CRÍTICA | GUERRA CIVIL

Guerra Civil, nova produção da famosa produtora A24 e que tem o nosso astro brasileiro Wagner Moura no elenco, é um filme com várias camadas. Apesar da trama falar sobre uma guerra que está assolando os EUA, a produção está mais para um “road movie” do que um filme de guerra em si. O diretor Alex Garland nos leva para uma realidade distopica – mas não impossível de acontecer -, onde acompanhamos um grupo de jornalistas e fotógrafos, Lee Smith (Kristen Dunst), Joel (Wagner Moura), Sammy (Stephen Henderson) e Jessie (Cailee Spaeny), que pretendem atravessar o país até chegar em na capital, Washington DC, para tentar conseguir uma entrevista com o presidente dos EUA, o alvo principal dessa guerra civil. Jesse Plemons e Nick Offerman também estão no elenco.

Logo de início, Guerra Civil nos joga no meio do caos e do horror do conflito que está assolando o país, sem dar muitas explicações sobre os motivos, apenas dando a entender que alguns estados separatistas se rebelaram contra a corrupção do governo americano, e que eles tem como alvo principal o presidente dos EUA. Essa abordagem é bem interessante porque os motivos dessa guerra não é o real objetivo do filme, e sim, mostrar o lado cruel de uma guerra através das lentes de jornalistas e fotógrafos. Com isso, a gente entende que na guerra todos são iguais, cada um tem seus motivos, que os soldados apenas cumprem ordem de seus superiores e muitas vezes nem sabem ou nem entendem os motivos de estarem lutando. E esse conflito todo é deixado de lado em grande parte da projeção, mostrando o grupo atravessando o país e passando por várias situações tensas, ao mesmo tempo que presenciam o horror que a guerra pode causar. E claro, sempre prontos para garantir a foto perfeita. Aqui, o grande destaque é o excelente trabalho de mixagem de som, os tiros, as explosões, soando bastante natural e realista, imergindo ainda mais o espectador na trama. Além disso, a trilha sonora também se destaca ao amenizar a situação após as cenas mais intensas.

Kristen Dunst entrega uma sólida atuação de Lee Smith, uma prestigiada fotógrafa que parece estar abalada e desestabilizada com todas as situações que enfrentou durante a sua carreira. Sem muitas reações – não boas, pelo menos -, Lee acaba sendo um contraponto com o personagem de Wagner Moura, Joel, que que tem um carisma maior, é mais agitado, impulsivo e “fervoroso”. Para os fãs do ator, não espere dele um personagem como o capitão Nascimento de Tropa de Elite. Jessie (Cailee Spaeny) é uma aspirante a fotógrafa que pretende seguir carreira fazendo cobertura de guerras e conflitos, que tem como inspiração a própria Lee Smith, e acaba entrando de metida mesmo nessa perigosa “road trip”, se tornando uma personagem bem carismática e que demonstra realmente ser apaixonada pela fotografia. Completando o grupo, temos o fotografo veterano Sammy (Stephen Henderson), o único que parecer ser o mais “pé no chão” de todos, e a participação de Jesse Plemons como um soldado americano violento, em uma das cenas mais tensas da produção.

Guerra Civil tem seus altos e baixos no roteiro, e provavelmente vai acabar frustrando o espectador que for assistir achando que se trata de um filme guerra, ou um filme de ação no estilo “Invasão à Casa Branca”, mas na verdade é um “road movie” mostrando o caos que uma guerra pode ser. A sequência final é intensa e espetacular, e já vale o ingresso inteiro, fazendo o público se sentir dentro da guerra, como se fossemos aqueles fotógrafos e jornalistas cobrindo esse conflito e acompanhando "cara a cara" os horrores de uma guerra. Não é uma produção que vai revolucionar o cinema, e provavelmente passará mais despercebido nas telonas – não aqui no Brasil, claro, porque temos o nosso astro internacional Wagner Moura no elenco -, mas provavelmente irá se destacar nas partes técnicas das premiações. Abordando outros temas como xenofobia, conflitos políticos, polarização de ideias, além de fazer uma boa reflexão sobre o papel dos jornalistas e fotógrafos em cobrir um intenso conflito como esse, Guerra Civil é um retrato cruel e visceral dos horrores que uma guerra pode causar.