Duna é um romance de ficção científica escrito por Frank Herbert (1920-1986) e que foi publicado em 1965. Muitos não devem saber, mas a maioria dos filmes de ficção foram inspirados nessa magnifica obra de 680 páginas, que já foi adaptado inúmeras vezes para as telas do cinema e da TV. Em 2021, o visionário diretor Dennis Villeneuve nos apresentou esse incrível universo em Duna – Parte 1, estrelado por Timothée Chalamet, contando com vários detalhes sobre as casas Harknonnen, a Casa Artreides – e a trama política envolvendo o domínio do planeta Arrakis -, a apresentação do próprio planeta Arakis, tomado por um deserto escaldante e rico em uma especiaria raríssimae, os Fremen (habitantes do planeta, o povo do deserto), e a “história de origem” de Paul Atreides (Timothée Chalamet). A primeira parte tinha um ritmo mais lento, até porque se tratava de uma introdução a esse universo, mais explicação do que cenas de ação, mas não era um filme ruim, pelo contrário, e ainda foi vencedor de 06 Oscars.
Agora temos Duna – Parte 2, que começa exatamente onde a parte um terminou: Paul e sua mãe, Lady Jessica (Rebecca Fergusson), se encontrando com o povo do planeta Arrakis, os Fremen. O diretor Dennis Villeneuve sabe que o espectador já assistiu a parte um, e que já está familiarizado com o universo de Duna, então, essa segunda parte acaba sendo mais dinâmica, focando na jornada de Paul Atreides em vingar a morte do seu pai. Na trama, Paul está refugiado com os Fremen, que acreditam na vinda de um Messias (no caso, o próprio Paul Atreides), que os guiará para a salvação. E para conseguir a sua vingança, ele precisará aprender os hábitos e costumes do povo do deserto. Zendaya, Josh Brolin, Austin Butler, Javier Bardem, Stellan Skarsgård, Dave Bautista, Florence Pugh, Lá Seydoux, e Christopher Walken também estão no elenco.
Duna – Parte 2 deu uma boa melhorada no ritmo da trama, tem mais reviravoltas, mais cenas de ação, mais emoção, e ainda consegue ser mais interessante – principalmente porque Paul Atreides começa a aprender os hábitos dos Fremen, enquanto os integrantes da casa Harknonnen planejam vários ataques em Arrakis -. Villeneuve vai direto no foco principal da trama, não tem muita explicação sobre esse universo distópico (ainda tem seus momentos mais calmos), mas assim como a parte um, o filme precisa de uma atenção maior do público, já que se trata de uma história muito complexa, com muitos detalhes e vários assuntos importantes para serem tratados. O roteiro faz ainda uma interessante analogia entre a religião (a vinda do Messias) e o ceticismo (o próprio povo do deserto tem que ir atrás da sua liberdade), além de ter mais tempo para desenvolver o romance entre Paul e Chani – personagem de Zendaya -, e a relação entre o protagonista e o povo do deserto.
Uma das coisas que mais chama a atenção nos filmes franquia é a fotografia e a direção de arte, uma mistura de cenários futuristas com cenários do passado, além das mais variadas cores para cada lugar. Em Duna – Parte 2, alguns cenários mostram a grandiosidade daquele mundo, como os templos do povo do deserto e o planeta dos Harkonnen, que é mostrando em escala cinza (evidenciando que eles são o mal). Mas é o escaldante deserto de Arrakis o grande destaque da produção, as sequências ao pôr-do-sol, os eclipses, as cenas dos embates, até os vermes embaixo da areia, tudo impecável e com efeitos especiais de primeira linha. O deserto ganha vida, e a experiência é muito melhor se assistir em IMAX, já que o formato valoriza muito os cenários. E se você não sabe a importância do som em um filme, Duna – Parte 2 é o exemplo perfeito para entender. Desde a trilha sonora marcante, o tema da franquia, até os efeitos sonoros, - o barulho das naves, dos vermes “nadando” nas areias do deserto, o próprio deserto em si, o barulho dos aparelhos que os Fremen colocam na areia para chamar as criaturas -, tudo faz parte da produção, tudo tem importância e fazem você imergir na trama ainda mais, ajudando também nos momentos mais tensos, garantindo a melhor experiência que você terá. E assim como aconteceu com o capitulo 1, a sequência provavelmente irá ganhar vários prêmios na parte técnica.
Sem uma introdução maior ao universo de Duna, o roteiro pôde trabalhar melhor no desenvolvimento dos personagens e seus arcos dramáticos. Apesar disso, Duna – Parte 2 tem muito mais personagens que o primeiro, e alguns deles tiveram um desenvolvimento menor, e mereciam ter mais destaque na trama. Aqui, temos a ascensão do protagonista, Paul Atreides, interpretado por Timothée Chalamet, onde o ator demonstra uma grande evolução em relação a parte um, se saindo bem tanto nas sequencias de luta quanto nos diálogos para liderar o povo do deserto. Parece que ele se conectou ainda mais com o personagem, conseguindo passar para o público o drama do protagonista – ser o tal “Messias” que os Fremen tanto querem, o que pode trazer graves consequências para o futuro de todos, inclusive para ele mesmo -. Na parte um, a personagem de Zendaya, Cheni, apareceu muito pouco, principalmente nas visões de Paul, e na cena final, mas agora ela tem um destaque maior na trama. O seu romance com Paul ganha mais desenvolvimento – que já dava indícios na parte um -, e apesar do destaque e da impressionante interpretação de sua personagem, a atriz acaba ficando ofuscada pelas limitações do roteiro, mas quem sabe na terceira parte?
Outro personagem marcante em Duna – Parte 2 é o herdeiro da casa Harkonnen, Feyd-Rautha, interpretado por Austin Butler. Por trás de uma maquiagem impecável, o ator marca presença sempre que aparece, com um tom mais intimidador, mas que fica muito na insinuação das suas ameaças, o que não reduz o impacto de suas ações, claro. O problema aqui é que o personagem ganha pouco tempo em tela, poderia aparecer mais tempo para mostrar a sua liderança, já que ele faz um contraponto com Paul Atreides, um antagonista que desafia o herói – o embate entre eles na sequência final é de arrepiar -. Os outros personagens ganham menos tempo em tela, e consequentemente tem desenvolvimentos menores. É o caso de Florence Pugh e sua personagem, a princesa Iurlan, que carrega um peso dramático profundo que provavelmente será mais explorado na terceira parte. Istilgar, interpretado por Javier Bardem, tem papel muito importante para a ascensão de Paul, assim como Gurney Halleck, o antigo mentor do protagonista, interpretado por Josh Brolin, que retorna para a história. E até grandes nomes do cinema, como Stellan Skarsgård (o Barão Vladimir Harkonnen), Christopher Walken (o imperador da casa Corrino, Shadam IV), ganham pouco desenvolvimento, e até a atriz francesa Léa Seydoux, que interpreta a misteriosa Lady Margot – da casa Corrino -, parece que todos eles estão no elenco só pela reputação mesmo. Uma pena, mas quem sabe ganham mais profundidade no terceiro capítulo?
Por fim, Duna – Parte 2 é um marco da ficção cientifica, espetacular em todos os sentidos, seja na parte técnica, na trama, na introdução desse novo universo, a cultura dos povos, a sua religião, tudo é muito cuidadoso, trabalhado e detalhado. A jornada de ascensão do herói não é muito diferente das outras, mas aqui na franquia acaba se tornando “A” jornada do herói, e não “uma jornada qualquer”, influenciado por esse rico e impressionante universo de Duna. E com os magníficos cenários, a trilha sonora impecável, e o ótimo desenvolvimento da trama e da maioria dos personagens, fazem do segundo capítulo de Duna um épico em grande escala, um dos mais importantes filmes de ficção do cinema, junto com a parte 1, claro.
DUNA - PARTE 2 (DUNE - PART 2)
Ano: 2024
Direção: Dennis Villeneuve
Distribuidora: Warner Bros.
Duração: 166 min
Elenco: Timothée Chalamet, Rebecca Fergusson, Zendaya, Josh Brolin, Austin Butler, Javier Bardem, Stellan Skarsgård, Dave Bautista, Florence Pugh, Lá Seydoux, e Christopher Walken
NOTA: 9,5
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