CRÍTICA | NOSFERATU (2024)
- Paulo Ricardo Cabreira Sobrinho
- 3 de jan.
- 4 min de leitura
Atualizado: 24 de jan.


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Robert Eggers tem uma breve filmografia com apenas três filmes no currículo, todos muito elogiados pela crítica especializada e pelos fãs de terror, mas nenhum deles acabou agradando o grande público. Lembro do seu filme de estreia, A Bruxa, onde grande parte dos espectadores saíram revoltados e decepcionados da sessão. Claro, a abordagem do diretor é diferente, não são filmes blockbusters com um apelo mais comercial, são produções mais cults, “refinadas”, e suas obras posteriores também são exatamente assim. Seu mais novo trabalho é “Nosferatu”, refilmagem de um filme mudo e preto/branco de 1922, um clássico do expressionismo alemão que passou por momentos conturbados na época do lançamento, mas é considerado um dos melhores filmes de todos os tempos, servindo como inspiração para várias produções do gênero. O diretor Robert Eggers sempre foi um grande fã do clássico de 1922, e sempre demonstrou interesse em fazer uma refilmagem.
O novo Nosferatu não vai agradar a todos, é um filme com um ritmo mais lento, uma abordagem diferente do que o grande público está acostumado, mas a trama é envolvente e prende a atenção pelo mistério, personagens, e cenários góticos assustadores. O enredo segue pelo mesmo caminho do filme de 1922, onde um corretor de imóveis, Thomas Hutter (Nicholas Hoult), precisa ir até uma região da Transilvânia para fazer a venda de um imóvel para o conde Orlok (Bill Skarsgard). Lá, o misterioso vampiro acaba vendo uma foto da esposa de Thomas, Ellen (Lily-Rose Deep), por quem acaba se apaixonando, e decide ir atrás dela na cidade de Wisburg, Alemanha. Ralph Ineson, Emma Corrin, Aaron Taylor-Johnson, e Willem Dafoe também estão no elenco.

A história é a mesma, porém, mais dinâmica e desenvolvida – são 2h10 minutos de duração contra as 1h25 do original -, e o clássico jogo de sombras com a aparição do vampiro (marca registrada do primeiro filme) estão lá. E tendo em vista os seus trabalhos anteriores, Eggers sabe o que está fazendo: o design de produção, os cenários, a fotografia, são eficazes em transportar o público para a época que o filme se passa, tudo com muitos detalhes que enfatizam o estilo gótico dos filmes anteriores. O castelo do conde Orlok é assustador e muito bem-produzido, e o perigo pode estar em qualquer cômodo do lugar, criando sequências visuais impressionantes que aumentam a tensão já criada pelo roteiro. Queria mais cenas no castelo do Nosferatu. Aliás, o suspense e a tensão são outras coisas que o diretor faz muito bem, misturando mistério com simbolismo, ocultismo, e cenas tensas de possessão demoníaca – impulsionadas também pelas atuações convincentes do elenco -. Aqui uma ressalva: quem conhece os outros filmes de Robert Eggers, sabe que tem cenas e situações estranhas, as vezes parecem ser sem nexo com o roteiro.
As atuações do elenco tem seus altos e baixos, mas todos conseguem convencer nos seus respectivos papéis. Lily-Rose Deep, que é filha do astro Johnny Deep, é a “princesa” prometida de Nosferatu, consegue ser bastante expressiva, e surpreende nas cenas de loucura e possessão de sua personagem, mas que não se sai tão bem nas cenas dramáticas. Willem Dafoe interpreta o professor Eberhart, um controverso filósofo que lida com ocultismo e misticismo, criando um personagem marcante e com uma personalidade forte, e Nicholas Hoult se destaca bastante como o protagonista Thomas Hutter, as vezes bobo, e sempre apaixonado, sentimento que nove o seu personagem. A ressalva aqui é em relação ao conde Orlok de Bill Skarsgard: única coisa que me incomodou foi a aparência do vampiro, um pouco exagerada e fantasiosa, assustador claro, mas não tanto quanto o Nosferatu do original de 1992, e a primeira refilmagem. O vampiro original tinha uma aparência mais simples, e consegue ser mais assustador que o de Skarsgard, principalmente pelas suas feições – talvez porque o filme era mudo e as expressões eram extremamente importantes -. Mas o ator está ótimo no papel do conde Orlok, conseguindo também ser amedrontador e assustador com sua aparência mais monstruosa.

Por trás de todos os elementos de terror, os cenários góticos, as possessões e rituais de ocultismo, o remake de Nosferatu tem uma forte história de amor e obsessão (a assustadora sequência final potencializa bem isso), além de pensamentos políticos e problemas sociais – a “propagação da peste” -, que aumenta ainda mais o interesse do público pela trama diferente. No mais, Nosferatu é uma ótima releitura do clássico de 1922, mostrando o trabalho eficiente de Robert Eggers em explorar o medo e a tensão, criando cenários assustadores, uma direção de arte incrível e muito bem trabalhada, além de explorar os maiores medos, as loucuras, e os sentimentos mais profundos dos seus personagens. Lembrando que não é um filme que vai agradar todo mundo, por isso, tenha a mente mais aberta assim como o controverso professor Albin Eberhart Von Franz.

NOSFERATU
Ano: 2024
Direção: Robert Eggers
Distribuidora: Universal Pictures
Duração: 131 min
Elenco: Nicholas Hoult, Lily-Rose Deep, Bill Skarsgard, Ralph Ineson, Emma Corrin, Aaron Taylor-Johnson, e Willem Dafoe
NOTA: 9,0








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