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Foto do escritorPaulo Ricardo Cabreira Sobrinho

CRÍTICA | MÃE!

Atualizado: 3 de nov. de 2021



Tem filmes que são apenas para entretenimento, sem muito aprofundamento. Outros, já são mais reflexivos, complexos, forçando o espectador a pensar, tentar desvendar os segredos da trama, com dicas aparecendo durante o filme todo, e mesmo assim, as vezes sai do cinema sem entender nada. Produções nesse estilo são os melhores, na minha opinião, e o legal disso é que cada um interpreta de uma forma. Interestelar (2014), A Bruxa (2017), Donnie Darko, Ilha do Medo, A Origem, entre outros, são alguns exemplos. O filme da vez é o angustiante Mãe, do diretor Darren Aronofski, que vem dividindo opiniões pelo mundo todo, gerando polêmica porque a maioria sai da sala do cinema sem entender nada. Primeiro, falarei sobre o filme sem explicar sobre o que o filme realmente se trata. Depois, contarei tudo para vocês entenderem. No elenco grandioso estão Jennifer Lawrence, Javier Barden, Michelle Pfeiffer, Ed Harris, Dohmhall Gleesson e Kristen Wigg.


A história se passa em uma casa no campo que tempos atrás sofreu um incêndio, onde um casal, Lawrence (Mãe) e Javier (“homem”), vivem; o personagem de Javier é escritor e Lawrence fica reconstruindo a casa, arrumando e pintando. Aos poucos, eles são atormentados por pessoas que vão chegando no lugar, o que deixa a personagem de Lawrence atormentada, causando o caos e levando-a a testar sua sanidade.


Um filme realmente bom é aquele gera discussão e que divide opiniões: uns vão amar, outros odiar. E Mãe é um ótimo exemplo disso. O enredo prende a atenção do público, que vai aos poucos ficando mais complexo; e estranho. E com isso, a tensão vai aumentando cada vez que alguma coisa acontece. Quando tudo parece estar bem, a bizarrice e a loucura voltam, mas dessa vez, mais tenso e angustiante ainda, levando para o seu ato final, digamos, chocante e repugnante, fazendo com que muitos saem detestando o filme. E isso não é ruim, pelo contrário. São cenas gráficas chocantes e situações absurdas que com certeza irá mexer com o espectador.



A história toda se passa basicamente dentro da casa, com apenas alguns ângulos de fora, mostrando a casa de longe. É um ambiente simples, rústico, que está em reformas, cercado por natureza, daqueles que muitos queriam passar pelo menos uma semana para descansar. E mesmo assim, a sensação de perigo é iminente, criando uma atmosfera perturbante. Outro detalhe interessante é o fato de a câmera sempre acompanhar Jennifer Lawrence, mostrando que o foco da história é do ponto de vista dela. Isso já é uma dica para entender o filme. São esses detalhes que deixam o filme ainda mais agoniante, como se a gente estivesse passando pelo que a personagem está.


Os personagens principais são a Mãe e o “Homem”, que aos poucos vão recebendo visitas inesperadas de personagens que colocam ela e a casa em perigo; é interessante como a personagem de Lawrence tem um apego pela casa (outra dica). Os personagens de Michelle Pfeiffer e Ed Harris, são algumas das pessoas loucas que surgem, assim como Donnhnal Glesson e seu irmão, Brian (filhos do ator Brendan Glesson), que já chegam causando a maior confusão. Pfeiffer sempre se mostra marcante e presente, e Lawrence demonstra muito bem todo o drama e sofrimento de sua personagem. Javier é sempre uma figura incógnita, e Ed Harris faz algumas cenas tensas, mas não chama muito a atenção. Vários outros personagens vão aparecendo, a maioria em grupos, com destaque para a atriz Kristen Wigg, que geralmente faz comédias, e aqui, com pouco tempo em cena, interpreta a editora do personagem de Javier, que também começa a enlouquecer e fazer coisas absurdas.


Mãe é uma alegoria, um filme com várias interpretações, complexo, exigente, gráfico, que vai deixar muita gente revoltada e achar o pior filme de todos. Mas não é. Só pelo fato de dividir tanto a opinião de todos, e fazer as pessoas refletirem e comentarem sobre o filme depois que sair da sessão, mesmo que seja falando mal, o longa de Darren Aronofsky é um dos melhores e mais interessantes filmes lançados. Repugnante, angustiante, nos conduz a uma montanha russa de emoções, com situações absurdas e caóticas, mexendo com os nervos do espectador, para nos levar a um chocante, e revoltante sim, terceiro ato. Você vai sair da sessão sem entender nada, e quase certo que não irá gostar. Um filme brilhante.


 

Abaixo, a explicação para quem não entendeu o filme. Tem SPOILERS sobre o filme, então só leia se já assistiu.


Mãe é um filme de várias interpretações, mas o que mais faz sentido, e que já foi confirmado pelo diretor, Darren Aronofsky, é uma alusão à Bíblia.


A história se passa em uma casa, com dois personagens principais: a Mãe (Jennifer Lawrence), e o “Homem” (Javier Barden). A casa seria a TERRA; a personagem de Lawrence é a MÃE NATUREZA, e o personagem de Javier é DEUS. Como sabemos, Deus criou o universo, a Terra e a Mãe natureza.


Logo no início, aparece um homem na casa, o personagem de Ed Harris. Ele seria ADÃO, que foi recebido de grandes braços por Deus, que o criou. A Mãe natureza acha estranho alguém “invadir” a sua casa, por isso a reação de Lawrence, porque causa um desequilíbrio no ambiente.


Adão está doente, e em uma cena, vemos um corte em suas costas. Como na bíblia, Adão deu uma de suas costelas para que Deus lhe de uma companheira. No dia seguinte, chega a personagem de Michelle Pfeiffer, esposa do personagem de Ed Harris, que no caso, seria a EVA. Ela chega provocando a Mãe natureza, deixando-a aflita.


Em uma cena, Deus mostra à Adão um cristal, muito importante para Deus, que está no seu amado escritório. Essa pedra seria o FRUTO PROIBIDO. Adão fica fascinado, e quando Eva chega, ele mostra a ela. Por descuido, eles acabam quebrando o cristal, causando a ira de Deus, que os expulsa de seu escritório. Na bíblia, Adão e Eva são expulsos do paraíso por comerem a maça (o fruto proibido). O PARAÍSO é o escritório do personagem de Javier.


Na bíblia, Adão e Eva tem dois filhos: Caim e Abel. Logo na sequência, dois homens chegam na casa. Eles são os filhos de Pfeiffer e Ed Harris. O mais velho é CAIM, e o mais novo, ABEL. No filme, um dos irmãos recebe algo mais na herança, deixando um deles com inveja, e começam a brigar, até resultar na morte de um dos irmãos. Na bíblia, Caim matou seu irmão mais novo, Abel, por inveja.


Deus oferece sua casa para o funeral da família, o que resulta em mais personagens aparecendo, fazendo bagunças e atormentando a Mãe Natureza. Revoltada com tudo, ela “surta” e expulsa todos de sua casa. Esse seria o primeiro FIM DO MUNDO, o DILÚVIO. Em uma cena, dois personagens estão sentados no balcão, e a personagem de Lawrence pede repetidas vezes par que eles saem, até que o balcão quebra, jorrando água por toda a cozinha. Isso seria o diluvio.



Após isso, Deus fica sozinho com a Mãe natureza, e a personagem de Lawrence acaba engravidando. Deus fica empolgado com a notícia, e finalmente consegue escrever sua próxima história. Essa nova história seria o NOVO TESTAMENTO. A sua nova obra chama a atenção de todo mundo, que acabam aparecendo na casa deles. No filme, os personagens são vistos como perversos, loucos e impuros, e com a chegada de todos, uma sequência de loucuras e desastres acontecem: a Mãe natureza, grávida, acompanha as guerras, conflitos e tragédias tomando conta de sua casa; fome, miséria, mortes, confusão, que causam o desespero da Mãe natureza, destruindo tudo.


No meio disso tudo, a personagem de Lawrence dá à luz a um menino. Esse menino, o filho e Deus, é JESUS, a maior criação Dele. Todos na casa ficam fascinados, e contra vontade da Mãe natureza, Deus mostra o seu filho aos fiéis. Nessa chocante e gráfica sequência, os fiéis sequestram o bebê, e acabam o matando (desmembrando e comendo pedaços do bebê). Essa parte seria a CRUCIFICAÇÃO de Jesus.


A cena final, que poderia ser interpretada como um futuro distante (?), é a Mãe natureza revoltada com tudo, que acaba ateando fogo, que se espalha por toda a casa, matando todos e destruindo toda a casa. Seria mais um FIM DO MUNDO? Deus não é afetado pelo incêndio, e resgata a mãe natureza. O que sobra dela é um pedaço de cristal, o mesmo que o personagem de Javier tinha no seu escritório. O filme acaba com a casa sendo reconstruída, e uma outra mulher acorda sozinha na cama, exatamente como na primeira cena do filme, que era Jennifer Lawrence. Ou seja: tudo começaria de novo, como uma segunda chance para ver se tudo dá certo dessa vez.


Toda essa analogia, pode se referir também às atitudes dos seres humanos ao longo da história, como guerras, conflitos, ambições, inveja, poluição e destruição da natureza, e por aí vai. Outra interpretação também, seria a forma passiva como as mulheres agiram, e agem, perante aos homens, e a forma como eles agem com as mulheres. Enfim, são muitas interpretações, e por isso também que Mãe é um filme brilhante.





MÃE! (MOTHER!)


Ano: 2017

Direção: Darren Aronofsky

Elenco: Jennifer Lawrence, Javier Barden, Michelle Pfeiffer, Ed Harris, Dohmhall Gleesson e Kristen Wigg



NOTA: 9,0




Disponível na NETFLIX.










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