Uma das maiores obras primas do escritor Stephen King, e que mais assusta, é IT, história sobre um palhaço sobrenatural que mata crianças na cidade de Derry. Publicado em 1986, o sucesso foi tão grande, que uma adaptação para TV foi produzida, em 1990, com Tim Curry interpretando o palhaço Pennywise, em um telefilme de mais de três de duração, dividida em duas partes: a primeira, com os personagens ainda crianças enfrentando o tal palhaço, e na segunda, já adultos, eles retornam à pacata Derry para acabar de vez com a coisa. Dezessete anos depois, o diretor Andy Muschietti, de Mama, foi o responsável pela terceira adaptação de Stephen King (lembrando que o anterior foi dividido em duas partes). Misturando comédia e humor, It – A Coisa é uma obra prima do medo, e um dos melhores filmes do ano.
Aqui, o filme de Muschietti mostra apenas os personagens enfrentando o palhaço ainda quando crianças, deixando para um segundo filme, mostrar eles adultos. Logo na primeira, e clássica, cena de Pennywise no bueiro, It já mostra o tom que seguirá durante suas mais de duas horas de duração: horror. Mas a adaptação é um misto de vários elementos: cenas de terror e sustos, humor e personagens cômicos, além de ser um filme adolescente ao introduzir maravilhoso Clube dos Otários. O roteiro é eficiente, e imerge o espectador dentro da história, apresentando seus carismáticos (alguns) personagens, e dosando entre o horror e a comédia. E só por que o elenco principal é de crianças, não quer dizer que o filme pega leve. Os ataques de Pennywise são brutais, há bastante sangue, as crianças estão em constante perigo, além de abordar temas fortes, como o bullying, racismo, violência infantil, abuso e intolerância religiosa, com uma forte carga emocional e de tensão.
É interessante como o diretor conseguiu reproduzir a época em que o filme se passa, no final dos anos 80, com maestria e eficiência. Desde o cenário da cidade de Derry, a trilha sonora, a amizade dos personagens e suas aventuras, muito parecido com a série Stranger Things, que na verdade, vale ressaltar, a série se inspirou na amizade dos personagens de Stephen King.
E falando nos personagens, eles são o ponto forte do filme, os responsáveis pela imersão que o filme faz, tudo por causa dos dramas fortes muito bem desenvolvidos. Começando pelos principais, o Clube dos Otários, que são Bill (Jaeden Lieberher), Richie (Finn Wolfhard), Eddie (Jack Dylan Grazer) Stan (Wyatt Oleff), Beverly (Sophia Lillis) Ben (Jeremy Ray Taylor), e Mike (Chosen Jakobs), todos extremamente carismáticos e em perfeita sintonia, com suas dúvidas e sexualidade exploradas, assim como os seus dramas bem construídos, gerando uma enorme empatia por eles. Bill é gago, Richie é o “malandro” e o que mais fala palavrões, Eddie tem TOC com sujeira e doenças, Stan é judeu, Beverly é a figura feminina que atrai a atenção dos garotos, Ben é o garoto gordo que sofre bullying, assim como Mike, que também sofre por se negro. Destaque para Finn Wolfhard e Jack Dylan Grazer, os alívios cômicos da produção, e Sophia Lillis, com sua ternura e beleza. Ainda, no elenco juvenil, destaque para Nicholas Hamilton, que interpreta Henry, o garoto que pratica bullying nos outros, muito bem interpretado que chega a dar ódio no espectador.
Tim Curry fez um Pennywise assustador, apesar da roupa no estilo Ronald McDonald, mas que marcou uma geração. Na nova produção, o palhaço ficou a cargo do ator sueco Bill Skarsgård, que gerou muita expectativa se seria capaz de superar o palhaço de Curry. Podem ficar tranquilos que sim, superou muito o Pennywise anterior, sendo mais monstruoso e assustador, capaz de mudar de aparência e a forma como ele age. Apesar de parecer amigável, o vilão sempre mostra a sua natureza cruel, e quando ataca, é de forma violenta, e é muito bem interpretado por Skarsgård. Ainda, outro acerto em relação ao personagem, é o fato de o roteiro não explicar a origem do palhaço sobrenatural, e nem explorar muito os motivos do porquê ele mata as crianças.
Os efeitos em CGI, às vezes, são um pouco exagerados, o que pode deixar muitos receosos, mas de maneira nenhuma ele se torna menos ameaçador, e o excesso de sustos, muitos repetitivos, que acabam não causando nada. No fim, It – A Coisa é uma mistura de vários tons: humor e horror na medida certa, um filme adolescente com personagens carismáticos e em ótima sintonia, com seus seus dramas bem explorados e que ganham a simpatia do público, um palhaço assustador, uma incrível ambientação dos anos 80, tudo em uma história bem desenvolvida, tensa e assustadora. O filme de Andy Muscietti termina de uma forma agradável, e bem melancólica, mostrando que a alma da história são os integrantes do Clube dos Otários, e ainda, deixa todos ansiosos para a continuação, e a batalha final contra o palhaço Pennywise.
IT: A COISA
Ano: 2017
Direção: Andy Muschietti
Elenco: Bill Skarsgård, Jaeden Lieberher, Finn Wolfhard, Jack Dylan Grazer, Wyatt Oleff, Sophia Lillis, Jeremy Ray Taylor, Chosen Jakobs, Nicholas Hamilton
NOTA: 10
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