CRÍTICA | HALLOWEEN 6: A ÚLTIMA VINGANÇA

A linha do tempo da franquia original de Halloween é bem inusitada, como se fossem separadas por partes. Primeiro temos Halloween: A Noite do Terror (1978) e Halloween 2: O Pesadelo Continua (1981), quase "dois filmes em um", que são os clássicos estrelados por Jamie Lee Curtis, a nossa eterna Laurie Strode. No ano seguinte, foi lançado Halloween 3: A Noite das Bruxas, que não tinha nem Jamie Lee Curtis, nem Michael Myers, e sim outros personagens em uma trama paralela e totalmente diferente. Após um hiato de cinco anos, o produtor Moustapha Akkad queria trazer de volta o “assassino de babás” para os cinemas, impulsionado pelas continuações de Sexta Feira 13 e A Hora do Pesadelo. Após algumas divergências, tivemos Halloween 4: O Retorno de Michael Myers (1988), que trazia de volta o icônico vilão, todo o clima de Halloween da franquia, porém, sem Jamie Lee Curtis no papel de Laurie. E qual foi a saída para substitui-la? Ela morreu em um acidente, mas deixou uma filha, a garotinha Jamie, que foi adotada por uma família em Haddonfield.

O final de Halloween 4 também foi bem polêmico e revelador, indicando que a menininha poderia ser “a nova” Michael Myers da vez. Além disso, o filme fez bastante sucesso, tanto de público quanto de crítica, o que acabou animando os produtores a continuar com a franquia. Não levou nem um ano para lançarem Halloween 5: A Vingança de Michael Myers, um slasher chato e genérico que se tornou um fracasso, além de terminar de forma bem inusitada: Michael Myers foi preso, mas conseguiu escapar da prisão com a ajuda de um homem misterioso.

Moustapha Akkad, e os outros produtores envolvidos, desanimaram total em continuar a franquia, porém, após diversos roteiros e intermináveis mudanças na história, o último filme da franquia original foi lançado, Halloween 6: A Última Vingança, em 1995. Essa última empreitada conseguiu ser pior o que o filme anterior: a trama é uma bagunça total, a narrativa é cheia de falhas, e colocaram rituais e cultos para justificar do porquê Michael Myers mata as pessoas incansavelmente. A trama é um pouco confusa, mas basicamente mostra Jamie (já adulta ??) fugindo com seu bebê dos sequestradores – os mesmos que levaram Myers no quinto filme -. A criança acaba parando nas mãos de Tommy (Paul Stephen Rudd), o menino que Laurie Strode ficou de babá no primeiro Halloween, e Michael começa a sua matança até encontrá-la. No meio disso tudo, o tio de Laurie Strode está morando na casa onde Michael Myers assassinou sua irmã, e eles acabam se envolvendo nesse mistério.

A primeira parte de Halloween 6: A Última Vingança é bastante promissora, tem toda aquela ambientação de cidade do interior presente no primeiro Halloween, levando grande parte dos acontecimentos para a casa de Michael Myers, onde ele matou sua irmã quando era pequeno. A trilha sonora clássica – não só a música tema – também está presente, e toda essa parte é eficiente na construção do suspense e mistério. Mas é só. Foi válida a tentativa de tirar a franquia da mesmice, ainda mais que o gênero estava se desgastando, mas roteiro de Halloween 6 acabou ficando uma bagunça generalizada porque tenta juntar elementos da história dos outros filmes da franquia, mas não funciona, além de inserir um culto satânico na história para explicar as motivações de Michael e porque ele parece ser imortal. E foi justamente a introdução desse culto que estragou todo o filme. Será que realmente precisava explicar por que Michael Myers é assim? Já em relação as mortes, elas até que são interessantes, e provavelmente tem o maior número de assassinatos da franquia, com bastante sangue, porém, a maioria são genéricas e pouco inspiradas.

Outra confusão no roteiro é em relação aos personagens. A garotinha Jamie cresceu, e agora é interpretada por J.C. Brandy, que está grávida e dá à luz a um menino. Sem muitos spoilers, de alguma forma o recém-nascido acaba parando nas mãos de Tommy Doyle (Paul Rudd em seu primeiro papel no cinema), o garotinho que Laurie Strode ficou de babá no primeiro filme da franquia. O ator faz um Tommy traumatizado com tudo o que aconteceu, e ávido por justiça, além de fazer umas caras e bocas bem estranhas. Foi inserido também um irmão de Laurie Strode, que tem uma família cuja “final girl” da vez é a filha mais velha, Kara Strode (Marianne Hagan) – que também tem um filho, Tim (Keith Bogart), que começa a ouvir vozes da mesma forma que Michael Myers ouvia quando pequeno. Seria ele o próximo assassino? -.

E para completar as referências e ligações com os outros filmes da franquia, também foi introduzido um personagem do primeiro Halloween: a sra. Blankenship, a babá que cuidou de Michael Myers na fatídica noite que ele matou a sua irmã. O retorno desses personagens funciona mais como um “fan service”, porque não acrescenta muito à história. Donald Pleasence, o eterno Dr. Loomis, também retorna para o elenco, em uma das performances mais insonsas do personagem. Infelizmente, o ator acabou falecendo antes de terminar as filmagens.

A sequência final no hospital é ruim, e o desfecho é pior ainda, ganhando ares de ficção e causando uma indignação nos fãs de Michael Myers, que ganha um final indigno para o seu legado. Halloween 6 – A Última Vingança é um filme problemático, o diretor tenta pegar elementos e personagens dos outros filmes, mas acaba tendo ideias criativas ruins, e essa mistura acabou deixando tudo ainda mais confuso, principalmente com a introdução desse tal culto que não faz sentindo algum com os filmes da franquia. Mas Halloween 6 tem seus pontos positivos, como o clima de suspense, alguns assassinatos, e toda a primeira parte – na casa dos Myers e na cidade de Haddonfield – que lembra muito a ambientação dos dois primeiros Halloween. Além disso, o filme já tem aquele clima dos slashers dos anos 90. Moustapha Akkad tinha planejado um sétimo filme para continuar com a saga original de Michael Myers, mas com o fiasco de Halloween 6: A Última Vingança, foi descartado. O próximo seria Halloween H20: Vinte Anos Depois, uma continuação direta de “Halloween 2: O Pesadelo Continua”, ignorando todos os outros filmes da franquia. Uma sábia decisão.