Tudo começou em uma fatídica noite de Halloween no ano de 1963, na pacata cidade de Haddonfield quando o jovem Michael Myers, de apenas seis anos, matou a sua irmã com uma enorme faca de cozinha em sua casa. Após ser encontrado paralisado e sem esboçar nenhuma reação, a criança é internada em um hospital psiquiátrico, ficando cerca de 15 anos sob os cuidados do psiquiatra dr. Loomis (Donald Pleasence). Na noite de Halloween de 1978, após fugir do hospital, Michael Myers retorna para Haddonfield, se “hospeda” na sua antiga casa, e começa a sua vingança. Mas por algum motivo, Michael começa a perseguir uma jovem de 17 anos, Laurie Strode (Jamie Lee Curtis).
Essa é a trama de um dos filmes de terror mais famosos do cinema, Halloween – A Noite do Terror (1978), produção de John Carpenter que é considerada a pioneira dos filmes de slasher. Na verdade, não existe uma unanimidade de qual foi o primeiro filme desse subgênero, mas muitos consideram o Halloween de Carpenter porque acabou criando elementos típicos de um slasher, como se fosse uma regra: tem que ter uma “final girl”, o assassino tem que usar – principalmente – uma máscara, são difíceis de se matar, e as vítimas são adolescentes. Além disso, o filme fez tanto sucesso que esse subgênero se tornou famoso, criando outras produções como Sexta-feira 13 (1980) e A Hora do Pesadelo (1984). Porém, dois filmes de slasher já haviam sido lançados em 1974, O Massacre da Serra Elétrica e Noite do Terror, que se passa no Natal, então, podemos dizer que Halloween moldou, popularizou, e ditou os filmes de serial killers.
Podemos dizer também que Halloween – A Noite do Terror é um slasher minimalista: temos poucas mortes (são um total de cinco), pouco sangue e violência, e o ritmo é mais parado – pelo menos até a metade da produção -. John Carpenter foca muito no medo, no suspense, na sensação que tem alguém te observando, te seguindo. Isso acontece muito com Laurie Strode, onde muitas vezes vemos ela, e os outros personagens, pela perspectiva do assassino; esse é outro elemento que Halloween acabou “ditando” para os próximos filmes. O diretor também usa planos-sequências mostrando Michael Myers de longe, muitas vezes sem os personagens perceberem que ele está por perto, somente o espectador. E para ajudar no clima de suspense, o filme se passa em uma cidade do interior, Haddonfield, um lugar tranquilo de se viver onde muitos se conhecem, visitam a casa um dos outros, e saem nas noites de Halloween para pegar doces.
Claro que o filme tem alguns problemas básicos, principalmente em relação ao enredo. Com uma duração de 1h31min, Halloween tem um foco maior no desenvolvimento da história, prioriza o suspense como mencionei anteriormente, e os assassinatos levam em torno de 40 minutos para começarem. Até lá, o roteiro do próprio John Carpenter, em parceria com Debra Hill, enrola bastante, mas é eficiente na construção do clima de mistério e vai preparando o espectador para o eletrizante ato final. Além disso, Halloween – inevitavelmente – acaba caindo nos clichês do gênero, mas levando em consideração que é um dos primeiros filmes de slasher, isso não tem muito fundamento. A sequência final dos assassinatos pode frustrar aqueles que estão acostumados com violência e banhos de sangue. Porém, temos que levar em consideração que o filme foi lançado nos anos 70, além de ser mais comercial também, por isso as mortes não são tão explicitas como nos filmes de hoje, tanto é que só tem cinco mortes – incluindo a irmã de Michael Myers, e sendo mostrada apenas quatro -. Mas as cenas não decepcionam nem um pouco, são criativas, recheadas de suspense e com muita tensão, algo que John Carpenter sempre soube trabalhar bem.
Em todos os filmes de slashers existe uma “final girl”, a protagonista que sobrevive ao assassino, e algumas vezes acabam aparecendo nas continuações, ou em toda a franquia. De todos os filmes do subgênero poucas reprisaram seus papeis, como é o caso de Sidney Prescott (Neve Campbell) na franquia Pânico, Julie James (Jennifer Love Hewitt) nos dois filmes do Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado, e Jamie Lee Curtis em Halloween - A Noite do Terror. A atriz era desconhecida quando conseguiu o papel de Laurie Strode, e a personagem foi responsável por alavancar a sua carreira, além de se tornar conhecida para sempre como a “scream queen” (rainha do grito) dos filmes de terror. Muitos já devem saber, mas para quem não sabe, a atriz é filha de Janet Leigh, a personagem assassinada na clássica cena do chuveiro, em Psicose, de Alfred Hitchcock. Jamie Lee Curtis interpreta uma babá nas horas vagas, e que vai cuidar de Tommy (Brian Andrews) na noite de Halloween. Sua personagem, Laurie Strode, é considerada virgem, algo que também se tornou “uma regra” no gênero, onde somente personagens virgens conseguiriam sobreviver em filmes de terror. Tanto é que ela é a única que sobrevive, diferente de suas amigas, Annie (Nancy Kyes) e Lynda (P.J. Soles), que planejam uma noite quente com seus namorados e acabam morrendo.
No elenco também está Donald Pleasence, que interpreta o dr. Loomis, médico psiquiatra que cuidou de Michael Myers por 15 anos. O ator já tinha uma extensa carreira no cinema, e era o nome mais conhecido, e por isso seu nome aparece primeiro nos créditos iniciais. Além disso, seu personagem esteve em praticamente todos os filmes da franquia original, com exceção de Halloween 3, e Halloween H20. Nancy Stephens também completa o elenco de coadjuvantes, interpretando a enfermeira Marion, que teve participações menores em quatro filmes da franquia: Halloween 1 e 3, Halloween H20, e no remake de 2021. E para fins de curiosidade, quem interpreta o icônico Michael Meyers é o ator Nick Castle, que também reprisou na trilogia mais recente, Halloween (2018), Halloweens Kills (2021) e Halloween Ends (2022).
Halloween – A Noite do Terror se tornou um marco do terror e referência aos próximos filmes slashers que viriam. Tecnicamente perfeito, com um suspense genuíno, e uma trilha sonora marcante – é impossível não reconhecer o tema principal -, John Carpenter cria um clássico do gênero que pode não assustar tanto ao ser assistido nos dias de hoje, mas continua sendo marcante. Tem seus momentos mais lentos, alguns problemas no roteiro, e clichês típicos, mas a qualidade técnica, o suspense, a final girl, e todo o desfecho, tornam Halloween – A Noite do Terror um filme impecável em todos os sentidos. Dois anos depois, em 1980, Sexta-Feira 13 era lançado nos cinemas, totalmente influenciado por Halloween, e a sua continuação viria somente em 1981, trazendo o retorno de Jamie Lee Curtis e Donald Pleasence.
HALLOWEEN: A NOITE DO TERROR
(HALLOWEEN)
Ano: 1978
Direção: John Carpenter
Distribuidora: Universal Pictures
Duração: 93 minutos
Elenco: Donald Pleasence, Jamie Lee Curtis, Nancy Kyes e Nancy Stephens
NOTA: 9,5
Disponível na
Comments