CRÍTICA | MICKEY 17
- Paulo Ricardo Cabreira Sobrinho
- 7 de mar.
- 4 min de leitura

Em seus filmes, o diretor sul-coreano Bong Joon-Ho sempre traz alguma critica social das mais diversificadas, junto com tramas mirabolantes e inusitadas. O Hospedeiro, de 2006, sobre um monstro que causa o maior caos em uma cidade da Coreia do Sul, falava sobre questões ambientais e problemas familiares – ainda que de forma mais tímida -. Já O Expresso do Amanhã, de 2013, criticava a diferença de classes entre um grupo de pessoas em um trem futurista. O reconhecimento definitivo veio com Parasita, em 2019, vencedor do Oscar de Melhor Filme – e filme estrangeiro -, que fazia um ácido e impiedoso retrato sobre a relação entre duas famílias – uma rica e outra pobre -, com um desfecho chocante.
Agora, o diretor entra no gênero da ficção-científica com “Mickey 17”, baseado na obra “Mickey7” de Edward Ashton, abordando temas como questões políticas, ambientais, e de classes, em uma trama interessante que também fala sobre crises existenciais, envolvendo principalmente o personagem título, interpretado brilhantemente por Robert Pattinson. Na trama, o jovem Mickey Barnes (Pattinson) está devendo para um agiota, e para fugir ele se inscreve em um programa espacial de colonização como um “dispensável” – isto é, ele vai até os planetas para ver se é possível a vida humana, e se ele morrer, fazem um clone dele com as mesmas memórias -. Mas em uma das missões, Mickey (que já está na sua 17ª versão) acaba não morrendo, e mesmo assim fazem um clone dele, resultando em dois “Mickey’s” - agora o 18º -, colocando todo o programa em risco. Mark Ruffalo, Toni Collette, Naomi Ackie, Holly Grainger, e Steven Yeun estão no elenco.

Mickey 17 é um filme bastante criativo, único, e que se diferencia dos outros trabalhos do diretor sul-coreano Bong Joon-Ho, mas ainda tem as críticas sociais típicas de seus filmes, – o jeito autoritário dos líderes, questões sociais sobre meio ambiente, sociedade, classes, e questões mais filosóficas sobre a clonagem humana, colonização espacial -, tudo isso com elementos de filmes de ficção-científica e viagens no espaço. O problema maior é que essas críticas não são bem desenvolvidas no roteiro, e algumas situações não causam um grande impacto que deveriam ter, como foi o caso de Parasita. Além disso, tudo é exagerado, em excesso, um caos total na história e nos acontecimentos, fato que pode causar um estranhamento no espectador que não está acostumado com filmes nesse estilo. E mesmo com essas críticas mais sérias e reflexivas, o humor está sempre presente ao longo do filme, desde as condutas de alguns personagens, e até mesmo nas cutucadas que o roteiro faz sobre a sociedade atual, e apesar de tantas abordagens ricas em conhecimentos, e que poderiam dar mais profundidade para a trama, o ritmo peca as vezes, ficando lento e arrastado demais.
O trunfo maior de Mickey 17 é, principalmente, a atuação de Robert Pattinson interpretando os vários clones de Mickey, seu personagem. Os principais “Mickey’s” são o 17 e o 18, ambos com personalidades bem diferentes, onde Pattinson consegue diferenciar perfeitamente cada um, explorando as nuances de cada um dos personagens, até a voz é diferente. É incrível a versatilidade de Pattinson em interpretar os mais variados personagens e sempre se saindo bem – nunca esqueço que falaram tanto da sua escalação para interpretar o Batman, e o ator ficou perfeito para o herói -, e com as duas versões do seu Mickey, isso fica ainda mais evidente. Mark Ruffalo é o fracassado ex-candidato a presidente, Kenneth Marshall, o típico representante político americano – lê-se Donald Trump -, um personagem extremamente chato e que só pensa nele mesmo, além de enganar todos falsas promessas. Ruffalo parece estar se divertindo com o personagem, fazendo um antagonista exagerado e caricato. Já Toni Collette segue pelo mesmo caminho ao interpretar a esposa de Marshal, criando uma personagem também exagerada e caricata, causando uma repulsa no espectador graças ao excelente trabalho da atriz. Há também um inesperado “triangulo amoroso” entre os dois Mickey’s com a personagem de Naomi Ackie, em uma divertida caracterização da personagem, que também está perfeita como uma heroína nas sequências de ação.

Com Mickey 17, Bong Joon-Ho faz uma análise certeira sobre a forma que a sociedade atual pensa, e principalmente a forma seus líderes agem e escolhem o que é melhor para eles mesmos, criando uma narrativa envolvente em alguns momentos, criativa e original, onde o espectador vai dar boas risadas com o humor mais crítico, e ainda rende ótimas reflexões sobre diversos assuntos. Há também o plus de ter elementos de ficção-científica que enriquecem ainda mais o filme (como o planeta que eles querem colonizar e os seus habitantes, que aliás, me fez lembrar um pouco de Tropas Estelares), com ótimos efeitos especiais e uma impecável direção de arte. Mickey 17 é o típico filme de Joon-Ho, só que mais contido, porém com uma proposta mais inusitada e diferente. O maior destaque vai mesmo para a excelente atuação de Robert Pattinson ao interpretar dois personagens tão distintos, que merece algum reconhecimento nas premiações ano que vem. É um pouco confuso no início, mas é divertido, sarcástico, e com muitas críticas sociais. Mas ainda não é “aquele” filme do diretor sul-coreano.

MICKEY 17
Ano: 2025
Direção: Bong Joon-Ho
Distribuidora: Warner Bros. Pictures
Duração: 137 min
Elenco: Robert Pattinson, Mark Ruffalo, Toni Collette, Naomi Ackie, Holly Grainger, e Steven Yeun
NOTA: 7,5








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