O autor Stephen King é um dos que tem suas obras mais exploradas por Hollywood. E não é por menos: suas histórias são assustadoras, chocantes, inimagináveis e com muito terror, criando clássicos como IT e O Iluminado, e claro, não somente contos de terror. Cemitério Maldito é considerado sua obra mais assustadora e sombria, na qual teve uma adaptação em 1989, pela diretora Mary Lambert, uma produção mais “trash” que se tornou um clássico cult do cinema. Seguindo a sua mania de fazer refilmagens, Hollywood percebeu que com IT – A Coisa, de 2017, Stephen King estava retornando aos nomes do momento, no cinema, e decidiu dar o sinal verde para fazer uma nova versão de Cemitério Maldito. Agora, coube aos diretores Dennis Widmyer e Kevin Kölsch a trazer uma nova versão da história para apresentar ao público atual. No elenco estão Amy Seimetz, Jason Clarke, John Lithgow e a garotinha Jeté Laurence.
A premissa desse novo Cemitério Maldito é a mesma do filme de 1989, uma família se muda para uma casa de afastada das grandes cidades, que existe um cemitério de animais onde as crianças enterram seus amados pets. Louis Credd (Jason Clarke) descobre que além desse cemitério, existe um outro cuja a passagem é proibida, já que se você enterrar alguém lá, ele retorna à vida, mas não da mesma forma como era.
Apesar de seguir o mesmo enredo do filme da diretora Mary Lambert, muitas mudanças significativas aconteceram, o que deixará muitos fãs divididos. A história se desenrola gradativamente à medida que o filme vai apresentando o tal cemitério de animais, e quando os desastres acontecem, para que o público possa entender melhor o horror que estar por vir. O roteiro de Jeff Buhler, Matt Greenberg, introduz assuntos como crenças, mortes e as consequências, temas típicos em filmes dessa temática, mas não o aprofundam completamente. Talvez, porque a ideia do filme não é dar sustos, mas sim, ficar horrorizado, causar um impacto e criar um clima de medo no público. Nesse quesito, a versão original consegue fazer melhor.
A ambientação tem um papel importante passar esse clima de medo, com cenários cercados por florestas e casas rusticas no meio do nada. Há alguns exageros na produção, que são comuns em filmes desse gênero, principalmente na versão antiga, mas que não tem como deixar batido. A parte da floresta onde é proibido o acesso, que traz os seres vivos mortos de volta a vida, é exagerado e dramático demais, parecendo aqueles cenários do inferno vistos nos filmes O Portão, de 1987 e na continuação de 1990. A intenção era dar um toque mais sombrio, mas acabou ficando fantasioso demais; diferente do original, que dá uma sensação de medo bem maior por parecer mais real.
Em filmes de terror, obviamente não esperamos grandes atuações que possam ser indicadas ao Oscar, salvo alguns filmes, mas no mínimo, os atores devem convencer e fazer com que o público abrace o drama do personagem. O acerto mais próximo é da personagem Rachel, interpretada pela atriz Amy Seimetz, que tem um trauma no passado de sua irmã, a famosa Zelda. Conseguimos sentir o medo de sua personagem, as suas reações diante os acontecimentos no filme, e do por quê ela não consegue lidar com a morte. Jason Clarke é Louis Creed, marido de Rachel e pai de duas crianças, no qual não torcemos para que ele se de bem, diante das suas atitudes. O ator não se entrega totalmente no personagem, e não sentimos o drama e toda a sua reação no terceiro ato. Talvez seja porque o roteiro não explore o conflito pessoal dele, e sua ideia da morte.
Quem rouba a cena é a atriz mirim Jeté Laurence, que interpreta a filha mais velha, que transmite a sua inocência e carisma, e se sai muito bem nas cenas tensas do ato final. John Lithgow é Judd, o senhor que sempre morou na cidade e que apresenta o tal cemitério para Louis. O personagem da versão original é mais aproveitado e tem mais carisma que o de Lithgow, mas o ator consegue o necessário diante das limitações. E não podia deixar de comentar sobre a personagem Zelda (a irmã de Rachel), que nessa nova versão, ela não está nem um pouco assustadora, diferente da original, que causou muitos pesadelos em um monte de gente.
As mudanças desse novo Cemitério Maldito são bem visíveis, algumas aceitáveis, e outras que acabaram perdendo todo o charme e a tensão, além do ato final, totalmente diferente do filme de 1989, e muito distante também da obra de Stephen king. Sinceramente, ficou bem ruim, apesar de ter feito sentindo com os rumos dessa nova adaptação, e de causar um certo impacto, que aqui é negativo, mas causou. Dennis Widmyer e Kevin Kölsch dão uma grande repaginada na obra de King, criando uma atmosfera bem assustadora que foca mais em manter a tensão e ser mais sombrio, do que dar sustos fáceis. O enredo não é enrolado, apesar de ser grande, mas é porque bastante coisas acontecem na trama, e consegue prender a atenção do público. Se você acabou vendo a versão original, vai achar esse novo filme bem inferior, e vale a pena assistir as duas versões para comparar.
CEMITÉRIO MALDITO (PET SEMATARY)
Ano: 2019
Direção: Dennis Widmyer e Kevin Kölsch
Elenco: Amy Seimetz, Jason Clarke, John Lithgow e Jeté Laurence.
NOTA: 7,0
Disponível na NETFLIX.
Comments