CRÍTICA | JOGOS VORAZES

Atualizado: 23 de nov. de 2023

Depois do sucesso da adaptação do bruxo mais famoso do mundo, Harry Potter, para o cinema, Hollywood viu que tinha em mãos uma nova era de filmes: adaptações literárias. Durante a “era Harry Potter”, surgiu a saga Crepúsculo, que contava a história de um triangulo amoroso entre uma humana, um vampiro, e um lobisomem, se tornando outro fenômeno mundial entre os adolescentes. Agora, com o fim da era do bruxinho e a saga dos vampiros chegando ao final, qual será o próximo produto que Hollywood pegará para trazer aos cinemas? A missão ficou nas mãos da escritora Suzanne Collins e seus Jogos Vorazes, obra que se passa em um futuro distante mostra adolescentes que luta até a morte, onde apenas um sobreviverá, em uma arena mortal transmitida para todo o país. Com muitas críticas sociais e uma trama envolvente, a adaptação de Jogos Vorazes ficou a cargo do diretor Gary Ross, que trouxe para o elenco Jennifer Lawrence, Josh Hutcherson, Liam Hemsworth, Stanley Tucci, Elizabeth Banks, Woody Harrelson, Wes Bentley, Lenny Kravitz, e Donald Sutherland.

Em um futuro distante, os EUA foram divididos em doze distritos após uma rebelião contra o governo, décadas atrás. Para punir a população, a cada ano, dois tributos entre 12 e 18 anos de cada distrito, devem participar de um reality show de luta, onde apenas uma pessoa deve sobreviver. No 74° Jogos Vorazes, Katniss Everdeen (Jennifer Lawrence) e Peta Melark (Josh Hutcherson) são os escolhidos para enfrentarem outros vinte e dois jogadores até a morte.

Jogos Vorazes foi vendido como o sucessor de Harry Potter e Crepúsculo, mas o livro de Susanne Collins vai muito além de uma típica história para atrair a atenção dos adolescentes. Existe um romance? Sim, mas nada como o da história de Bella, Edward e Jacob. Os vilões não são só as outras crianças na arena, vai muito mais além, mas o foco é a batalha entre eles. Os Jogos Vorazes funcionam como uma espécie de reality show visto pelo país todo, como o final de um campeonato de futebol, ou último capítulo de uma boa novela, e eles nem se importam com o fato de adolescentes se matarem para sobreviver. A violência é inevitável, porém, o diretor não mostrou nada de extremo na hora das lutas, sem muito sangue, dando apenas a entender o que aconteceu, conseguindo diminuir a classificação etária para atrair mais público.

O enredo é muito bom, não perde ritmo, introduz os personagens, conta suas histórias e dramas, mas acaba deixando alguns de lado, já que o foco é Katniss, Peta, a arena, os realizadores do programa. São quase duas horas e meia de puro entretenimento em uma história que prende a atenção, com um forte apelo dramático, e que tem várias críticas sociais bem expostas. A direção de arte e o figurino são impecáveis, as pessoas usando maquiagem, cabelos pintados, roupas exóticas, trejeitos, até os animais tem tintura. E por se passar no futuro, Jogos Vorazes tem naves, cenários holográficos, os cenários modernos da capital, indo em contrapartida com a pobreza dos doze distritos, tudo com ótimos efeitos especiais.

Jogos Vorazes é baseado em um livro infanto-juvenil de mesmo nome, e claro que ia ter vários clichês básicos: uma jovem que se destaca das outras, o fato de ela ser o alvo principal, um certo interesse amoroso, uma personagem forte sendo inspiração para todos, enfim. Mas aqui, ao diferencial é a crítica social que o filme faz, e são várias. A diferença de classes sociais entre a capital e os outros distritos, o jeito como a população vê os jogos - como uma forma de adoração -, a vaidade das pessoas, o controle e o poder de um governo corrupto e maldoso que favorece os mais ricos, além de dar uma lição de moral sobre como devemos agir com os outros e esquecer as diferenças. Por isso que Jogos Vorazes se destaca melhor, é diversão e entretenimento junto com críticas sobre o mundo atual.

Aliado à um enredo envolvente, temos personagens fortes e competentes, que criam um vínculo forte com o público. Jennifer Lawrence se destacou recentemente com Inverno da Alma, na qual recebeu uma indicação ao Oscar, e volta a provar seu talento ao interpretar Katniss, trazendo uma sensibilidade junto com uma personagem forte e determinada. O seu companheiro de batalha, Peeta, é interpretado por Josh Hutcherson, e traz carisma para seu personagem, além de ser o possível interesse amoro de Katniss. Woody Harrelson é Haymitch, do mesmo distrito de Katniss, já foi vencedor de uma edição dos jogos e agora serve como técnico dos tributos, fazendo um personagem bem divertido. Elisabeth Banks é a caricata e sensível Effie, que funciona como uma “gestora”, toda estilosa e excêntrica. Tem ainda o engraçado apresentador Caesar, interpretado por Stanley Tucci, o presidente Snow (Donald Sutterland), o vilão da vez; Wes Bentley, como Seneca, o produtor e realizador dos jogos, e o cantor Lenny Kravits, como Cinna, que cuida da aparência e figurino dos tributos. E por fim, quem merece destaque também é Amanda Stenberg, que interpreta doce e carismática Rue, protagonizando uma curta, mas bela amizade com Katniss, e está envolvida em uma cena muito triste.

Jogos Vorazes levanta vários questionamentos, mas o principal é se o romance de Katniss e Peta é real, ou apenas uma jogada de marketing para chamar a atenção de todos? No final, o filme de Gary Ross se torna superior aos outros filmes infanto-juvenis lançados, com uma história envolvente e várias críticas sociais, fazendo da trajetória de Katnapp (apelido de Katniss), o novo fenômeno que Hollywood tanto precisava.