CRÍTICA | BELFAST

Vencedor do Oscar de Melhor Roteiro Original

Vencedor de vários prêmios no Festival de Toronto, em 2021, e um dos mais queridinhos pela crítica, Belfast é um retrato sobre a capital da Irlanda do Norte, Belfast, em uma época de conflitos políticos e sociais entre católicos e protestantes, no final dos anos 60. Dirigido por Kenneth Branagh, a produção é inspirada na própria infância do diretor, que também nasceu em Belfast, presenciando alguns desses conflitos, e está indicado a sete Oscar, incluindo melhor filme. No elenco estão Jamie Dornan, Caitriona Balfe, Judi Dench, Ciarán Hinds e Jude Hill.

Na trama, acompanhamos os acontecimentos a partir da visão do pequeno Buddy (Jude Hill), que vive em um bairro em Belfast, onde sua comunidade enfrenta graves conflitos, incluindo brigas, ataques e destruições. O roteiro é bem simples, e aos poucos, esses tristes eventos vão acontecendo, ao mesmo tempo que Buddy, sua família, e seus amigos, vivem normalmente na cidade, apesar de tudo. Branagh nos apresenta um drama familiar tocante sobre amadurecimento, tolerância, e sobrevivência, e são as situações mais simples do cotidiano que marcam, como se fossem uma válvula de escape para todos os conflitos que os personagens estão passando. É interessante como o diretor optou por filmar a produção toda quase que preto e branco, especificando a situação em que Belfast está passando, onde as cenas coloridas são apenas mostradas quando os protagonistas vão para o cinema, que são as situações fora da cidade.

O grande destaque é Jude Hill, que interpreta o carismático Buddy, conseguindo transmitir toda a ingenuidade do personagem no meio dos conflitos, mostrando as preocupações da juventude, da escola, do primeiro amor, crescimento, e as mudanças necessárias para o atual momento em que vive, cativando o espectador logo de cara. Ele vive com seu irmão, Will (Lewis McAskie), sua mãe, interpretada por Caitriona Balfe, contrapondo muito bem o drama pessoal que vive com sua família, e a criação de seus filhos no meio dos conflitos, e que acaba cuidando sozinha deles por conta das viagens de trabalho de seu marido, interpretado por Jamie Dornan, o Christian Grey de Cinquenta Tons de Cinza. O ator faz uma figura complexa, um pai ausente, mas sempre disponível quando está em casa, e atento com tudo o que acontece. Buddy tem uma boa relação com seus avós, interpretados por Judi Dench e Ciarán Hinds, ambos indicados ao Ocar nas categorias atriz e ator coadjuvantes, respectivamente. Não há nada de extraordinário nas atuações, mas é na simplicidade que o casal nos comove, dando conselhos para o garotinho, fazendo exatamente o que os avós fazem, tudo de forma incrivelmente natural.

Belfast é uma produção simples, mas que tem muita coisa para mostrar. É uma história sobre família, sobre crescer em uma época de conflitos onde o perigo sempre está batendo a sua porta, e mesmo assim, viver normalmente como se nada estivesse acontecendo. E tudo isso a partir doce olhar de uma criança, cheio de inocência e vontade de viver, época de boas lembranças onde a vida era mais simples, mesmo com os conflitos sociais que o roteiro nos apresenta. É um filme sobre o dia a dia das pessoas da cidade, e nada mais. Além de Kenneth Branagh, o ator Ciarán Hinds também cresceu em Belfast.