes do cinema. O próprio tema sobre rituais satânicos, o anticristo, demônios, foi bastante polêmico para a época, com entidades religiosas querendo boicotar o filme. Porém, acabou abrindo portas para produções desse subgênero, como A Profecia (1976), que também abordou a chegada o anticristo.
A atuação convincente de Mia Farrow é o elemento chave que torna O Bebê de Rosemary ainda mais assustador. Com seu jeito doce e inocente, sentimos todo o medo e a paranoia que Rosemary está passando, sem ter em quem confiar, como se estivesse cada vez mais presa, tornando a situação mais real e angustiante, nos fazendo torcer por ela. Quem também se destaca bastante é a atriz Ruth Gordon, que interpreta a vizinha fofoqueira e metida de Rosemary – quem não tem uma vizinha assim? -. Minnie é engraçada, estranha e parece ser uma vizinha boa e prestativa, mas suas segundas intenções já aparecem logo no início. Curiosamente, a atriz ganhou o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante pela sua atenção, em 1969.
O roteiro vai deixando dúvidas no espectador ao decorrer do filme, os acontecimentos e as situação não são por acaso – tudo está relacionado –, e os segredos são revelados aos poucos a partir da segunda metade. Além disso, O Bebê de Rosemary tem um ritmo mais lento, mas consegue prender a atenção do espectador com toda a situação tensa que Rosemary está passando. E claro, o final pode não agradar muita gente, lembrando que o filme todo é predominantemente mais sugestivo do que visual e o desfecho não seria diferente, dando margem para o espectador interpretar da forma que achar melhor. Mas é impactante da mesma forma. O Bebê de Rosemary é um clássico do cinema, com uma trama simples, mas eficaz em envolver o espectador com a sua atmosfera de terror e paranoia, além de contar com duas cenas bem chocantes e controversas – principalmente para a época de lançamento -.
O BEBÊ DE ROSEMARY (ROSEMARY'S BABY)
Ano: 1968
Direção: Roman Polanski
Distribuidora: Paramount
Duração: 136 min
Elenco: Mia Farrow, John Cassavetes, Ruth Gordon, Sidney Blackmer, Charles Grodin e Victoria Vetri.
NOTA: 9,5
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