CRÍTICA | FALE COMIGO

O gênero do terror é um dos mais populares do cinema, mas nem sempre entregam ótimos lançamentos; alguns são genéricos, repetitivos, e geralmente são continuações ou refilmagens. Parece que falta ideia em Hollywood. Mas algumas vezes o gênero nos surpreende, e uma produtora em especial tem parcela de culpa nisso, a A24: “Morte! Morte! Morte!”, X- A Marca da Morte e Pearl são as mais recentes produções do estúdio. Agora, é a vez de Fale Comigo trilhar seu caminho nos cinemas. O terror é o queridinho de 2023, conquistou a crítica especializada, debutou com mais de 90% de aprovação, e é considerado um dos melhores filmes do gênero do ano. Misturando terror psicológico e toques sobrenaturais, a trama de Talk To Me, no original, acompanha um grupo de amigos que se reúnem algumas vezes para invocar os mortos. Para isso, eles usam uma mão embalsamada, falam algumas palavras, e são possuídos por algum espírito aleatório – mas a possessão não pode passar dos 90 segundos, e é preciso apagar a vela no final -. Em uma dessas possessões, eles ultrapassam o tempo limite, trazendo consequências graves para todos.

Fale Comigo já começa de forma tensa e chocante, e aos poucos, vai mostrando que é sim um grande diferencial entre os lançamentos genéricos do gênero. Ao invés de tabuleiros de ouija para se comunicar com os mortos, aqui eles usam uma mão misteriosa. O longa também foge dos clichês das produções de possessão – exorcismos, crucifixos, padres -, apostando em uma crítica social discreta, e em uma história carregada no drama, tocando em assuntos como traumas, saúde mental, vícios e luto. Isso é um ponto positivo, porque além de ser um diferencial no gênero, acaba envolvendo mais o público com os acontecimentos. A tensão vai crescendo à medida que a trama avança, e os irmãos Danny e Michael Philippou, os diretores do filme, conseguem manter o ritmo assustador e macabro o tempo todo, com algumas situações que vão chocar o público, além de optarem por não usar os famosos “sustos fáceis”, comum entre as produções de terror mais comerciais, como A Freira e Invocação do Mal.

A trama acompanha um grupo de amigos que se reúnem para invocar espíritos, porém, o foco principal é as amigas Mia (Sophie Wilde) e Jade (Alexandra Jensen), e o seu irmão caçula, Riley (Joe Bird). Sophie é a que mais se destaca, dando uma profundidade e intensidade a sua personagem, e carregando praticamente toda a carga dramática do filme: além de passar por situações pesadas por ter invocado os espíritos, Mia sofre de depressão pelo suicídio de sua mãe. Alexandra Jensen faz o papel da amiga politicamente correta – mas não tanto -, que tem uma mãe controladora, interpretada pela veterana Miranda Otto, além de cuidar de seu irmão, Riley, que passa pelas situações mais chocantes do longa. Os outros personagens do grupo de amigos não se destacam tanto, mas acabam servindo para uma reflexão: a necessidade da “geração Z” em filmar e fotografar qualquer situação. Nas cenas de possessão em que alguém parece estar em perigo, ao invés de ajudá-lo, eles se preocupam em gravar a situação.

Fale Comigo com certeza se destaca entre os melhores filmes de terror lançados em 2023, trazendo uma trama de possessão inovadora, com um clima pesado e macabro que se estende até o final. Além disso, é eficiente em abordar críticas sociais relevantes e misturar com elementos de terror sem parecer clichê, repetitivo, ou querer dar uma lição de moral. A trama é envolvente, cheia de mistérios, cenas brutais e pesadas, consegue dosar o terror psicológico com o sobrenatural perfeitamente, e conta com um final que pode dividir a opinião dos fãs do gênero: é simples, mas chocante de certa forma, além de combinar perfeitamente com a proposta do filme.