CRÍTICA | NO RITMO DO CORAÇÃO

Atualizado: 1 de abr. de 2022

03 Indicações ao Oscar 2022

Vencedor de 3 Oscar Melhor FILME, ATOR COADJUVANTE (Troy Kotsur) e ROTEIRO ADAPTADO.

Ganhador dos principais prêmios no Sundance Festival, em 2021, e hoje, indicado a 03 Oscar, incluindo Melhor Filme, No Ritmo do Coração é uma emocionante trajetória sobre amadurecimento e independência, dos olhos de uma adolescente que é muito ligada à sua família. Parece ser uma história como outra qualquer, mas há uma grande diferença: a jovem é filha de uma família de surdos. CODA, no título original, é a sigla de “Child of Deaf Adults” (filha de adultos surdos), e ainda traz uma outra agradável, e necessária, surpresa: o elenco principal são atores surdos na vida real, trazendo mais representatividade, e seriedade, para a produção. No Ritmo do Coração é uma adaptação de um filme francês, A Família Bélier, de 2014 (que não tinha atores surdos), e tem no elenco Emilia Jones, Troy Kotsur, Marlee Matlin, Eugenio Derbez e Daniel Durant.

Na trama, Ruby (Emilia Jones) é a única da sua família que não nasceu surda, e trabalha no negócio dos seus pais como interprete deles, além de ajuda-los na pescaria. Seu sonho é se tornar uma cantora, e finalmente, ela tem a oportunidade de seguir os seus sonhos, mas sua família depende muito dela para poder se comunicar com os outros, e Ruby precisa decidir entre ficar com eles, ou seguir com o seu sonho.

No Ritmo do Coração consegue nos envolver durante as suas quase duas horas de duração, com sua trama despretensiosa, de uma forma delicada e inclusiva, emocionando o espectador. A diretora Sian Heder dosa perfeitamente o humor e o drama, nos apresentando uma dinâmica familiar bastante leve, e apesar do grande número de clichês (a jovem “invisível” por todos na escola, que tem um dom, e que se apaixona pelo garoto popular, a amiga confidente, o professor que ajuda a personagem na busca dos sonhos), não atrapalham em nada, pelo contrário, são clichês necessários, e que somam para a produção.

Grande parte do filme é falado pela linguagem dos sinais, mas com legendas, mostrando como os surdos sentem dificuldade em se comunicar com as pessoas, indicando que a população em geral não está preparada para atendê-los; mas em nenhum momento os mostra como “coitados”, eles são independentes e trabalhadores, como qualquer outra família. Em uma cena bem comovente, vemos da perspectiva deles uma apresentação de música, sem áudio nenhum, onde assistimos somente à reação da plateia, nos conectando ainda mais com a trama, e com os personagens.

O elenco é um destaque a parte, todos muito bem desenvolvidos com seus dramas e complexidades individuais, mas o mais legal, e importante, é o núcleo principal, Troy Kotsur, Marlee Matlin, e Daniel Durant, a família de Ruby, por serem realmente surdos, onde a personagem de Emilia Jones é a única que nasceu sem essa condição. Ruby é a interprete oficial deles, tem uma vida tranquila, dividida entre o trabalho com sua família e os estudos, e decide seguir com o seu sonho de ser cantora. A atriz comove o espectador, e se sai muito bem na língua dos sinais, mas quem tem se destacado nas premiações, é Troy Kotsur, o patriarca da família, que está indicado ao Oscar de melhor Ator Coadjuvante. Ele constrói um personagem divertido e carismático, e sua sintonia com Marlee Matlin é incrível, trazendo espontaneidade às cenas. A atriz, que interpreta Jackie, foi a primeira atriz surda a ganhar um Oscar pelo filme Filhos do Silêncio, de 1987. Fechando o núcleo principal, Daniel Durant é o irmão de Ruby, Leo, que ganha força nos momentos mais dramáticos da produção.

No Ritmo do Coração recebeu a indicação ao Oscar de melhor Filme, merecidamente, e é delicioso poder acompanhar a trajetória, e a evolução, da família, superando os problemas e dificuldades de cada um, onde tudo é apresentado naturalmente e de forma realista. A história é envolvente, emocionante, tem personagens carismáticos e fáceis de se criar um vínculo, faz a gente pensar sobre o tema, mostrando que a sociedade não está preparada para a comunicação com os surdos, e o mais importante, a representatividade, pela escalação de atores surdos, trazendo uma conexão maior para o público. Prepare seu coração, e os lenços, porque a emoção, e os choros, são garantidos.