O leitor mais velho, entre os cinquenta e sessenta anos, deve lembrar dos famosos épicos, como Os Dez Mandamentos e Ben-Hur, ambos lançados em 1959, hoje considerados grandes clássicos do cinema. Esse subgênero foi pouco aproveitado nas últimas décadas, mas de vez em quando, aparece um que outro, como o polêmico filme de Mel Gibson, A Paixão de Cristo. O diretor Darren Aronofski, de Cisne Negro, nos traz a sua versão de um famoso conto bíblico, a arca Noé. Quando falei “a sua versão”, quis dizer que seu novo filme, Noé, é diferente da versão que está na Bíblia, como se fosse uma versão atualizada; mas ainda tem os elementos básicos da história. No elenco estão Russel Crowe, Jennifer Connely, Anthony Hopkins, Emma Watson, Logan Lerman, Douglas Booth e Ray Winstone.
Noé (Crowe) recebe um aviso que várias pessoas irão morrer afogadas, e com a ajuda de seu avó, Matusalém (Hopkins), descobre que irá acontecer um enorme dilúvio, destruindo a humanidade. Junto com sua esposa, Noéma (Connelly), e seus filhos, ele deve construir uma enorme arca para abrigar os animais, única espécie que deverá ir ao novo mundo, e impedir que o perverso Tulbacaim (Winstone), tome conta da arca de Noé.
Darren Aronifski, que dirigiu e roteirizou, faz, em seu novo filme, uma reconstrução da história bíblica de Noé. Os elementos básicos estão presentes, as visões, os animais, as profecias, os personagens, o dilúvio, mas ele cria uma ambientação mais realista, ao mesmo tempo que cria novos elementos para sua história. O resultado é um enredo muito interessante, repleta de mensagens, questionamentos e metáforas, que desconstrói o mito criado em torno de Noé: aqui, ele é humano, comete erros, fica entre as escolhas de Deus ou a dos humanos; será que Deus daria uma segunda chance para a humanidade? Há também vários detalhes durante o filme que mostram que não é a versão “verdadeira” que está na Bíblia: pangeia durante a época da humanidade? Além de colocar uma cena de guerra, e com seres gigantes, em uma adaptação bíblica? Fato curioso que dá toda uma beleza ao filme. Os efeitos especiais são ótimos, algumas visões de Noé são assustadoras, e o dilúvio é bem produzido, assim como a construção da arca e a chegada dos animais. Talvez, por causa de todos esses elementos, o filme se afaste de um épico bíblico, se tornando um blockbuster de filme catástrofe.
O filme conta com um grande elenco e com ótimas atuações. Russel Crowe está bem no papel de Noé, que está cego pela sua fé, passando por dilemas entre as escolhas de Deus e a sua família, principalmente na parte após o dilúvio; Jennifer Connely é Noema, esposa do visionário, que se destaca mais na parte final da trama, quando exige uma maior carga emocional, assim como Emma Watson, e sua Ila, que acaba sendo adotada pela família, e engata um romance com o filho mais velho, Sem (Douglas Booth), que se torna muito importante para a conclusão. Logan Lerman é o filho do meio, Cam, que consegue demonstrar muito bem a ambiguidade do personagem, e o irmão mais novo, Jafé, é interpretado pelo desconhecido Leo McHugh. O vilão é Tulbacaim, vivido pelo ótimo Ray Winstone, que já é marcado por interpretar papéis mais “durão”, e faz um forte personagem, ambicioso, que é descendente de Caim. E ainda tem a participação de Anthony Hopkins, como Matusalém, avô de Noé, ainda que seja pequena, mas importante e marcante também.
Noé não é um filme impressionante e nem empolgante, mas tem um ritmo bom, adequado ao enredo, e é interessante ver como Darren Aronofiski pegou uma história da Bíblia e fez a sua versão, que se torna mais realista, e que tem vários questionamentos que giram em torno do “será que a humanidade merece uma segunda chance no novo mundo?”. Será que as decisões de Noé são adequadas? Com um ato final surpreendente, e que levanta ainda mais questões morais, Noé é um forte blockbuster hollywoodiano, que nada tem haver com a história mostrada na Bíblia; é melhor e mais divertida.
NOÉ (NOAH)
Ano: 2014
Direção: Darren Aronofski
Elenco: Russel Crowe, Jennifer Connely, Anthony Hopkins, Emma Watson, Logan Lerman, Douglas Booth e Ray Winstone
NOTA: 8,0
Disponível na NETFLIX.
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