CRÍTICA | INFESTAÇÃO

De todos os “animais assassinos” que o cinema fez, as aranhas são as mais temidas por todos. Desde os anos 50, os aracnídeos apareceram de várias formas, modificadas geneticamente, aranhas alienígenas, e até aranhas gigantes, como no clássico “Tarântula!”, de 1955. "Aracnofobia", lançado em 1990, popularizou os filmes de terror com aranhas, fugindo um pouco da temática mais surreal e adicionando um pouco de realidade, afinal, as aranhas estão em todos os lugares – inclusive na nossa própria casa -. Temos então o filme francês Infestação, que fez sucesso em festivais pelo mundo ainda em 2023, mas que só esse ano acabou entrando em circuito comercial. Dirigido por Sébastien Vanicek, “Vermines” em francês, “Infested” em inglês, ou "Infestação" em português, apresenta uma premissa muito parecida com Aracnofobia (1990), mas com a ambientação se passando em uma cidade grande – Paris -, e a produção não é apenas um filme de terror com aranhas, mas também uma crítica sobre preconceito social. Na trama, o jovem Kaleb (Théo Christine) coleciona animais exóticos, e acaba comprando uma aranha em uma loja, levando-a para o seu apartamento em um condomínio na periferia de Paris. Porém, a aranha acaba escapando, se prolifera, e uma infestação se alastra pelo condomínio todo, forçando os moradores a lutar pelas suas vidas. O problema é que a polícia isolou todo o prédio, e ninguém pode sair.

O roteiro de Infestação é bem estruturado, vamos conhecendo os moradores do condomínio, ao mesmo tempo que as aranhas começam a se proliferar pelo local, dando início as sequências de mortes angustiantes. Assim como em Sting – Aranha Assassina, o diretor explora todos os cenários do prédio – os corredores escuros, os apartamentos, todos os cantos possíveis onde as aranhas podem se esconder, inclusive dentro dos tênis, cobertores e canos. Infestação não tem os exageros dos filmes do gênero, apesar de algumas aranhas serem maiores do que o normal, tem alguns sustos, mas isso é o menos ruim: Sébastien Vanicek cria sequências angustiantes e tensas que vão deixar todo mundo desconfortável, principalmente os que tem aracnofobia. São cenas simples, mas os detalhes potencializam ainda mais a tensão e o horror de estar preso em um prédio com centenas de aranhas, como a sequência do banheiro e a do corredor infestado no subsolo – realmente não sei qual é a mais angustiante das duas -. Outro detalhe interessante é pelo fato de o filme usar aranhas reais, mas a maioria ainda é com efeitos de CGI, que aliás são ótimos se comparado com o orçamento mais baixo que teve.

Infestação é um filme de terror com aranhas, um filme de monstros, mas o diretor aproveita para fazer uma forte crítica social sobre o preconceito contra pobres, negros, imigrantes, e os moradores da periferia, principalmente à forma como eles são tratados pela sociedade, esquecidos quando algo acontece – no caso a infestação das aranhas -, além do tratamento da polícia contra eles. O enredo desenvolve bem o drama dos personagens, todos tem um passado no qual não se orgulham muito, todos querem mudar, levar uma vida digna, todos tem defeitos e qualidades por mais duvidosas que sejam suas atitudes, e o roteiro explora bem isso, ao mesmo tempo que acontece o ataque das aranhas no condomínio. O destaque maior vai para Théo Christine, que interpreta Kaleb, fazendo um personagem de bom coração e com muitas camadas, que tem uma relação conturbada com sua irmã Manon (Lisa Nyarko), e alguns de seus amigos. O problema é que o drama deles não recebe a devida atenção do roteiro, mas é tocante da mesma forma, e o que mais funciona mesmo é a crítica social.

O desfecho vai dividir a opinião de muita gente, já que destoa bastante do clima de tensão que foi se criando ao longo do filme, dando preferência mais para a crítica social do que a infestação das aranhas. Mas apesar disso, e de alguns pequenos problemas no roteiro, Infestação é um filme de terror de monstros acima da média, com uma direção eficiente que explora todos os canos do condomínio, criando situações tensas e angustiantes que irão deixar todos desconfortáveis, além de fazer uma dura crítica a realidade vivida pelos moradores da periferia de Paris. É divertido, repleto de suspense, e se aproxima bastante da realidade, já que as aranhas estão em todos os lugares, e uma infestação delas é muito possível de acontecer– apesar de algumas terem um tamanho maior do que o normal.