CRÍTICA | HALLOWEEN 2 - O PESADELO CONTINUA

Halloween – A Noite do Terror (1978), de John Carpenter, redefiniu o subgênero slasher, sendo responsável por abrir as portas para os filmes do subgênero lançados na década de 80 até a metade dos anos 90. Já em 1980, impulsionado pelo filme de Carpenter, foi lançado o primeiro exemplar de uma das franquias de terror mais longas e famosas do cinema: Sexta-Feira 13 – Parte 1, trazendo o icônico Jason Vorhees matando adolescentes em Cristal Lake. A diferença crucial de “Friday The 13th” para Halloween, era no quesito de mortes e violência: o número de assassinatos do novo filme era maior e com muito mais sangue.

Três anos depois, em 1981, foi lançado o controverso Halloween II: O Pesadelo Continua, impulsionado pelo sucesso do primeiro Sexta-Feira 13. Sem a direção de John Carpenter (que agora ficou responsável somente pelo roteiro, junto com Debra Hill), e com um orçamento maior (U$2,5 milhões), o segundo capítulo da vingança de Michael Myers traz o retorno de Jamie Lee Curtis e Donald Pleasence, e a trama acontece exatamente de onde o primeiro filme terminou, como se as duas produções fossem uma só. No final do primeiro Halloween, Laurie Strode conseguiu se salvar com a ajuda do Dr. Loomis, que disparou vários tiros em Michael Myers. Porém, o assassino acabou fugindo pela cidade de Haddonfield. Ferida e traumatizada, Laurie é levada para o hospital da cidade onde é atacada novamente pelo psicopata.

Halloween II: O Pesadelo Continua se distancia bastante do primeiro filme, e é a partir daqui que a franquia seguiu os passos das outras produções do gênero: muito mais sangue, maior número de mortes, e a nudez mais explicita. Até chegar no hospital onde Laurie está internada, Michael Myers toca o terror em Haddonfield, acumulando algumas mortes no seu currículo até encontrar Laurie, e o caos se instala nas ruas da cidade. É mostrado também a revolta da população com os assassinatos, exatamente como acontece em Halloween Kills (2021). John Carpenter cede a cadeira de diretor para o novato Rick Rosenthal, que consegue criar um sólido clima de suspense, e perseguições ainda mais intensas, já que o filme se propõe a ser “maior” que o anterior. Não demora muito para Michael Myers chegar no Haddonfield Memorial Hospital, indo atrás da nossa “scream girl” Laurie Strode. Rosenthal explora bem os cenários do local, criando um clima de tensão ainda maior, alguns sustos para animar o espectador, e mortes mais elaboradas e com muito sangue. Uma pena que o assassino não usa a sua faca de cozinha para matar os adolescentes excitados, utilizando outros meios, como afogamento e objetos hospitalares cortantes.

Halloween II tem uma importante reviravolta na trama, algo que talvez nem o próprio John Carpenter tinha pensado quando escreveu e dirigiu o primeiro filme, e que é jogado de forma repentina. Mais para a metade da fita, a enfermeira Marion (Nancy Stephens) revela que Laurie Strode é irmã mais nova de Michael Myers, e é por isso que ele a perseguia o tempo todo. Os indícios só aparecem nesse segundo capítulo, onde a própria Laurie se questiona do porquê da insistência em persegui-la, além de algumas dicas na escola da cidade. Foi uma decisão narrativa que mudaria os rumos que a franquia teria, e teve bastante divergências criativas entre John Carpenter - que não queria fazer mais um filme, e aceitou após escalarem outro diretor - e Rick Rosenthal, que tinha uma ideia diferente da de Carpenter.

Jamie Lee Curtis retorna ao papel que alavancou a sua carreira, mas aqui sua personagem está diferente. Se no original, Laurie se mostra mais forte em enfrentar Michael Myers, em Halloween II ela está “fraca” demais e não se esforça muito para enfrentar o seu irmão, ficando abaixo do nível de uma “final girl” durona. Tudo bem que ela está medicada e aterrorizada com tudo o que aconteceu, mas mesmo assim. Esse seria o último trabalho da atriz na franquia, até Halloween H20, em 1998. Donald Pleasence também retorna ao papel do dr. Loomis, médico psiquiatra do assassino, aqui com um papel mais importante e com mais tempo em tela, e Nancy Stephens também faz uma participação especial mais para o final. Já o icônico Michael Myers retorna para aterrorizar Haddonfield – obvio que voltaria, mas falo isso por que Halloween III, o assassino não retorna (??) -. No primeiro Halloween, dr. Loomis já dizia que Myers não era simplesmente um homem, e sim um monstro imbatível, imprevisível, sem nenhum remorso, e o filme deixa ainda mais claro tudo isso.

Depois de muita correria, mortes, confusão, perseguições, e muito sangue, Halloween II – O Pesadelo Continua termina de uma forma que, supostamente, teria encerrado a franquia – mas obviamente isso não aconteceu -. Pouco antes da explosão, há uma cena arrepiante quando Laurie e dr. Loomis enfrentam Michael Meyers em uma sala: os olhos dele começam a sangrar após levar um tiro no rosto, e a troca de olhares com sua irmã é marcante. Mesmo que algumas escolhas criativas não tenham sido tão boas, Halloween II ainda é melhor do que as sequências seguintes que foram lançadas, que acabaram praticamente sendo uma corrida com outra franquia concorrente, Sexta-Feira 13. As mortes são mais elaboradas – apesar de algumas serem ruins e previsíveis –, são mais violentas, tem mais sangue, mais ação e cenas de perseguição. O suspense genuíno foi trocado pelo típico terror slasher, que se tornou algo comum nos anos 80, focando em algo maior e esquecendo fazer algo realmente bom. Halloween II – O Pesadelo Continua é um filme muito querido pela maioria dos fãs do gênero, e ainda é uma sequência digna do clássico de John Carpenter, apesar dos pesares.