CRÍTICA | NÓS

Atualizado: 23 de mar. de 2022

Quando o diretor Jordan Peele lançou Corra, em 2017, acredito que nem ele tinha ideia do enorme sucesso que seu filme iria fazer, tanto de público, quanto de crítica. Peele nos trouxe uma história inovadora e impactante sobre questões raciais, com um terceiro ato revelador de explodir a cabeça, e que rendeu várias indicações ao Oscar, incluindo melhor filme. Já considerado um diretor em ascensão, todos estavam curiosos sobre os próximos passos de Peele, e agora, ele chega com o também impactante Nós. Com uma pegada mais “slasher” do que um suspense psicológico, o filme tem no elenco Lupita Nyong’o, Winston Duke e Elisabeth Moss.

Sem dar muitos spoilers, a história é basicamente sobre uma família que está viajando, e em uma noite, são atormentados por um grupo de pessoas, aparentemente uma família. Mas o problema é que são eles mesmos. De primeira, a produção parece um pouco confusa, e é mesmo. O trecho inicial mostra algumas cenas que parecem sem nexo, mas que ao longo da trama, tudo vai se encaixando. Isso é mérito do próprio Peele, que também escreve o roteiro, entregando um suspense bizarro, interessante e aberto à várias interpretações e significados. O espectador fica curioso sobre tudo o que está acontecendo, e pelo que vai acontecer. E quando você pensa que o filme é o que está sendo mostrado, o diretor vai mais além.

Diferente como foi em Corra, aqui a produção segue a linha dos “slasher movies”, com assassinatos, perseguições e uma quantidade razoável de sangue, sem ser explicito para causar impacto. Mas, Nós, não se limita a isso, e a trama vai evoluindo e se tornando algo maior, chegando a um nível bem estranho, mas tudo faz sentido e está conectado. A trilha sonora também ajuda a dar um tom de suspense, e é tão diferente que chega a causar um estranhamento no espectador, principalmente na abertura inicial.

Todos os atores estão bem e se destacam na trama, mas é a oscarizada Lupita Nyong’o que nos conduz à trama. Ela abraça a loucura da personagem, mostrando com muita eficiência todos os medos e receios da personagem, que passou por um trauma quando pequena. E a atriz se sai ainda melhor quando interpreta a sua outra versão, mostrando uma dualidade incrível e assustadora no seu papel. Merece uma menção a jovem atriz Shahadi Wright Joseph, que interpreta Zora, filha da personagem de Lupita, que se mostra eficiente nas cenas que exigem mais violência.

O terceiro, e final, ato, é quando o filme toma rumos mais globais, digamos assim, onde tudo que foi mostrado começa, aos poucos, ser explicado, provando que “Nós” é um filme bizarro, mas inteligente, e que tem um final revelador chocante. Jordan Peele acerta novamente com seu novo filme, que agora, aborda questões sociais, em um suspense que mexe com a curiosidade do espectador, deixando-o sem entender praticamente nada. É um filme que não entrega nada de “mão beijada”, fazendo o espectador pensar e tentar compreender tudo o que está acontecendo, resultando em um monte de interpretações. Mais um filme brilhante na carreira de Peele, e esperamos ansiosamente para o seu próximo projeto.