Batman é um dos maiores personagens das HQ’s, o maior herói da DC, e provavelmente, o que mais teve adaptações para o cinema, com um total de nove filmes solo (incluindo o último com Robert Pattinson), fora as aparições em outros filmes do universo cinematográfico da DC. No finalzinho dos anos 80, em 1989, o herói fazia sua segunda aparição no cinema, mas a primeira da “nova era” do homem morcego, com Batman, dirigido por um Tim Burton novinho. A produção foi um enorme sucesso de bilheteria, faturando U$ 411 milhões, um valor muito alto para os anos 80, se tornando um fenômeno em todos os sentidos. Burton deixou sua marca no filme, um estilo mais gótico, mas ainda não tinha uma liberdade criativa maior. Se vermos os filmes do Batman dos anos 90, a diferença é enorme se comparado com os filmes atuais, onde tudo é mais bobo, mais caótico, e não tem os grandes embates entre Batman e os vilões (principalmente se comparar com os filmes de Christopher Nolan).
Hollywood, e a DC, viram o potencial que o homem morcego tinha, e com a enorme bilheteria do primeiro, decidiram fazer uma continuação, lançada em 1992, Batman – O Retorno. Os produtores queriam o retorno de Tim Burton na direção, mas ele não queria voltar, porém, acabou cedendo com uma condição: o diretor podia fazer da forma que ele quisesse. Nessa época, não haviam muitos filmes do estilo Tim Burton, (Edward – Mão de Tesoura acabou sendo um clássico na época), mas hoje em dia, é cada vez mais visível as características dos seus filmes em Batman – O Retorno. Ainda mais gótico e sombrio que o primeiro, e com várias referências a filmes da época do expressionismo, Burton nos entregava um longa melhor, mas acabou não agradando muito a critica por causa do tom que o diretor usou. O elenco conta com Michael Keaton (que retorna na pele do herói), Michelle Pfeiffer, Danny DeVito, Christopher Walken, e Michael Gough.
Batman – O Retorno é um pouco confuso, mas simplificando, a trama se passa durante o natal, com o pinguim (Danny DeVito) sendo a nova ameaça à Gotham City, que conta com a ajuda do empresário Max Shreck (Christopher Walken), e da mulher-gato/Selina Kyle (Michelle Pfeiffer). Agora, Batman precisa impedir que o Pinguim, e os outros vilões, tornem a cidade em um caos total. Tim Burton faz um filme mais ágil e dinâmico que o primeiro, trazendo uma trama mais sombria e com mais drama, pegando referências de alguns episódios antigos das HQ’s. O que mais chama atenção é o visual da produção: esteticamente belo, Gothan City foi toda criada dentro de um estúdio, bem mais gótica do que o filme de 1989, uma história de natal gótica, como falaram na época, bem no estilo de Burton, desde os cenários, a neve, e até os enfeites de Natal espalhados pela cidade; quase um filme de terror.
Michael Keaton retorna como Batman, aparecendo mais do que antes, mas ele passa a sensação de que está cansado, e entediado, de ser o herói, apesar de que o personagem também parece estar da mesma forma, sempre esperando que o chamem para alguma missão, e acaba deixando-o desinteressante. Mas são os vilões que acabam se destacando mais que o homem morcego, ganhando um destaque maior na trama, e seus dramas são muito bem desenvolvidos. Os vilões têm motivações – o pinguim de Danny DeVito foi abandonado pelos pais, e cresceu no esgoto; a Mulher-Gato de Michelle Pfeiffer é menosprezada por todos, principalmente pelo seu chefe, Max Shreck (Christopher Walken) -, onde eles têm muito mais relevância, e acabam se tornando mais humanizados. Personagens bizarros, e diferentes, é uma das especialidades de Tim Burton, que tinha recém vindo de Edward – Mãos de Tesoura, além de outros personagens exóticos que viriam depois.
Danny DeVito está tenebroso como Pinguim, graças a eficiente maquiagem, claramente inspirada em filmes expressionistas, como O Gabinete do Dr. Cagliari, e até Nosferatu; aliás, uma das duas indicações ao Oscar é a de maquiagem. Vale ressaltar que o Pinguim desse filme é diferente das HQ’s – um poderoso gangster -, aqui ele foi abandonado e rejeitado, crescendo com ódio e vingança. Michelle Pfeiffer está incrível no papel da Mulher-Gato, que de uma tímida secretária, ignorada por todos, e vivendo entre homens machistas, se torna uma vilã doida e poderosa que usa roupas justas, personificando a sua sensualidade, fato que sempre esteve presente em personagens femininas nas HQ’s. Extremamente caricata, o seu drama é muito bem explorado pelo roteiro, e ela acaba se sentindo mais livre ao se tornar a Mulher-Gato. Porém, o verdadeiro vilão é Max Schreck, interpretado pelo ótimo Christopher Walken, um magnata poderoso e cruel que aproveita o drama do Pinguim para seu próprio benefício.
Batman – O Retorno não teve o mesmo sucesso financeiro que o filme de 1989, faturando U$ 270 milhões nas bilheterias mundiais, apesar de ainda ser um valor significativo para a época, mas é considerado um dos melhores da franquia do herói, ainda mais se levar em consideração os medianos Batman Eternamente (1995), e Batman e Robin (1997), ambos dirigidos por Joel Schumacher. Pensando assim, da para dizer que Tim Burton foi injustiçado quando tiraram ele da direção, já que ele tinha ideias para um terceiro filme do herói. Batman – O Retorno é um filme de super-herói de Burton, trazendo uma atmosfera mais gótica, sombria, e melancólica, elementos que seriam uma marca registrada do diretor, e principais fatores que o tornaria um renomado cineasta, e que serviriam de inspiração para os futuros filmes da DC, principalmente os de agora. Com personagens caóticos, complexos e fortes, uma trama mais elaborada, e um tom mais cômico, Tim Burton deixou o seu legado na franquia do homem-morcego, tanto o Batman dos anos 80, quanto O Retorno. E realmente, o tom abordado nesses filmes é muito diferente das mais recentes produções do herói, que acabam sendo mais sérias, e muitas vezes, apelativas.
BATMAN - O RETORNO (BATMAN RETURNS)
Ano: 1992
Direção: Tim Burton
Elenco: Michael Keaton, Danny DeVito, Michelle Pfeiffer, Christopher Walken, e Michael Gough.
NOTA: 8,5
Disponível na HBO MAX.
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