Quando surge algum filme da produtora A24, alguns cinéfilos já ficam ansiosos para assistir, devido as suas mais famosas produções - A Bruxa, Hereditário e Midsommar. Nenhuma dessas agradou o público em geral, que procuram filmes mais comerciais, com muitos sustos e sangue, mas foram sucessos de crítica pelos festivais mundo afora. A mais recente produção do estúdio é o suspense folclórico islandês Lamb, vencedor do Festival Internacional de Cinema Fantástico da Catalunha, vendido como um terror, mas não é, e que tem uma trama extremamente surreal envolvendo o luto. Lançado no serviço de streaming MUBI, em fevereiro, Lamb é dirigido por Valdimar Jóhannsson, e tem no elenco Noomi Rapace, Hilmir Snær Guðnason e Björn Hlynur Haraldsson.
Maria (Noomi Rapace) e Ingvar (Hilmir Snær Guðnason) moram em uma fazenda isolada na Islândia, onde criam cordeiros. Ainda enlutados pela morte de sua filha pequena, o casal acaba presenciando o nascimento de uma bebê metade cordeiro, e metade humano, e decidem cria-lo como se fosse filha deles.
Lamb é um dos filmes mais surreais e bizarros que você vai assistir, e que poderia ter sido melhor se seguisse pelo caminho do horror. Indo mais para o lado de um suspense dramático, a trama é muito bem construída, com poucos diálogos, desenvolvendo os personagens, e os motivos que o casal decide criar a criatura. O filme impressiona, principalmente, nas cenas em que o “cordeiro criança” aparece, causando um estranhamento no espectador, além de uma e outra cena que causa um certo desconforto. Porém, falta um pouco de tensão, já que o diretor Valdimar Jóhannsson, que também assinou o roteiro, se adentra em um gênero que esse elemento é necessário, além de não ter sustos (de fato, não é um filme de sustos), e cenas gráficas com muito sangue. O destaque vai para a fotografia de Eli Arenson, mostrando as belezas da região, fria, com neblina, somando para a carga dramática proposta, e criando uma atmosfera ameaçadora, aumentando a sensação de isolamento.
Noomi Rapace e Hilmir Snær Guðnason são os protagonistas de Lamb, estão bem nos seus papéis dramáticos, e são ótimos pais também, porém, o destaque realmente é a criança híbrida, metade humana e metade cordeiro. Chamada carinhosamente de Ada, a criatura causa um estranhamento bizarro de início, mas ela é incrivelmente simpática, e adorável, tem sentimentos, e chama a atenção através de seus gestos e olhares. Para criar Ada, o diretor filmou as mesmas cenas várias vezes, usando crianças e cordeiros, para daí os responsáveis pelos efeitos especiais darem vida a criatura. No meio da trama, surge o irmão de Ingvar, Pétur, interpretado por Björn Hlynur Haraldsson, que chega na fazenda para causar problemas.
Dividido em três atos distintos, Lamb é um filme que não vai agradar muita gente, já que não entrega tudo de “mão beijada”, e não segue a linha dos filmes de terror convencionais, repletos de sustos fáceis. A produção de Valdimar Jóhannsson é mais reflexiva, abordando temas como luto e maternidade, e que pode não fazer muito sentido, mas a mensagem está na nossa frente, basta entender o que quer nos passar. É uma experiência diferente, com um desfecho impressionante, e chocante, mas não do jeito que todos esperam.
LAMB
Ano: 2021
Direção: Valdimar Jóhannsson
Elenco: Noomi Rapace, Hilmir Snær Guðnason e Björn Hlynur Haraldsson
NOTA: 8,0
Disponível no serviço de streaming MUBI.
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