CRÍTICA | NÃO! NÃO OLHE!

Jordan Peele é um diretor que tem se destacando muito, e precisamos ficar atentos nos seus próximos trabalhos. Ele despontou com o indicado ao Oscar Corra!, lançado em 2017, trazendo uma reviravolta extraordinária, e uma ótima crítica social ao racismo. Dois anos depois, ele retornou com o enigmático Nós!, que tinha uma pegada mais para o terror, levantando a pauta da desigualdade social, e racismo também. Agora, o diretor abraça os filmes sobre alienígenas e OVNIS com Não! Não Olhe! (Nope), tema que sempre despertou curiosidade nos espectadores. Com muito mistério, suspense, e sequências eletrizantes, Nope (no original), não tem toda a polêmica dos filmes anteriores de Peele, mas o diretor entrega um grandioso espetáculo visual. Daniel Kaluuya, ‎Keke Palmer‎, Steven Yeun, e Brandon Perea estão no elenco. Na trama, OJ (Kaluuya) e Esmerald (Palmer) estão cuidando do rancho de cavalos da família, na Califórnia, quando acabam presenciando estranhos fenômenos no céu, e descobrem que uma nave alienígena é responsável pelos desaparecimentos na região.

Não! Não Olhe! é um filme que impressiona mais pelo visual do que pela trama em si, se comparado com Corra! e Nós. Peele consegue deixar o espectador curioso sobre o mistério que envolve o OVNI e as sequencias com a nave que se esconde nas nuvens, principalmente por trazer um tema mais “fantástico” para a sua nova produção. Buscando referencias aos filmes de Steven Spielberg, na década de 80 e 90, e até Sinais, de M. Night Shyamalan, o diretor flerta com o faroeste e a ficção, algo parecido com Caubóis e Aliens, de John Favreau, conseguindo criar cenas assustadoras e empolgantes. Muitas dessas cenas tensas acontecem à noite, o que é perfeitamente normal, mas é durante o dia que as sequencias se tornam mais espetaculares e inventivas, mostrando que Jordan Peele também é capaz de assustar, e intrigar, o espectador na luz do dia. E é aí um dos pontos fortes da produção: os planos ao ar livre, mostrando toda a região que rodeia a fazenda dos irmãos, enquanto o tal OVNI vai dando as caras, com destaque para a longa e empolgante sequência final.

Mas nem tudo é um mar de estrelas, e Não! Não Olhe! tem alguns pontos negativos. Em um certo momento, a trama se arrasta demais, o que poderia ter diminuído um pouco as suas 2h15 minutos de duração, além do arco de Steven Yeun ficar meio aleatório na trama, mesmo sendo chocante e bem explorado, mas para a história como um todo parece perdido. E assim como Corra! e Nós, a nova produção de Peele tem uma crítica social – a visibilidade dos atores negros em Hollywood -, mas que não é explorado pelo roteiro, e isso pode decepcionar um pouco quem espera algo como nos seus filmes anteriores.

Nope não é um filme sobre atuações, mas vale destacar a excelente química entre Daniel Kaluuya e ‎Keke Palmer, que interpretam os irmãos Haywood, garantindo a diversão para o público. Carismáticos e engraçados, eles conseguem segurar as pontas, principalmente nas cenas mais lentas, e o arco deles acaba se tornando bem dramático no final. Destaque também para Brandon Perea, que interpreta o especialista em câmeras Angel Torres, empolgado com o fato de estar presenciando aparições de OVNIS, e Steven Yeun, o Glenn de The Walking Dead, que apesar de ter um arco dramático aleatório, com o disse no parágrafo anterior, acaba marcando presença pela complexidade da sua história.

Não há uma grande reviravolta, ou alguma revelação surpreendente, como era de se esperar em um filme de Jordan Peele, apenas cenas impressionantes com a misteriosa nave espacial, e uma eletrizante, e longa, sequência final. Não! Não Olhe! acaba se tornando um blockbuster americano de alto nível, capaz de imergir o espectador na sua trama louca e repleta de mistérios, ajudado pela ótima fotografia (os planos abertos), uma eletrizante trilha sonora, e um desfecho bem dramático, no melhor sentido. No mais, Nope não tem o mesmo impacto de Nós e Corra, e apesar de estar um pouco abaixo do esperado dos filmes do diretor, a produção é envolvente e tem as sequencias mais interessantes do ano, atiçando a curiosidade do público com todo o mistério que envolve o tal OVNI, e a sua estranha revelação. Bizarro, intrigante e envolvente, Não! Não Olhe! é mais um acerto na curta carreira (por enquanto) de Jordan Peele. Mas não espere muita coisa.