A década de 80 ficou marcada no cinema como o surgimento de um dos maiores personagens do cinema, o arqueólogo e professor universitário Henry Jones Jr., conhecido como Indiana Jones. Indy já foi em busca da arca da Aliança contra os nazistas, as pedras de Sankara – onde enfrentou feiticeiros donos de um templo misterioso na índia, com rituais e cenas nojentas -, e também já foi em busca do cálice que Jesus Cristo usou na última ceia – enfrentando os nazistas novamente, além de um encontro cara a cara com Hitler – junto com o seu pai. Quase vinte anos depois, Steven Spielberg, George Lucas e Harrison Ford, retornam com Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal, a produção mais criticada – injustamente - da franquia.
George Lucas queria que a história envolvesse extraterrestres, mas Spielberg e Ford não gostaram muito porque eles queriam que Indy fosse atrás de alguma relíquia, e a saída para agradar todo mundo foi a caveira magnetizada de cristal. Outro empecilho foi o fato de Sean Connery, que interpretou o pai de Indy em A Última Cruzada, não querer retornar para viver o personagem, obrigando o roteirista David Koep a tentar encaixar o ator John Hurt no filme (Hurt é Oxley, outro personagem que só substitui o de Connery). A expectativa era grande, já que fazia quase duas décadas sem nenhum filme da franquia, e o resultado foi bem satisfatório: custou em torno de U$185 milhões, mas conseguiu arrecadar mais de U$786 milhões – a maior de toda a franquia -, apesar de não ter sido indicado a nenhum Oscar (o único que não foi). Além do retorno de Harrison Ford, Karen Allen (que interpretou Marion Ravenwood em Os Caçadores da Arca Perdida) também retorna, e ainda tem no elenco Shia Labeouf, Cate Blanchet, John Hurt, Ray Winstone e Jim Broadbent. Na trama, Indiana Jones, acompanhado do jovem Mutt (Shia LaBeouf), precisa encontrar a telepática e misteriosa caveira de cristal antes dos soviéticos, liderados por Irina Spalko (Cate Blanchett).
Os eventos de O Reino da Caveira de Cristal acontecem em 1957, no período da Guerra Fria, trazendo os soviéticos como vilões ao invés dos nazistas, além de abordar a existência dos extraterrestres e seres interdimensionais, inéditos na franquia. Spielberg já começa fazendo referências a década que a trama se passa, tocando Elvis Presley, e também ao primeiro filme do arqueólogo – a arca da aliança e o galpão da Área 51, que apareceu nos segundos finais de Os Caçadores da Arca Perdida -. The Kingdom Of The Crystal Skull, no original, é uma aventura nostálgica que consegue captar toda a essência da franquia, além de relembrar alguns momentos dos outros filmes. As sequências de ação continuam absurdas, e algumas situações fogem do bom senso, como a cena em que Mutt pula de galho em galho usando um cipó no estilo Tarzan, ou a cena das cachoeiras, mas divertem da mesma forma, ainda mais com as piadas e o humor entre uma luta e uma perseguição, típico da franquia.
O Reino da Caveira de Cristal pode não ser o mais amado da franquia, mas é muito bom e diverte bastante. Porém, tem dois grandes problemas. Um deles é o roteiro de David Koep e a existência das caveiras de cristal. Em nenhum momento é explicado a sua origem e o que elas são, e por mais que o desfecho seja muito interessante com ótimos efeitos em CGI e deixando várias ideias na cabeça do público, faltou mais ação. Além disso, a inserção de John Hurt na trama acabou ficando praticamente desnecessária – Indy podia descobrir tudo ao lado de Mutt -, e se a intenção era ser engraçado, não deu certo. O outro problema é o uso exagerado dos efeitos especiais em algumas cenas, parecendo tudo muito artificial, principalmente quando Mutt dá uma de Tarzan, e a sequência das formigas gigantes carnívoras, com um CGI descaradamente horrível.
Harrison Ford continua com o mesmo charme e ironia de sempre, a sua paixão por arqueologia e as aventuras, e o ator consegue interpretar o personagem muito bem, inclusive nas cenas de ação no auge dos seus 65 anos que tinha na época. Para acompanhar as suas aventuras, Indy conta com a ajuda de Mutt (Shia Labeouf), um jovem rebelde que pede ajuda a ele para encontrar seu tio, Oxley, e sua mãe, que foram sequestrados pelos soviéticos. Labeouf, que na época tinha estrelado o primeiro filme da franquia Transformers, é um ótimo acréscimo na franquia, e a dinâmica entre eles é divertida e muito parecida com a que Ford teve com Sean Connery no filme anterior.
Karen Allen retorna a franquia desde a sua primeira e única aparição, em Os Caçadores da Arca Perdida, porém, não com a mesma química que ela tinha com Indiana Jones na época. Mas a interação entre eles, e as clássicas “brigas de casal”, são divertidas. Já a vilã da vez é Irina Spalko, uma agente russa especializada em fenômenos paranormais, interpretado pela sempre ótima Cate Blanchett. A atriz da um tom mais caricato e com um sotaque mediano à vilã, além de parecer bem misteriosa e ser uma antagonista interessante, mas frustra o espectador por ela não ser tão ameaçadora.
Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal tem algumas sequências absurdas, como a que Indy se esconde em uma geladeira para evitar uma explosão nuclear – a geladeira sai voando, capota várias vezes e Indy sai intacto -, e passar por três quedas enormes em cataratas, além de o personagem escapar de todos os perigos facilmente (incrível como os tiros nunca acertam nem o braço dele). Mas isso tudo é o charme da franquia, e não estraga em nada a aventura. No mais, Steven Spielberg consegue manter todos os elementos que fizeram a franquia do arqueólogo, e professor nas horas vagas, um sucesso, inclusive as discussões entre uma cena de ação e outra. A trama das caveiras de cristal e dos extraterrestres foi um pouco mal desenvolvida, mas ficou bem interessante e tem tudo haver com a época em que a trama se passa – os anos 50 foram tomados pelos filmes B de ficção-científica -. Muitos disseram que ficou fantasioso demais, mas será que eles não viram os fantasmas voando em Os Caçadores da Arca Perdida? O Reino da Caveira de Cristal não é o melhor filme de Indiana Jones, mas diverte e não demonstra sinais de cansaço.
INDIANA JONES E O REINO DA CAVEIRA DE CRISTAL (RHE KINGDOM OF THE CRYSTAL SKULL)
Ano: 2008
Direção: Steven Spielberg
Distribuidora: Paramount Pictures
Duração: 122 min
Elenco: Harrison Ford, Karen Allen, Shia Labeouf, Cate Blanchet, John Hurt, Ray Winstone e Jim Broadbent.
NOTA: 8,5
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