CRÍTICA | MISSÃO IMPOSSÍVEL 2

O primeiro Missão Impossível, lançado em 1996, conquistou o público e a crítica por vários motivos, desde o carisma e a presença de Tom Cruise até a trama de espionagem – muito bem desenvolvida -, além de uma sequência final eletrizante. A continuação levou quatro anos para ficar pronta, e ao invés de Brian de Palma, a direção ficou por conta de John Woo, que na época era o diretor favorito dos filmes de ação. Trocando o suspense e a tensão por muito mais ação e pancadaria, além de trazer o retorno de Tom Cruise e Ving Rhames, Missão Impossível 2 acompanha a nova missão de Ethan Hunt, que precisa recuperar um vírus mortal, a Quimera, das mãos do terrorista Ambrose (Dougray Scott). O agente contará com a ajuda da ladra Nyah (Thandie Newton) para pegar o vírus antes que ele se espalhe pelo planeta.

O charme de Missão Impossível 1 era o foco que Brian de Palma dava na trama de espionagem, com muitos mistérios e reviravoltas a todo instante, deixando a ação para o final. Missão Impossível 2 mantém todos esses elementos dos filmes de espionagem, as reviravoltas, tudo o que o primeiro fez de correto, e apesar da trama não ter um cuidado melhor, a continuação tem mais ação, pancadaria, explosões, é puro entretenimento, e tudo isso na eficiente direção de John Woo. A trama do vírus é bem menos complexa do que a de traição do filme de 1996, e apesar de ter os seus problemas, MI2 compensa pelas sequências de ação. Pouco importa se a trama é coerente ou se faz sentido, e provavelmente você nem vai perceber – ou dar bola – para situações sem a menor explicação (ou lógica) de como Ethan chegou a tal lugar, ou o tom mais apressado dos acontecimentos. O que queremos assistir é Tom Cruise salvando o mundo e tentando sobreviver a mais uma de suas missões (impossíveis).

Além dessas situações inverossímeis, o problema maior é no desenvolvimento dos personagens, em especial Nyah, interpretada por Thandie Newton. A culpa não é da atriz, ela se sai bem dentro das limitações do roteiro, mas ela pouco desenvolvida na história, ficando muito dependente dos personagens masculinos e tem poucos momentos para brilhar sozinha. Além disso, a química com Tom Cruise não é boa, mesmo que no início seja muito promissor para “pegar fogo”, mas logo vai esfriando à medida que eles se separam, e os momentos emocionantes entre eles acabam não tendo o efeito apropriado – a cena do laboratório funciona -. Tom Cruise continua com o mesmo carisma de antes, faz mais acrobacias, e ainda está com o cabelo comprido, e Dougray Scott (Ambrose) faz um vilão ameaçador, mas nada de tão empolgante.

Em MI1, a cena clássica foi quando os personagens invadiram a agência da CIA, e Tom Cruise ficou suspenso na sala do cofre, quase encostando no chão. Já em MI 2, a cena clássica é quando Ethan explode a porta da sala onde estão todos os vilões, e ele passa caminhando pela porta encarando todos eles, tudo em câmera lenta. É a cena que você olha e começa a rir de tão ridícula que é, mas tem um efeito grandioso no filme que acaba se tornando uma referência. A direção de John Woo é caótica – no bom sentido -, com cenas de ação empolgantes e com uma marca recorrente nas produções do diretor: a câmera lenta e os movimentos em 360º. A prova disso é a eletrizante sequência final com perseguição de motos, carros, muito tiroteio, explosões, acrobacias, e uma luta corpo a corpo entre Ethan e Ambrose em um deslumbrante penhasco na Austrália, e finalizando com uma cena bem dramática.

Apesar dos seus problemas – a coerência é a maior delas -, Missão Impossível 2 é maior, mais divertido e empolgante do que o primeiro, trazendo uma trama mais simples e ainda mantendo o tom de um filme de espionagem que o primeiro filme teve. Tem suspense e situações tensas, mais ação que o antecessor, e Tom Cruise fazendo praticamente todas as cenas de ação sem duble nenhum (a sequência em que Ethan escala a montanha no deserto é o próprio ator). MI1 é uma aventura mais chique, mais gourmet, enquanto MI2 é uma farofada total, e isso funciona perfeitamente já que se trata de um filme que é puro entretenimento. Tiro, porrada e bomba é o que você mais vai ver nessa segunda missão (impossível) de Ethan Hunt.