CRÍTICA | FRESH (2022)

Existem alguns filmes bastante polêmicos, daqueles que embrulham o estomago, mas que, na maioria das vezes, sempre tem uma crítica por trás. Para quem quiser se aventurar, 120 Dias de Sodoma, Centopeia Humana, Um Filme Sérvio, Holocausto Canibal, Violência Gratuita, Martyrs, são dicas de produções que nos tiram da zona de conforto, onde algumas foram até proibidas em vários países. Lançado pelo serviço de streaming Hulu ao redor do mundo, e no Brasil, pela Star+, estreia FRESH, filme que pega um assunto bastante polêmico, o canibalismo, fazendo uma mistura de comédia romântica com terror, e apesar do tema, não é tão horrível de se assistir, e está longe de ser polêmico. Mimi Cave faz sua estreia na direção com Fresh, que tem no elenco Sebastian Stan, Daisy Edgar-Jones, Charlotte Lebon, e Jonica T. Gibbs.

Noa (Daisy Edgar-Jones) é uma jovem que nunca se acerta nos relacionamentos, até conhecer o charmoso Steve (Sebastian Stan), com quem acaba se relacionando. Quando eles vão fazer uma viagem juntos, Noa descobre que Steve se envolve com canibalismo, e acaba se tornando prisioneira na luxuosa casa de campo dele.

Fresh não é tão absurdo quanto o esperado, seguindo por um caminho mais discreto do que polêmico, apesar de ser. A trama começa como uma comédia romântica atual, com aplicativos de relacionamento, encontros e as dificuldades, para depois, seguir para o thriller psicológico, e o canibalismo. Fresh não tem cenas gore, não vemos os desmembramentos, amputações, e nem o desespero das vítimas, onde tudo fica subintendido para o público. Os personagens comem carne humana, mas os pratos ficam tão ajeitadinhos que parece ser uma carne comum, e ainda causa uma certa repugnância na gente. Mimi Cave traz um detalhe interessante, mas bizarro: o zoom nas bocas dos personagens quando eles estão comendo, que dá um toque mais trash ao filme, mas que está dentro da proposta.

Daisy Edgar-Jones e Sebastian Stan são os protagonistas de Fresh, competentes nas atuações, com uma boa química juntos, resultando em uma dinâmica bem interessante, principalmente quando envolve o jogo de gato e rato, entre seduções, jantares, e longas conversas sobre canibalismo, prendendo a atenção do público na trama. Sebastian Stan, saído diretamente do universo da Marvel, faz um serial killer apático, cheio de segredos, demonstrando toda a monstruosidade de Steve de uma forma bem convincente, e Daisy faz uma personagem frágil, mas determinada, com uma boa reviravolta, principalmente no final. Ainda no elenco, tem Jonica T. Gibbs, que faz o clichê da amiga que avisou sobre o novo namorado ser psicopata, e acaba se metendo em uma grande furada.

O terceiro ato foge da proposta de canibalismo, mas tem as cenas mais violentas da produção, com muito embate e perseguição; é a vingança da protagonista. O maior erro de Fresh é por não ousar, não se aprofundar mais no canibalismo, com as cenas gore, violentas, e muito sangue, que causaria uma revolta no espectador, onde tudo fica subjetivo para o publico entender; mas muitas vezes funciona. Mimi Cave ainda da um passo adiante, e mostra que o canibalismo é uma coisa recorrente, pelo menos nos filmes, mostrando outros personagens com esse vício, e se focasse também por esse caminho, causaria mais polêmica, e estaria dentro da proposta do filme. Há uma cena extra no meio dos créditos que mostra bem como poderia ter sido explorado. No fim, Fresh é um filme interessante, com bastante suspense, abordando um assunto polêmico, mas visualmente não é tanto como se propõe, tem reviravoltas, segredos, sangue, e a violência no final, mas não segue a linha dos filmes que eu citei no início, e não entraria nas listas dos filmes mais polêmicos do cinema. É uma produção fácil de assistir, e está longe de ser tão perturbador quanto parece, levando em consideração o tema.