Os Caçadores da Arca Perdida foi um enorme sucesso de público e crítica, além de ser responsável por ter criado um dos maiores personagens do cinema: Indiana Jones. Quando Steven Spielberg e George Lucas procuraram a Paramount pedindo verba para produzir o primeiro filme, além do baixo orçamento proposto, eles deveriam fazer mais filmes caso Os Caçadores da Arca Perdida fizesse sucesso. Com quase U$ 390 milhões arrecadados, vários prêmios do Oscar ganhos, Spielberg e Lucas lançaram Indiana Jones e o Templo da Perdição, o filme mais controverso da franquia, três anos depois.
Primeira diferença a ser notada está no título, que foi adicionado Indiana Jones na frente graças ao sucesso do filme e do personagem interpretado por Harrison Ford. Além disso, várias ideias que foram descartadas para Os Caçadores da Arca Perdida acabaram sendo aproveitadas na sequência. Mas O Templo da Perdição é considerado a mais polêmica aventura do arqueólogo Indy por causa da trama mais sombria, que incluem rituais satânicos e sacrifícios, muita violência, a polêmica sequência do jantar no palácio, além de muitos insetos e crianças sendo escravizadas. Apesar de todas essas polêmicas, a nova aventura de Indy arrecadou mais de U$ 330 milhões, venceu o Oscar de Efeitos Visuais, e criou cenas icônicas que são lembradas até hoje. Na trama, Indiana Jones (Harrison Ford), junto com seu amigo órfão, o garotinho Short (Ke Huy Quan), e a irritante dançarina Wilie Scott (Kate Kapshaw), precisam resgatar uma pedra sagrada e mágica roubada por um feiticeiro na índia, além de libertar as crianças de uma aldeia, que foram sequestradas e escravizadas em um antigo palácio.
A trama de Indiana Jones e o Templo da Perdição se passa um ano antes de Os Caçadores da Arca Perdida, e começa com uma eletrizante sequência de ação em um restaurante chique em Xangai, mostrando Indiana Jones fechando negócio com um empresário chinês rico. Claro que tudo da errado e seguem-se tiroteios, muita confusão e uma intensa perseguição de carros pelas ruas da cidade. Junto com Short e Wiilie Scott, Indy pega um avião que acaba caindo em uma floresta na Índia, e os personagens chegam em um povoado indiano tomado pela pobreza e tristeza. O interessante de toda essa sequência inicial é que ela não tem nada a ver com a trama toda, a não ser o fato de Indiana Jones ter conhecido Willie Scott. Diferente de todos os filmes da franquia, em O Templo da Perdição o personagem não é contratado por alguém, e sim, “magicamente” chega ao local onde conhecerá a sua nova aventura, como se fosse o destino. E para chegar até o palácio do tal feiticeiro, os personagens andam de elefantes nas belas paisagens das florestas indianas.
Mas o espetáculo mesmo começa quando Indy, Short e Willie Scott chegam no templo, onde acabam se tornando hóspedes nesse misterioso lugar. Diga-se de passagem, que o design de produção do palácio é incrível, com cenários bem-produzidos e cheio de efeitos práticos. É aqui que a famosa sequência do jantar começa, e a mais lembrada é a sobremesa: cérebro de macaco servido dentro da cabeça do próprio animal; isso depois de servirem cobra cozida, insetos gigantes fritos, e outras nojeiras. Dizem que alguns espectadores passaram mal, não duvido. Há ainda uma outra sequência angustiante – principalmente para quem tem fobia a insetos -, em um túnel cheio de insetos maiores do que o normal, subindo pelo corpo dos personagens.
A partir de agora, o tom do filme mudaria completamente. As sequências de ação regadas a humor, as piadas, os “chiliques” de Wiilie Scott e as implicâncias com Indy, dariam lugar para um clima mais sombrio, com cenas chocantes e violentas. O próprio Steven Spielberg disse, anos depois, que O Templo da Perdição é mais macabro e que não havia gostado muito do resultado final. Além disso, a produção foi responsável por criar uma nova classificação etária nos EUA, o PG-13 – imprópria para menores de 13 anos -, já que o filme tinha violência, mas não o suficiente para uma categoria “R (não proíbe a entrada de menores, mas um adulto tem que ir junto), tudo para a produção não fracassar nas bilheterias.
Mas voltando ao filme, quando os personagens chegam na sala de rituais no subterrâneo do palácio, acontecem as sequências mais violentas de toda a franquia: rituais satânicos, sacrifícios humanos, bonecos vodus, corações arrancados do peito, exploração infantil, “máscaras” macabras e assustadoras, mas nenhuma das cenas violentas são gratuitas, todas tem algum motivo e servem para desenvolver a trama. E vale destacar o design de produção do salão de sacrifícios, e de toda a ambientação subterrânea, com tons vermelhos que ajudam a deixar tudo ainda mais assustador, as lavas vulcânicas, as estatuas macabras, o figurino dos vilões, um incrível trabalho de direção de arte.
Indiana Jones e O Templo da Perdição é o mais diferente de toda a franquia, seja pelo tom macabro ou pela ambientação assustadora, além de que a trama acontece em um único lugar, e acredito que seja a clássica aventura bem no estilo da imagem que a franquia quer passar. As sequências de ação são intensas e muito bem dirigidas por Spielberg, o ritmo é frenético e a todo instante algo acontece, envolvendo o espectador na trama que explora a cultura dos povos orientais, principalmente da Índia.
Harrison Ford retorna para o papel de Indiana Jones com o mesmo carisma, o espírito de aventura, malandro, se envolvendo em problemas, e o ator continua provando que foi a escolha certa para interpretar o personagem. Mas agora, ele conta um novo ajudante extremamente divertido e muito carismático também, Short Round (Ke Huy Quan), que é órfão e foi encontrado por Indy. A interação entre os dois é maravilhosa, e fica nítido que os dois são realmente amigos e parceiros de aventuras, sempre ajudando um ao outro a se livrarem das enrascadas que se envolvem. E uma curiosidade: Ke Huy Quan estrelou a produção vencedora do Oscar de Melhor Filme Tudo em Todo o Lugar Ao Mesmo Tempo, e quem entregou o prêmio foi ninguém mais que Harrison Ford, onde se reencontraram quarenta anos depois. Foi um encontro emocionante.
Em Os Caçadores da Arca Perdida, o “par romântico” de Indiana Jones era Marion Ravenwood (Karen Allen), que na verdade era uma ex-namorada do personagem de anos atrás. Marion era uma mulher forte, encarava as aventuras junto com Indy corajosamente e sem frescura nenhuma. Agora, em O Templo da Perdição, temos a cantora Willie Scott, interpretada pela atriz Kate Capshaw – curiosamente, ela e Steven Spielberg se casariam alguns anos depois, e continuam juntos até hoje -. Willie Scott é considerada a personagem mais irritante de toda a franquia, e não por menos: ela grita praticamente o filme inteiro, além de ser aquela “mocinha indefesa” típica dos filmes e muito escandalosa, extremamente ao contrário de Marion. A maioria das cenas cômicas envolvem a personagem, que acaba sendo um ponto de escape para divertir o espectador, já que a trama é bem sombria.
O Templo da Perdição tem sequências que marcaram a franquia, como a do polêmico jantar no palácio e as cenas macabras no salão de rituais, que são lembradas até hoje. Mas Steven Spielberg e George Lucas ainda tinham mais coisas para apresentar. Para escapar do templo, Indy, Willie Scott e Short fogem pelos trilhos da mina subterrânea, em uma frenética perseguição muito bem dirigida em POV (ponto de vista do personagem), com muita luta, socos, tiroteios e confusão. Essa sequência, originalmente, estaria no primeiro filme, mas foi descartada e aproveitada aqui. E para finalizar com chave de ouro, ainda tem a intensa sequência na ponte de corda, onde os personagens acabam sendo cercados pelos vilões e Indy escolhe a pior, e única, forma de escapar.
Indiana Jones e O Templo da Perdição é o filme mais sombrio e polêmico de toda a franquia, e é injustamente criticado por causa disso, mas é divertido, engraçado, tem um ritmo frenético intenso, além de criar sequências clássicas que marcaram o cinema e que são lembradas até hoje. Spielberg e George Lucas fazem essa segunda aventura de Indy ter um estilo único de toda a franquia, é a aventura raiz com todos os perigos possíveis. Até o roteiro meia boca, a irritante Willie Scott, e as sequências de ação impossíveis – um carrinho de mina pular de um trilho para o outro -, passam despercebidos. Pode não ser melhor do que A Última Cruzada, ou até Os Caçadores da Arca Perdida, mas é tão marcante e envolvente quanto.
INDIANA JONES E O TEMPLO DA PERDIÇÃO (INDIANA JONES AND THE TEMPLE OF DOOM)
Ano: 1984
Direção: Steven Spielberg
Distribuidora: Paramount
Duração: 118 min
Elenco: Harrison Ford, Kate Capshaw, Ke Huy Quan
NOTA: 10
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