Os filmes de “serial killers”, assassinos em série, são os mais interessantes do gênero suspense, pois levam o espectador a investigar o crime junto com os detetives. O Silencio dos Inocentes, Seven, e Copycat – A Vida Imita a Morte, dos anos 90, e Zodíaco, dos anos 2000, são ótimas dicas para assistir. Eis então, que temos esse Cálculo Mortal, estrelado por Sandra Bullock, baseado em um crime ocorrido em 1924, cometido pelos jovens Nathan Leopold e Richard Loeb (que assassinaram um jovem de 14 anos), e que acabou inspirando Alfred Hitchcock a dirigir o seu clássico Festim Diabólico, em 1948. Dirigido por Barbet Schroeder, Cálculo Mortal é um dos mais interessantes filmes do gênero, e tem no elenco Ryan Gosling, Michael Pitt, Ben Chaplin, e Agnes Bruckner.
A detetive Cassie Mayweather (Sandra Bullock), junto com o seu parceiro, Sam (Ben Chaplin), está investigando um assassinato, e as pistas levam a dois adolescentes, Justin Haywood (Michael Pitt), e Richard Pendleton (Ryan Gosling), os responsáveis pelo crime, que foi cuidadosamente planejado.
Cálculo Mortal funciona mais como um “estudo dos personagens” do que uma trama policial em si, onde o diferencial é que sabemos quem são os assassinos, e a trama se desenvolve em como Cassie irá chegar até eles. O filme de Barbet Schroeder, que havia dirigido suspense Mulher Solteira Procura, em 1992, tem o ritmo lento, mas conta com uma trama investigativa bem interessante, quase que uma “aula sobre crimes”, onde aprendemos sobre o trabalho policial, com muito mistério, e um quebra-cabeças onde o público tenta resolver junto com a detetive. O roteiro se sustenta muito nos diálogos inteligentes, tanto da investigação, quanto no jogo psicológico, onde os melhores acontecem entre os dois jovens criminosos, Justin e Richard, quase que um duelo intelectual, e sempre deixando o lado emocional deles transparecer. Um destaque é o local onde a dupla arquiteta os seus planos, uma casa afastada, à beira de um penhasco, dando um clima mais macabro para as cenas, palco de um terceiro ato bem intenso.
O principal foco do roteiro de Tony Gayton são os personagens, muito bem construídos, e cada um com sua individualidade. Michael Pitt e Ryan Gosling, ainda desconhecidos na época do lançamento, interpretam os assassinos, inteligentes e arrogantes, com personalidades completamente diferentes, mas que se completam, principalmente em relação ao crime. Justin é tímido, e esquisito, mas tem uma mente brilhante capaz de planejar o crime perfeito, e Richard é do tipo bonitão, popular, rico e arrogante, capaz de manipular as pessoas, e frio o suficiente para executar o plano. Ambos estão incríveis em seus papéis. O plano da dupla era perfeito, até a personagem de Sandra Bullock assumir o caso. Cassie é uma excelente policial, confia nos seus palpites, e sabe lidar com o machismo de seus colegas, fazendo a típica policial durona, e reservada, com um trauma no passado, clichê básico do gênero, definindo a sua personalidade. Bullock entrega uma excelente atuação, e o ponto alto da trama é quando ela interage com Justin e Richard.
Cálculo Mortal é um filme com menos ação, e mais suspense, focando na construção dos personagens, que é importante para a solução do crime, assim como os diálogos inteligentes. Com um desfecho interessante em uma casa em um penhasco a beira-mar, que mencionei antes, e um lindo pôr-do-sol como plano de fundo, Barbet Schroeder faz uma das mais interessantes produções sobre “serial killers”, com ótimas atuações de todo o elenco, e uma reviravolta no final; preste bem atenção nos diálogos. Falta um pouco de tensão, e alguns erros e clichês, mas que passam despercebidos, e é uma produção de alto nível. O crime é perfeito, os assassinos são inteligentes. Mas será que eles cometeriam alguma falha?
CÁLCULO MORTAL (MURDER BY NUMBERS)
Ano: 2002
Direção: Barbet Schroeder
Elenco: Sandra Bullock, Ryan Gosling, Michael Pitt, Ben Chaplin, e Agnes Bruckner.
NOTA: 9,0
Disponível na AMAZON PRIME para aluguel.
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